Apenas três deputadas ocuparam cadeiras na Aleto, revelando um cenário de exclusão feminina.
Notícias do Tocantins - Enquanto a Assembleia Legislativa do Tocantins (Aleto) promove cerimônias para homenagear as mulheres, a realidade política do estado expõe uma contradição gritante: das 24 cadeiras do parlamento, apenas três são ocupadas por mulheres. Janad Valcari (PL), Cláudia Lelis (PV) e Vanda Monteiro (UB) representam apenas 12,5% da composição legislativa, um índice muito abaixo do ideal para garantir uma participação equitativa na tomada de decisões.
Apesar dos discursos sobre empoderamento e igualdade de gênero, a presença feminina segue limitada, refletindo um problema estrutural na política tocantinense
A baixa representatividade feminina na Aleto não é um acaso, mas o resultado de obstáculos como a falta de apoio partidário, o machismo estrutural e a violência política de gênero. Muitos partidos lançam candidaturas apenas para cumprir a cota mínima de 30%, sem oferecer suporte real. Além disso, mulheres que entram na disputa enfrentam ataques, difamação e descaso social, fatores que contribuem para suas poucas chances de sucesso eleitoral.
Enquanto a Assembleia Legislativa mantém um índice de participação feminina extremamente baixo, a Câmara Municipal de Palmas apresenta um cenário relativamente melhor, com seis vereadoras entre os 18 parlamentares (25%). Esse dado reforça que mudanças são possíveis quando há incentivo e investimento nas candidaturas femininas.
Já em Araguaína, a segunda maior cidade do Estado, a Câmara Municipal tem 19 cadeiras, mas nenhuma delas é ocupada por mulher.
VIOLÊNCIA E AMEAÇAS
O ambiente político hostil para as mulheres se reflete em episódios recentes de violência política de gênero. Em fevereiro de 2025, um vereador foi condenado a prestar serviços comunitários e a pagar R$ 15 mil por xingar uma ex-vereadora durante uma sessão parlamentar no município de Miracema. O caso reforça a cultura machista enraizada no meio político e mostra como mulheres eleitas ainda enfrentam desrespeito e ataques apenas para ocuparem um espaço de poder. A condenação do vereador é um avanço simbólico na luta contra a violência política de gênero, mas a prosperidade financeira e social ainda é branda diante do impacto que esse tipo de comportamento tem na participação feminina na política.
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Em Colinas do Tocantins, a vereadora Naiara Miranda (MDB) foi ameaçada pelo prefeito da cidade, Josemar Casarin (UB), em plena sessão na Câmara Municipal. "Tu te prepara porque aqui a bala pega", falou o gestor municipal após a vereadora declarar sua posição de independência em relação ao Executivo.
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Recentemente, na cidade de Filadélfia, o líder do prefeito na Câmara, vereador João Fernando (Progressistas), intimidou a vereadora Wedla Medeiros (PSDB) durante a votação de um projeto para contratação de servidores pela prefeitura. A parlamentar questionou os salários previstos, principalmente para os professores. Após um intenso debate, João Fernando se exaltou, apontou o dedo para a vereadora, bateu na mesa e disparou: “Tu pode votar toda vez contra, nós passa [sic] por cima de tu porque somos 6 vereadores, pra tu ser besta!”.
Infelizmente, episódios como esses afastam as mulheres da política. As homenagens são importantes, porém, não bastam para garantir respeito às mulheres e incentivar a participação feminina na política.