O sexagenário entrou na UFT em 2011 e enfrentou muitas dificuldades, mas não desistiu.
O acadêmico Adahil Rodrigues de Rezende está entre os formandos do curso de graduação em Geografia da Universidade Federal do Tocantins em Araguaína. Aos 73 anos de idade, ele é um exemplo de superação e dedicação. Provando que é possível, apesar das adversidades, realizar o sonho de ter um diploma de nível superior. A colação de grau será no dia 8 de agosto, às 20h, no campus Cimba.
“Quando decidi entrar para a faculdade e fazer a minha graduação, eu tive influenciadores. Principalmente e fundamentalmente os meus filhos, que sempre falavam da importância de obter uma formação em nível superior e eu nunca quis. Entrei na faculdade pela primeira vez em 1970 e cursei por quatro anos e meio o curso de Teologia, pois tinha o objetivo de ser missionário, mas acabei não me adaptando”, conta.
Após a primeira tentativa, o idoso disse que em 2011, contrariando todas as perspectivas, passou no vestibular e conseguiu entrar na universidade.
“Consegui ingressar na Universidade Federal do Tocantins no curso de geografia, ciência que eu já admirava. Fui relativamente bem no desenrolar das disciplinas e quando estava muito próximo de terminar o curso tive alguns problemas de saúde. Em 2016 tive de me tratar de um câncer e voltei para terminar as matérias pendentes e dar andamento no meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)”, disse.
Na reta final, o acadêmico disse que ainda passou por mais um problema de saúde que o impediu de concluir o curso no tempo previsto. “No final do curso tive outra intercorrência de saúde. Fraturei o fêmur e fiquei mais um ano fora das atividades acadêmicas. Apesar das dificuldades consegui apresentar o meu trabalho de conclusão de curso. Embora não da maneira como eu queria, mas foi aceito e fui aprovado. Se não fosse os problemas de saúde eu já tinha terminado o curso lá atrás”, avaliou.
“Agora é o fechamento de um ciclo depois de tanto tempo, coroando esse momento da minha vida com o alcance da minha formação e do diploma universitário. Do ponto de vista de mercado de trabalho não tem muita importância. Mas do ponto de vista do simbolismo e do significado, mesmo depois de estar sexagenário é muito importante. Acho que o que fica de positivo desse momento da minha vida é isso: mesmo depois de envelhecido conseguimos aprender coisas importantes para a vida. Que essa história sirva de estimulo e motivação para outras pessoas buscarem o conhecimento”, finalizou.
Superação: apoio da família
Os filhos foram muito importantes nessa conquista, principalmente pelo incentivo que sempre davam ao pai.
“Na nossa convivência de pai e filho ele sempre deixou claro a sua intenção de fazer um curso superior. Ele sempre falava da sua paixão pela geografia e de sua inclinação para fazer o curso. Com o desenrolar da vida, filhos, trabalho entre outras coisas, esse sonho foi interrompido”, contou o filho Silvano Lima Rezende.
Além das dificuldades, o idoso que trabalhava como serralheiro foi incentivado por toda a família a prestar o vestibular e entrar na universidade após um grave acidente de trânsito.
“Há uns oito anos ele sofreu um acidente de moto que o dificultou no trabalho como serralheiro. Ai nós sugerimos a ele que realizasse o seu sonho cursando o ensino superior, uma vez que ele estava sem as mínimas condições de exercer a atividade”, explicou.
O filho conta ainda que o pai foi resistente no início, mas prestou o vestibular e passou na Universidade Federal do Tocantins em Araguaína. O vovô, como era carinhosamente chamado pelos colegas de classe, superou-se e conseguiu com o apoio da família e dos outros acadêmicos se formar em Geografia.
“Ele conseguiu se integrar com facilidade à turma e foi desenvolvendo as atividades e eliminando as disciplinas. Até participou de debates em congressos em outros Estados e ficou bastante empolgado”, disse o filho.
Problemas de saúde: câncer, fratura no fêmur e cirurgia
No meio do curso, Adahil ainda enfrentaria um tratamento contra o câncer, mas que não o impediu de continuar trilhando o sonho. “Quando foi de 2015 para 2016 ele começou a enfrentar uma barra pesada e foi submetido a um tratamento rigoroso com base em radioterapia e quimioterapia. Como não era possível fazer o tratamento em Araguaína ele teve que trancar o curso para se tratar em Imperatriz, no Maranhão”, lamentou Silvano.
O tratamento foi um sucesso e o idoso imediatamente retornou às atividades acadêmicas para dar prosseguimento ao sonho. Após concluir dois estágios, o acadêmico ainda passaria por mais uma grande barreira para concluir o curso.
“Por infortúnio do destino meu pai teve uma fratura no fêmur e passou por uma delicada cirurgia em maio do ano passado. De lá pra cá ele está se recuperando e contou com a sensibilidade dos professores para terminar o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Agora ele está finalmente apto a participar da colação de grau”, comemorou.
O mais novo bacharel em geografia pela Universidade Federal do Tocantins mostrou que é possível superar as adversidades e obstáculos para realizar os nossos sonhos.
“Ele é um exemplo, testemunho de vida. Se formar aos 73 anos de idade é uma vitória. Não só para ele, mas para todos familiares e amigos. Após tantas dificuldades enfrentadas, ele é um exemplo de superação. É motivo de orgulho e admiração. Foi um sonho que sonhamos acordados, juntos. Que essa juventude possa se espelhar no meu pai, sabendo que é possível ingressar na faculdade e concluir uma graduação”, finalizou o filho.