Aumento da escolaridade do brasileiro muda perfil do eleitor

Por Redação AF
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04/08/2014 15h34 - Atualizado há 5 anos
<span style="font-size:14px;">Se antes era pr&aacute;tica comum prometer cestas b&aacute;sicas, emprego ou tratamento m&eacute;dico em troca de votos para conquistar um mandato, com o aumento da escolaridade do eleitor brasileiro essas propostas come&ccedil;am a perder espa&ccedil;o para um voto de mais qualidade. Para especialistas, h&aacute; um novo eleitor em constru&ccedil;&atilde;o e a melhora no n&iacute;vel educacional pode se transformar em mais consci&ecirc;ncia pol&iacute;tica no m&eacute;dio prazo.<br /> <br /> Apesar de a maior parte dos eleitores ainda ter baixa escolaridade, houve aumento no n&uacute;mero de pessoas com superior completo e incompleto e ensino m&eacute;dio completo e incompleto. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que dos 142,8 milh&otilde;es de eleitores aptos a votar no pleito de outubro, 5,6% (8 milh&otilde;es) terminaram a gradua&ccedil;&atilde;o - 2,8 milh&otilde;es de pessoas a mais que nas elei&ccedil;&otilde;es de 2010.<br /> <br /> O n&uacute;mero de pessoas com superior incompleto tamb&eacute;m subiu em rela&ccedil;&atilde;o a 2010 &ndash; aumentou em 1,5 milh&atilde;o, passando de 2,7% para 3,6%. O n&uacute;mero de cidad&atilde;os com ensino m&eacute;dio completo aumentou em 5,9 milh&otilde;es de pessoas, de 13,1% para 16,6%. J&aacute; o n&uacute;mero de eleitores com ensino m&eacute;dio incompleto teve um incremento de 1,8 milh&atilde;o, de 18,9% para 19,2%.<br /> <br /> Em contrapartida, o n&uacute;mero de analfabetos e dos que apenas leem e escrevem (analfabetos funcionais) diminuiu. S&atilde;o cerca de 700 mil analfabetos a menos que na elei&ccedil;&atilde;o de 2010, passando de 5,8% dos eleitores para 5,1%. No caso dos analfabetos funcionais, s&atilde;o 2,5 milh&otilde;es a menos no pleito de 2014, de 14,5% do eleitorado para 12%.<br /> <br /> Para o cientista pol&iacute;tico Leonardo Barreto, especialista em comportamento eleitoral, o &iacute;ndice de desenvolvimento educacional do eleitor &eacute; reflexo da evolu&ccedil;&atilde;o dos indicadores de educa&ccedil;&atilde;o da popula&ccedil;&atilde;o brasileira. &ldquo;As pessoas melhoraram a capacidade de buscar e processar informa&ccedil;&otilde;es porque &eacute; isso que, basicamente, o n&iacute;vel de educa&ccedil;&atilde;o mais elevada proporciona.&rdquo;<br /> <br /> O Censo Demogr&aacute;fico 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat&iacute;stica (IBGE) indicou que o n&iacute;vel de escolariza&ccedil;&atilde;o, de um modo geral, tem melhorado no pa&iacute;s. No grupo acima de 25 anos, idade considerada suficiente para conclus&atilde;o da gradua&ccedil;&atilde;o, o n&uacute;mero de pessoas sem instru&ccedil;&atilde;o ou com ensino fundamental incompleto caiu de 64% em 2000 para 49,3% em 2010. Com ensino m&eacute;dio completo passou de 12,7% para 14,7% e a propor&ccedil;&atilde;o de pessoas com ensino superior completo passou de 6,8% para 10,8%.<br /> <br /> Para Barreto, ainda n&atilde;o &eacute; poss&iacute;vel dizer que o pa&iacute;s j&aacute; tem um eleitor mais cr&iacute;tico e consciente. &ldquo;&Eacute; um eleitor h&iacute;brido, que combina a necessidade de propostas novas para ele, de pol&iacute;ticas p&uacute;blicas mais universais, com pr&aacute;ticas antigas. Era uma pessoa que at&eacute; ontem estava dentro de um contingente populacional que era muito suscet&iacute;vel a trocas e a propostas clientelistas. &Eacute; uma pessoa que est&aacute; migrando de um lugar para outro, mas que ainda est&aacute; no meio do caminho porque essa &eacute; uma mudan&ccedil;a de uma gera&ccedil;&atilde;o.