<span style="font-size:14px;">O coronel reformado do Exército Paulo Malhães disse à Comissão Estadual da Verdade do Rio que a busca pelos restos mortais de militantes de esquerda desaparecidos na Guerrilha do Araguaia é inútil. Ele contou que, na segunda metade da década de 1970, foi encarregado de chefiar uma missão na região da guerrilha, na região de Xambioá (TO) e sul do Pará, cujo objetivo era desaparecer para sempre com os corpos.<br /> <br /> Segundo seu relato, eles foram desenterrados e jogados em rios, após terem arcadas e dedos das mãos arrancadas, para não serem identificados.<br /> <br /> Ainda de acordo com o coronel, na chamada "operação limpeza" do Araguaia teriam sido empregadas as mesmas técnicas utilizadas para o desaparecimento de opositores do regime militar em áreas urbanas. Os corpos eram postos em sacos impermeáveis e com pedras de peso calculado, para impedir que afundassem completamente ou flutuassem. O ventre da vítima também era cortado, evitando assim que inchasse.<br /> <br /> O objetivo era criar condições para que o corpo fosse arrastado pelo rio. "Podem escavar o Brasil todo, mas não vão achar ninguém, porque nós desaparecemos com todo mundo", disse Malhães.<br /> <br /> O coronel disse ainda que "chefiou a operação na região da guerrilha, durante a qual desenterravam os corpos e desapareciam com eles. O padrão era o mesmo: após os cortes no abdômen, ensacavam e jogavam no rio, com pedras. Isso era feito lá mesmo, nos locais onde eram encontrados."<br /> <br /> Malhães, hoje com 76 anos, fazia parte do núcleo mais duro do Exército e foi um dos responsáveis pela Casa da Morte, em Petrópolis - o maior centro de tortura e desaparecimento de presos políticos do País entre 1971 e 1973.<br /> <br /> Para o presidente da Comissão da Verdade, que também preside a Comissão Nacional de Direitos Humanas da OAB, ainda não é possível dizer o quanto são verídicas as informações do coronel. "Quem tem que vir a público agora são as autoridades, o ministro da Defesa, os comandantes das Forças Armadas, O País precisa de uma palavra oficial do Estado sobre esses fatos", afirmou. "Se não fizerem isso, nunca saberemos a verdade. Não dá mais para conviver com essa omissão do Estado brasileiro. As autoridades militares têm que confirmar ou desmentir o relato do coronel, que afirma ter executado a operação a mando das Forças Armadas."</span>