Capim-dourado

Ouro do Cerrado: comunidades iniciam coleta de capim que virou símbolo do Tocantins

Lei nº 3.594/2019 estabelece o calendário de coleta para garantir o manejo sustentável.

Por Redação
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23/09/2025 08h50 - Atualizado há 1 mês
A colheita do capim-dourado está autorizada até 30 de novembro

Notícias do Tocantins – O brilho do chamado 'Ouro do Cerrado' voltou a encher os campos do Jalapão. No sábado (20), comunidades quilombolas e artesãos locais iniciaram oficialmente a colheita do capim-dourado, uma tradição que atravessa gerações e garante sustento para centenas de famílias. A abertura da temporada foi acompanhada pelo Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) no campo Rio do Meio, situado na região sudeste da Área de Proteção Ambiental (APA) do Jalapão, no Território Quilombola do Carrapato.

A coleta está autorizada até 30 de novembro, conforme a Lei nº 3.594/2019, que regula o manejo sustentável do capim-dourado e do buriti. O período, cuidadosamente definido para preservar os ecossistemas, abrange todas as associações de artesãos e extrativistas cadastradas no Naturatins. O calendário é fundamental para evitar a exploração predatória e garantir que a matéria-prima continue abastecendo o artesanato que tornou o Jalapão famoso no Brasil e no exterior.

Além do Rio do Meio, campos como Faveira, Caetano, Corta Perna, Brejo da Danta, Cabeceira do Carrapato, Riacho de Areia, Brejo das Meninas e Gongo também receberam autorização para a coleta.

Rejane Ferreira, supervisora da APA Jalapão, ressaltou a relevância da data. “As comunidades esperam o ano inteiro para esse momento. O manejo sustentável protege as veredas e assegura renda para muitas famílias. Até novembro, estaremos nos campos, ouvindo as comunidades, incentivando boas práticas e garantindo que essa tradição continue viva”, afirmou.

Ela também destacou que os campos estão especialmente fartos em 2025. “A expectativa é de uma colheita abundante, com matéria-prima suficiente para manter a produção artesanal e a renda das comunidades”, disse.

Tradição, cultura e sustento

A colheita do capim-dourado é um ritual coletivo. O processo, feito manualmente, exige habilidade e respeito às técnicas tradicionais, transmitidas de geração em geração. Caminhar pelos campos úmidos e muitas vezes de difícil acesso faz parte do desafio — e do orgulho — das comunidades do Jalapão e de Mumbuca.

A artesã Noemi Gonçalves da Silva descreveu o início da temporada como uma celebração. “Hoje é um dia muito especial para nós. Sabemos a importância de respeitar o tempo certo para colher. Viemos em grupo, com amigos e familiares, para começar a coleta de forma regular”, contou.

Para o artesão Argemiro Pereira da Silva, de 76 anos, a prática representa herança e sustento. “Sou um dos mais antigos da comunidade Formiga. Há cinco anos venho colhendo com meus filhos, enquanto minha esposa costura as peças. Vendemos aqui e em Mateiros, onde a procura é grande. Sem essa autorização, perderíamos nossa cultura e nossa principal fonte de renda”, destacou.

Nas próximas semanas, as hastes colhidas se transformarão em bolsas, chapéus, acessórios e peças decorativas que circularão por feiras, lojas e passarelas no Brasil e no exterior, levando consigo a identidade cultural e a história do Jalapão.

Orientações e preservação

Desde o início do ano, o Naturatins tem realizado ações educativas em diversas comunidades, reforçando as regras da Política Estadual de Uso Sustentável do Capim-Dourado e do Buriti. As orientações incluem práticas adequadas de coleta, transporte e manejo, garantindo que o brilho do capim-dourado continue iluminando a cultura e a economia das comunidades sem comprometer o equilíbrio ambiental.

O início da temporada, além de assegurar renda, reafirma o compromisso entre tradição e conservação ambiental — um pacto que mantém viva uma das expressões culturais mais emblemáticas do Tocantins.

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