Sargento da PM e cinegrafista suspeitos de matar adolescentes foram denunciados pelo MPTO.
Notícias do Tocantins – O assassinato de dois adolescentes de 14 e 17 anos, ocorrido em Araguaína em janeiro de 2022, foi destacado durante o evento "Direitos: Humanas, Voz (da mulher) pela Democracia", em Brasília, que aconteceu na sede do TSE, dia 10 de dezembro (Dia Internacional dos Direitos Humanos). A ação mostra histórias contadas em vozes femininas da democracia, daquelas que lutam diariamente por um mundo mais justo, fraterno e igualitário.
O projeto conta com a participação de magistradas, empresárias, artistas, bordadeiras, pesquisadoras, professoras, economistas, jornalistas, advogadas, médicas, mães, escritoras, lideranças indígenas e acadêmicas.
O caso de Araguaína foi retratado pela voz de Teresinha de Jesus, mãe de uma criança de 10 anos, morta na porta de casa no Complexo Alemão (RJ), e que busca justiça no caso do seu filho e de outros que ainda não tiveram solução.
“Quero falar da mãe Janete Pereira, do Tocantins, que teve o filho que estava com outro adolescente, onde foram sequestrados e executados dentro de um matagal, perto da casa dela, por policiais, tanto fardados como sem farda. Isso é uma dor muito grande para uma mãe e ela não tem voz no Tocantins”, disse a mulher durante o evento.
Relembre o Caso
Os dois adolescentes (Eduardo Pereira Soares e Alan Divino Pereira) foram mortos com vários disparos de arma de fogo. Os acusados são o sargento da Policia Militar Paulo Medeiros e o cinegrafista Jhonattan Gonçalves, denunciados por homicídio duplamente qualificado (por motivo torpe e com uso de recurso que impossibilitou a defesa da vítima) em atividade típica de grupo de extermínio. Eles foram denunciados também pelos crimes de sequestro e fraude processual.
O caso ainda não foi julgado e os acusados estão em liberdade.
Conforme as investigações, os dois adolescentes teriam roubado a motocicleta da filha do policial. Momentos depois, os adolescentes foram localizados e detidos em um bar no Setor Vila Azul, de onde foram sequestrados e levados até as proximidades do linhão de energia, no mesmo bairro, onde teriam sido mortos.
O menor Eduardo Pereira Soares levou tiros no crânio e no tórax. O segundo adolescente, Alan Divino Pereira, tentou fugir, mas foi alcançado nas proximidades da BR-153, onde foi morto com tiros no tórax, disparado de cima para baixo.
Ainda conforme a denúncia do Ministério Público, os denunciados colocaram uma arma de fogo próximo ao corpo de um dos adolescentes no intuito de indicar um falso confronto e induzir o perito a erro, o que não ocorreu.
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Pedido de Justiça
Janete Pereira Soares e Sandra Pereira de Souza são as mães dos adolescentes mortos. As duas não acreditam nas versões apresentadas pelos acusados e afirmam que os filhos teriam sido vítimas de uma emboscada.
“Eu estava lá naquela noite. Passaram três horas com meu filho dentro do mato e tinham várias viaturas dando apoio. O Eduardo estava com todos os dentes de cima quebrados. Não existe criptografia dos dedos e dos objetos. E se eu não tivesse lá, eles iriam tirar o corpo do meu filho daquele local. Os nossos filhos foram julgados, condenados e executados pelos juízos da lei, que é a polícia. Eu pergunto, e se realmente eles tivessem feito isso, e cadê o direito deles? Eles não tinham ficha criminal e não eram do crime. Eles não tiveram nenhuma chance. Meu filho só tinha 14 anos, e mesmo se tivesse feito algo de errado eu jamais concordaria e ele iria pagar, mas não com a própria vida”, disse.
Janete relata que não foi encontrada cápsula de bala no local do crime e ninguém sabe com qual arma o adolescente foi morto. “Ainda existem várias versões dadas pelos acusados. Não existe imagem de câmera que comprovem esses crimes, e nem os horários relatados por quem prestou esses depoimentos não batem. Quero que a justiça seja feita, e que paguem pelo que fizeram com esses meninos. Sei que a justiça para nós na prática nunca vai acontecer, porque não vão devolver nossos filhos. Mas eles estão mortos e quem cometeu o crime está solto e cadê os direitos humanos? Qual a resposta que o Judiciário tem dado para as vítimas? Até agora nenhuma”, desabafou.