<span style="font-size:14px;"><u>Pedro Cardoso </u><br /> <br /> Existem alguns períodos em que a população se enche e reage às trapaças e espertezas dos políticos.<br /> <br /> Esse tipo de reação deveria ser permanente e não esporádico como tem sido. Mas dá para compreender, afinal todos gostariam de viver numa normalidade e as ações de resistência só aparecem por conta dos abusos praticados pelos gestores públicos brasileiros.<br /> <br /> Nesse momento, a grande onda que começa a se formar é contra o aumento de salário de vereadores Brasil afora. O início se deu no estado do Paraná, na cidade de Santo Antônio da Platina, por iniciativa da empresária Adriana Lemes de Oliveira.<br /> <br /> Ela se insurgiu após tomar conhecimento de um projeto de aumento dos salários do prefeito de R$ 14,7 mil para R$ 22 mil e dos vereadores de R$ 3,7 mil para R$ 7,5 mil. Na primeira sessão para aprovação a empresária apareceu sozinha protestando e a gravação de sua discussão com um dos vereadores foi parar na internet e “bombou”.<br /> <br /> Na sessão seguinte, a população da cidade se fez presente em peso e aí não só os salários não aumentaram, como foi aprovada uma redução significativa a partir do próximo ano.<br /> <br /> Aí está a prova de que a reação vem do abuso. É muito alto um salário de quase 15 mil reais para um prefeito de uma cidade pequena e pobre, sem recursos próprios. E mais ainda quanto aos vencimentos dos vereadores acima de 3 mil reais, uma vez que eles recebem muitos benefícios e privilégios além do salário.<br /> <br /> Há ainda a questão do número de sessões. Em regra, em cidades pequenas os vereadores se reúnem uma vez por semana. O trabalho fora das câmaras fica restrito a pagar a um funcionário para conduzir pessoas doentes, além de outras atividades sem nenhuma relevância pública.<br /> <br /> O exemplo de redução de salários já foi seguido pelos moradores de outras cidades, como Diadema, ao lado da capital paulista.<br /> <br /> Essas ondas positivas deveriam ser imitadas pelo país afora e acrescida de outros bons combates.<br /> <br /> Um deles seria acabar com a prática de o poder público pagar mais caro nas suas compras do que o preço do mercado varejista. Não paga uma diferença ínfima. Às vezes são preços duas, três e até 10 vezes acima. E a compra pelas administrações públicas, em todas as esferas, é feita por atacado e através de concorrência pelo menor preço.<br /> <br /> Não se tem, porque não existe que dê uma explicação plausível sobre essa discrepância. Só a que todo mundo já conhece: corrupção, pura e simples. Não tem justificativa porque os produtos vêm dos mesmos fabricantes, pelos mesmos meios de transportes e, quase sempre, até pelos mesmos revendedores.<br /> <br /> Existem outras práticas que deveriam ser combatidas pelos munícipes. Os aluguéis de automóveis, de prédios, de maquinários.<br /> <br /> As condecorações a figuras famosas, como os muitos títulos de cidadão desse ou daquele município. São valores expressivos com transporte, solenidade, placas, buffet e outras iniquidades. Um tipo de despesa somente para situações extremamente relevantíssimas.<br /> <br /> Só como exemplo, o primeiro astronauta brasileiro que foi ao espaço justificaria uma celebração dessa natureza. Outro bom combate mereceriam as despesas das cidades nordestinas, pobres e vivendo de transferências obrigatórias, com o pagamento de bandas de forró caríssimas nas festas juninas.<br /> <br /> Essa onda contra o aumento dos vereadores deveria ser apenas a ponta do iceberg para acabar com outras farras em geral.<br /> <br /> Já seria um bom começo se o exemplo da empresária fosse seguido na prática e não apenas nos sites de jornais, blogs ou nas redes sociais.<br /> <br /> Pedro Cardoso da Costa é Bacharel em Direito</span>