&rdquo;<br /> <br /> De acordo com o especialista, com o aumento da escolariza&ccedil;&atilde;o e da renda, fazer campanha em uma regi&atilde;o pobre n&atilde;o significar&aacute; encontrar um eleitor desprovido de capacidade cr&iacute;tica e de informa&ccedil;&atilde;o. &ldquo;Na periferia, voc&ecirc; vai encontrar pessoas cujos filhos est&atilde;o fazendo ou fizeram faculdade. Uma gera&ccedil;&atilde;o abastece a outra. O filho que fez faculdade &eacute; o orgulho da fam&iacute;lia, vai influenciar quem n&atilde;o fez. Tem um efeito de dispers&atilde;o desse conhecimento. Isso torna o processo pol&iacute;tico mais complexo. Abre uma janela de oportunidades para uma nova gera&ccedil;&atilde;o de pol&iacute;ticos. Quem interpretar e conduzir bem esse processo vai sair na frente&rdquo;, disse.<br /> <br /> O professor do Instituto de Ci&ecirc;ncia Pol&iacute;tica da Universidade de Bras&iacute;lia (UnB) Paulo Roberto Kramer tamb&eacute;m avalia que o eleitorado brasileiro est&aacute; em fase de transi&ccedil;&atilde;o. Para ele, os dados do TSE comprovam o gradual avan&ccedil;o nas condi&ccedil;&otilde;es de vida e de educa&ccedil;&atilde;o da popula&ccedil;&atilde;o. &ldquo;Um eleitor mais instru&iacute;do costuma ser mais exigente. Esse eleitor tende a transcender o n&iacute;vel mais b&aacute;sico de expectativas e necessidades, como o alimento e o teto, e passa a querer pol&iacute;ticas p&uacute;blicas mais amplas, de educa&ccedil;&atilde;o, sa&uacute;de e mobilidade urbana de qualidade.&rdquo;<br /> <br /> Na opini&atilde;o do especialista, os pol&iacute;ticos v&atilde;o se deparar com uma parcela cada vez maior da popula&ccedil;&atilde;o que vai cobrar seus direitos. &ldquo;Esse novo eleitor certamente vai lan&ccedil;ar um desafio para os pol&iacute;ticos, que &eacute; repaginar suas propostas, suas maneiras de abordagem, pois est&aacute; mais cr&iacute;tico ao confrontar as promessas que s&atilde;o feitas com a possibilidade de concretiza&ccedil;&atilde;o.&rdquo;<br /> <br /> Para a coordenadora-geral da organiza&ccedil;&atilde;o n&atilde;o governamental (ONG) A&ccedil;&atilde;o Educativa, Vera Masag&atilde;o, &agrave; medida que o pa&iacute;s mude o perfil educacional da popula&ccedil;&atilde;o, a tend&ecirc;ncia &eacute; que o perfil do eleitorado tamb&eacute;m seja alterado no sentido de um voto mais consciente.<br /> <br /> &ldquo;Pessoas com mais escolaridade se sentem mais empoderadas, sentem menos o pol&iacute;tico como algu&eacute;m de quem precisam para ter um favor. Tendem a romper essa vis&atilde;o do clientelismo, daquele pobrezinho que precisa ir l&aacute; pedir favor para o pol&iacute;tico. Aumentam a consci&ecirc;ncia cidad&atilde; de que eu estou exercendo meu direito votando e que o meu dever tamb&eacute;m n&atilde;o acaba na hora do voto. Tenho que continuar cobrando e &eacute; dever desse gestor p&uacute;blico cumprir as promessas que fez. Esse car&aacute;ter da cidadania &eacute; refor&ccedil;ado&rdquo;, disse.<br /> <br /> Segundo Vera, ao lado da educa&ccedil;&atilde;o formal, &eacute; preciso ampliar a educa&ccedil;&atilde;o cidad&atilde;. &ldquo;Essa &eacute; uma educa&ccedil;&atilde;o que se d&aacute; principalmente no engajamento pol&iacute;tico. Ent&atilde;o s&atilde;o pessoas participando de partidos, de ONGs, engajadas, acompanhando causas de interesse p&uacute;blico e pol&iacute;ticas p&uacute;blicas. &Eacute; dessa forma que a gente vai, de fato, mudar a pol&iacute;tica, com mais gente participando e exercendo o controle social.&rdquo;</span>
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