Comércio e política

Por Redação AF
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13/11/2014 09h50 - Atualizado há 5 anos
<span style="font-size:14px;"><u>K&aacute;tia Abreu</u><br /> <br /> O Brasil &eacute; um dos poucos pa&iacute;ses que podem responder &agrave;s necessidades de importa&ccedil;&atilde;o da R&uacute;ssia<br /> <br /> Por mais que a ret&oacute;rica oficial insista em todos os foros internacionais que o com&eacute;rcio deve ser neutro em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; pol&iacute;tica, n&atilde;o h&aacute; como n&atilde;o ver que o com&eacute;rcio &eacute; uma poderosa arma de pol&iacute;tica externa e que os pa&iacute;ses mais relevantes da cena mundial n&atilde;o se cansam de us&aacute;-la. Vejamos o que se passa com a R&uacute;ssia.<br /> <br /> Logo ap&oacute;s os tumultos pol&iacute;ticos envolvendo R&uacute;ssia e Ucr&acirc;nia, os Estados Unidos e a Uni&atilde;o Europeia impuseram aos russos um conjunto extenso de san&ccedil;&otilde;es econ&ocirc;micas, da restri&ccedil;&atilde;o de exporta&ccedil;&otilde;es para empresas russas de energia e de equipamentos de defesa a severas restri&ccedil;&otilde;es a transa&ccedil;&otilde;es financeiras que est&atilde;o ferindo profundamente o pa&iacute;s, muito dependente do sistema financeiro internacional.<br /> <br /> Em resposta, o governo russo, em vez de mobilizar suas for&ccedil;as armadas (ainda bem!), decidiu enfrentar essa nova modalidade de guerra fria com os instrumentos do com&eacute;rcio: imp&ocirc;s embargo &agrave; impor- ta&ccedil;&atilde;o de carnes, peixes, leite e derivados, frutas e vegetais dos Estados Unidos, da UE, do Canad&aacute;, da Austr&aacute;lia e da Noruega.<br /> <br /> N&atilde;o se trata de um neg&oacute;cio pequeno. A R&uacute;ssia &eacute; um grande pa&iacute;s, com popula&ccedil;&atilde;o de 144 milh&otilde;es de habitantes e um PIB de US$ 2 trilh&otilde;es. Importa cerca de US$ 318 bilh&otilde;es ao ano.<br /> <br /> No agroneg&oacute;cio, &eacute; o quinto maior importador mundial, ao comprar mais de US$ 44 bilh&otilde;es/ano. Para ter uma ideia do tamanho e da import&acirc;ncia desse mercado, basta que se diga que os russos importam 40% de todos os alimentos que consomem. Para produtores rurais de toda parte, o mercado russo foi sempre um grande objeto de desejo.<br /> <br /> O Brasil sempre esteve presente ali, apesar de inumer&aacute;veis dificuldades de ordem burocr&aacute;tica e sanit&aacute;ria, pois os russos sempre monitoraram criteriosamente o acesso a seu precioso mercado.<br /> <br /> Nos &uacute;ltimos cinco anos, o agroneg&oacute;cio brasileiro foi respons&aacute;vel por cerca de 95% das nossas exporta&ccedil;&otilde;es &agrave; R&uacute;ssia, somando em m&eacute;dia US$ 3 bilh&otilde;es/ano. Isso contribui para um saldo comercial total expressivo, que j&aacute; chegou a ultrapassar US$ 1 bilh&atilde;o. Mas a verdade &eacute; que os maiores fornecedores do mercado russo sempre foram os europeus, que agora viram essas portas subitamente se fecharem.<br /> <br /> Todos sabemos que os governos n&atilde;o brincam quando o assunto &eacute; a garantia da oferta de alimentos &agrave; popula&ccedil;&atilde;o. Ao fazer dos produtos alimentares o objeto das san&ccedil;&otilde;es contra europeus e americanos, o governo russo sabia que estava ferindo interesses muito importantes e difusos nesses pa&iacute;ses, causando danos econ&ocirc;micos a comunidades extensas de produtores.<br /> <br /> Escolheu um alvo que ter&aacute; custos pol&iacute;ticos relevantes nos pa&iacute;ses afetados. Mas, por certo, tamb&eacute;m calculou que poderia substituir facilmente esses pa&iacute;ses por novos parceiros que teriam capacidade e disposi&ccedil;&atilde;o de preencher o vazio que se abria. Caso contr&aacute;rio, provocaria crise no abastecimento de produtos b&aacute;sicos, abalando seu apoio pol&iacute;tico interno e a estabilidade econ&ocirc;mica.<br /> <br /> O mundo n&atilde;o tem muitos pa&iacute;ses capazes de responder rapidamente a uma oportunidade como essa. O Brasil &eacute; um dos poucos. Se falharmos, a R&uacute;ssia estar&aacute; em apuros. Mas estamos respondendo, ao menos em parte.<br /> <br /> No caso das carnes, nossas vendas deram enorme salto no &uacute;ltimo trimestre. Comparando agosto de 2013 com agosto de 2014, as vendas de carne bovina cresceram 21%, as de carne su&iacute;na 82%, e as de carne de frango 50%.<br /> <br /> Em setembro, a alta foi maior: 23% a mais de carne bovina, 227% de carne de frango e 173% de carne su&iacute;na. E s&atilde;o valores altos. Somente em setembro, a soma desses tr&ecirc;s itens chegou a US$ 533 milh&otilde;es.<br /> <br /> O mesmo se deu com as frutas. Quase n&atilde;o export&aacute;vamos e, s&oacute; em setembro deste ano, vendemos 500 toneladas de bananas, 132 de mangas e 67 de uvas, abrindo, ainda que timidamente, um imen- so mercado.<br /> <br /> Resta-nos, agora, o desafio de exportar leite, manteiga e queijo, demandados em grandes volumes e antes supridos por produ&ccedil;&atilde;o europeia. Com aud&aacute;cia e compet&ecirc;ncia, poderemos nos tornar em l&aacute;cteos tamb&eacute;m um grande produtor mundial.<br /> <br /> Isso tudo mostra que, apesar das dificuldades e das crises, a capa- cidade do agro brasileiro de criar riqueza ainda tem muito campo pela frente.<br /> <br /> <strong><u>K&Aacute;TIA ABREU</u></strong>, 52, senadora (PMDB-TO), escreve&nbsp;</span><span style="font-size:14px;">aos s&aacute;bados na Folha de S.Paulo</span><span style="font-size:14px;">.</span>
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