Keslon Borges é economista e especialista em Gestão Pública
Keslon Borges | Artigo
É realmente fascinante observar a incrível habilidade dos gestores públicos do Tocantins e suas prefeituras em fazer milagres com o orçamento público. Enquanto a população clama por serviços essenciais de qualidade, os mestres da administração conseguem priorizar o que realmente importa: manter um exército de cabos eleitorais devidamente acomodados – ou melhor, contratados, já que, muitas vezes, nem mesmo um local para sentar existe nos órgãos públicos.
A narrativa é sempre a mesma: "Estamos comprometidos com a responsabilidade fiscal! Precisamos cortar gastos! Precisamos priorizar o essencial!" – discursos comoventes, recheados de promessas de austeridade e zelo pelo dinheiro público. No entanto, na prática, a realidade é bem diferente. O que se vê são repartições públicas inchadas, com pessoas que não sabem sequer quais são suas funções, mas que, claro, garantem sua lealdade eleitoral.
A fórmula do sucesso: Inchaço da máquina e colapso dos serviços
Ao que tudo indica, existe uma fórmula secreta para a gestão pública no Tocantins:
Contrate cabos eleitorais, afinal, votos não caem do céu.
Se não houver cadeiras suficientes para todos, basta garantir o contracheque no final do mês. Trabalhar é um detalhe irrelevante.
Comprometa os limites de gastos com pessoal previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal – quem se importa com limites quando se tem interesses políticos para proteger?
Ignore solenemente áreas fundamentais como saúde, educação, segurança e infraestrutura, pois investimentos reais nessas áreas não garantem votos tão facilmente quanto um cargo fantasma.
Se necessário, crie cargos e secretarias que ninguém sabe para que servem, mas que cumprem um papel essencial: abrigar aliados e padrinhos políticos.
Efeito Colateral: A distorção na alocação dos recursos públicos
Enquanto os serviços públicos agonizam, hospitais lotam, escolas caem aos pedaços e estradas se tornam verdadeiros desafios de rally, os recursos que deveriam ser aplicados nessas áreas desaparecem em uma névoa mágica.
A desculpa? "A crise é grande, os recursos são escassos!" – sempre dita com tom de preocupação e acompanhada de uma promessa de que "estamos buscando soluções". Mas a verdade é que o dinheiro público está sendo direcionado para alimentar projetos pessoais de poder, garantindo que a elite política continue sua dança infinita de troca de favores e perpetuação no poder.
A receita para a mudança: Um sonho distante
Seria utópico imaginar uma gestão eficiente, onde os recursos públicos fossem de fato aplicados no bem-estar da população? Onde contratações fossem baseadas na competência e não no vínculo eleitoral? Onde limites de gastos fossem respeitados e os gestores pensassem no longo prazo em vez de mandatos imediatos?
O Tocantins e suas prefeituras ainda não descobriram esse caminho. Mas enquanto isso, seguimos assistindo a esse espetáculo tragicômico de má gestão pública, onde o compromisso maior não é com o povo, mas com a manutenção do poder.
E assim, entre discursos bonitos e práticas lamentáveis, a roda gira, o cabide se fortalece e a população continua pagando a conta.
__________________
Keslon Borges, Economista e Especialista em Gestão Pública