Todos nós vamos pagar o preço e, por isso, não podemos cair na cegueira política.
O pós-discurso do presidente da República Jair Bolsonaro mediu a divisão de forças e opiniões existentes no país. Seu pronunciamento se propagou mais rápido que o próprio coronavírus. A população, no meio de tudo, já não sabe o que fazer ou a quem obedecer.
Afinal, vou com o presidente, com o governador do meu Estado ou com o prefeito da minha cidade?
Quem tem razão?
O presidente Bolsonaro tem uma certa razão e coerência ao se preocupar com o caos econômico que se aproxima, no entanto, peca quando "chuta o balde" no que concerne às prevenções e, sobretudo, quando menospreza o vírus que está ceifando milhares de vidas.
Já os governadores acertam quando incentivam o isolamento social, mas se equivocam quando fecham completamente as divisas dos estados, impedindo a passagem, até mesmo, de remédios e equipamentos médicos; os prefeitos também fazem o que podem!
Entre a cruz e a espada
Mas e a população, a grande massa? Dividida ao extremo. Os servidores públicos sabem que, mesmo em quarentena, terão seus salários no fim do mês, garantidos pelos cofres públicos.
Mas, e aquelas pessoas que vivem do comércio de bens ou serviços ou na informalidade, como milhões de brasileiros? Sob o risco da demissão ou falta do mínimo para sobreviver, se assustam e ficam 'entre a cruz e a espada'.
Caso não haja isolamento, muitos sucumbirão. Todavia, o que dizer do período pós-quarentena, quando outros poderão morrer em condições miseráveis, por fome ou por outras doenças, depressão, suicídio, etc.?
O que dizer do aumento da criminalidade, que assustará a todos sem distinção, quando o ápice da recessão chegar?
Definitivamente, não é fácil se posicionar, visto que em ambas as pontas há argumentos positivos e, também, negativos.
Enquanto seres políticos que somos – mesmo sem querer – temos a tendência de tomar partido, ficando do lado 'A', 'B' ou numa terceira via. Aplaudimos algumas ideias e vaiamos outras. Porém, independentemente da posição que adotarmos neste momento ou daquela que nos for mais conveniente – a bomba vai estourar nas nossas próprias mãos. Todos nós vamos pagar o preço e, por isso, não podemos cair na cegueira política.
Acordo e bom senso, o melhor remédio
Não sejamos ingênuos: em pouco tempo, até mesmo os serviços essenciais – definidos pelos decretos – não terão condições de continuar sem os produtos e mão-de-obra, considerados pelo mesmo decreto, "não essencial". O que fazer?
Tudo isso acaba por gerar um dilema interminável. Por isso, ou se estabelece um consenso ou vamos todos, do mendigo ao presidente, sucumbir.