<span style="font-size:14px;"><u>Kátia Abreu</u><br /> <br /> NÃO, NÃO vou comentar o belo livro de Jane Austen, autora, a propósito, citada com recorrência em recentes obras de economia de muito sucesso. Mas não encontrei palavras melhores para traduzir os sentimentos antagônicos que parte da sociedade brasileira nutre pela produção agrícola e o vasto mundo econômico que dela decorre.<br /> <br /> A cada dia, mais pessoas, inclusive importantes líderes do mundo político e da esfera intelectual, vêm abrindo os olhos para o significado do chamado agronegócio, ou seja as cadeias produtivas que integram a produção das fazendas, sua logística, seu processamento industrial, a produção de máquinas, equipamentos, fertilizantes e agroquímicos, e sua distribuição para os mercados domésticos e para mais de uma centena de países.<br /> <br /> A maioria dos brasileiros sente um orgulho pelas transformações que ocorreram em nosso campo.<br /> <br /> Há menos de 40 anos, o Brasil vivia ameaçado pela insuficiência na oferta de alimentos, e a grande maioria da população sacrificava grande parte de sua renda apenas para alimentar sua família.<br /> <br /> No período de pouco mais de uma geração, nos transformamos num grande produtor mundial da maioria dos nossos alimentos e ainda produzimos fibras e etanol que abastecem todo o mercado, a preços baixos, e ainda garantem substancial fluxo de divisas, por meio de nossas exportações.<br /> <br /> Essa façanha é realmente impressionante porque, até meados nos anos 70 do século passado, nossa agricultura e pecuária eram marcadamente atrasadas e constituíam obstáculo ao crescimento econômico e à melhoria da condição social da maioria da população.<br /> <br /> O que ocorreu não foi uma evolução, mas uma verdadeira invenção. Criamos aqui uma agricultura tropical, adaptada ao nosso clima e aos nossos solos, com nossos próprios meios tecnológicos, enquanto no passado procurávamos inutilmente adaptar em nosso território a agricultura dos países da faixa temperada.<br /> <br /> A agricultura brasileira é obra de brasileiros, de cérebros e mãos brasileiros e, não fora ela, nosso país estaria vivendo hoje uma situação verdadeiramente crítica.<br /> <br /> Mas nem todos veem a mesma realidade. Aí, entra o outro sentimento: o preconceito. O Brasil e o mundo mudaram, muitas crenças não resistiram ao teste do tempo e da história, mas há gente que continua cultivando ideias que não fazem mais sentido.<br /> <br /> Para elas, o agricultor é o representante do atraso, do imobilismo e de estruturas sociais injustas.<br /> <br /> A agricultura não pode ser uma função econômica, como a indústria, o comércio ou as finanças. Por isso, não pode se modernizar, usar equipamentos, fertilizantes, sementes geneticamente modificadas, nada disso. Deve voltar a ser o que era há cem anos: um refúgio de camponeses empobrecidos e sem esperança, vivendo um idílio com a natureza.<br /> <br /> Por mais que o mundo reconheça o caráter sustentável do agronegócio brasileiro, há quem nos calunie pelo mundo afora, querendo prejudicar nossa imagem e nosso conceito nos mercados.<br /> <br /> A verdade acaba prevalecendo, mas gastamos muito dinheiro e muito esforço nos protegendo de nossos próprios compatriotas.<br /> <br /> E os pessimistas por vocação, ou por interesse, lamentam que nosso comércio externo seja dominado pela exportação de commodities, como se essa fosse uma má palavra.<br /> <br /> Nossas commodities, no entanto, incorporam muita tecnologia e compõem um ambiente econômico que é multissetorial, pois o agronegócio, além de agrícola, é também indústria, é comercio, é logística, e é também social, formando extensas cadeias produtivas enraizadas em nosso território e empregando brasileiros em todas as regiões.<br /> <br /> Sou otimista, no sentimento e na razão. Tenho muita fé em que, num tempo não muito distante, o orgulho vai abater o preconceito.<br /> <br /> O que tudo isso demonstra, para quem olha a realidade sem as lentes míopes da ideologia, é que somos bem melhores do que nós mesmos imaginamos e já passa da hora de termos consciência mais justa de nós mesmos.<br /> <br /> <strong><u>KÁTIA ABREU</u></strong><em>, 52 anos, senadora (PMDB-TO), escreve aos sábados nesta coluna.</em></span>