Livres para matar

Por Redação AF
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25/03/2013 08h11 - Atualizado há 5 anos
<div style="text-align: justify;"> <span style="font-size:14px;">H&aacute; dois anos o Brasil se estarreceu com mais uma trag&eacute;dia em raz&atilde;o da quantidade de pessoas mortas. Foram quase mil pessoas identificadas, e muitas nunca foram localizadas na regi&atilde;o Serrana do Rio de Janeiro.<br /> <br /> De t&atilde;o repetidas, pelas mesmas causas e trazendo os mesmos efeitos, ningu&eacute;m se consterna mais quando o n&uacute;mero de mortos n&atilde;o alcan&ccedil;a as centenas. Isso serve para as chacinas, os acidentes automobil&iacute;sticos e outras cat&aacute;strofes.<br /> <br /> Mas Petr&oacute;polis choca novamente, agora pela repeti&ccedil;&atilde;o em t&atilde;o pouco tempo.<br /> <br /> Qualquer cidad&atilde;o comum sabe o per&iacute;odo das chuvas. No Rio de Janeiro existem &oacute;rg&atilde;os oficiais, com muitos cargos comissionados e fortunas gastas na manuten&ccedil;&atilde;o dessas institui&ccedil;&otilde;es, exatamente para evitar as constru&ccedil;&otilde;es irregulares e os desabamentos. Existem secretarias para autorizar e fiscalizar a constru&ccedil;&atilde;o das moradias de acordo com as exig&ecirc;ncias legais e com a seguran&ccedil;a adequada aos moradores. Burocraticamente tudo perfeito. S&oacute; na burocracia.<br /> <br /> Somente ap&oacute;s a repeti&ccedil;&atilde;o das trag&eacute;dias surgem algumas medidas. Virou moda criar um gabinete de crise. De efeito pr&aacute;tico, s&oacute; algumas entrevistas do governador e de seus secret&aacute;rios. De pr&aacute;tico, o espa&ccedil;o f&iacute;sico ocupado. Tamb&eacute;m, &agrave; la Estados Unidos, as autoridades passaram a sobrevoar as &aacute;reas afetadas para, como sempre, verem o caos de cima. De pr&aacute;tico, as autoridades aparecem nos telejornais da televis&atilde;o e&nbsp; constatarem que o problema &eacute; grande demais e n&atilde;o ter&aacute; solu&ccedil;&atilde;o. E a mais inovadora das medidas foram as instala&ccedil;&otilde;es de sirenes para avisar aos moradores que a morte se avizinha.<br /> <br /> No Brasil &eacute; assim porque a ilegalidade &eacute; a regra. Algu&eacute;m s&oacute; constr&oacute;i num lugar proibido &agrave; custa de omiss&atilde;o ou de comiss&atilde;o. O Minist&eacute;rio P&uacute;blico e os demais &oacute;rg&atilde;os de fiscaliza&ccedil;&atilde;o n&atilde;o se manifestam no sentido de obrigarem as autoridades a proibirem as constru&ccedil;&otilde;es irregulares para punirem pelas mortes escancaradamente previs&iacute;veis. Quem tem o dever de zelar e n&atilde;o o faz, comete crime. Quem assume o risco de matar algu&eacute;m, seja por a&ccedil;&atilde;o ou por omiss&atilde;o, comete crime com dolo eventual. Nem os prefeitos que roubaram as verbas e os mantimentos dos sobreviventes s&atilde;o punidos.<br /> <br /> &Uacute;nica coisa nova nessa trag&eacute;dia de Petr&oacute;polis foi a constata&ccedil;&atilde;o da presidenta Dilma Rousseff de que precisam adotar medidas dr&aacute;sticas para retirar as pessoas das &aacute;reas de risco. Nossa, presidenta! &Eacute; deprimente ter uma autoridade m&aacute;xima que leve tanto tempo - e depois de tantas vidas perdidas - para fazer uma constata&ccedil;&atilde;o t&atilde;o &oacute;bvia.<br /> <br /> Depois de tantas mortes nenhum gato pingado foi protestar em frente ao Pal&aacute;cio do governo do Rio, alguns nem sabem onde fica a sede da prefeitura. Nem uma TV abriu seu telejornal com um editorial criticando essa in&eacute;rcia permanente, nem um jornal colocou na capa os rostos das dezenas de v&iacute;timas fatais.<br /> <br /> No Brasil o anormal &eacute; normal, a regra &eacute; a irregularidade. Quem se manifesta ou exige &eacute; um chato. A fun&ccedil;&atilde;o essencial de todos os &oacute;rg&atilde;os &eacute; ter cargos comissionados ocupados pelos amigos do governador ou do prefeito. A maioria n&atilde;o sabe ao certo as suas fun&ccedil;&otilde;es, pois elas n&atilde;o existem.<br /> <br /> Todos sabem que nenhuma provid&ecirc;ncia efetiva ser&aacute; tomada, que mortes voltar&atilde;o com as pr&oacute;ximas chuvas e os governadores sobrevoar&atilde;o as &aacute;reas de risco. Pelo que &eacute; feito atualmente, daqui a 50 anos as pessoas continuar&atilde;o morrendo arrastadas pelas chuvas, como hoje. J&aacute; os governadores e prefeitos continuar&atilde;o livres para matar sem nenhuma consequ&ecirc;ncia, porque as &aacute;reas s&atilde;o de risco, mas nem sequer mencionam o risco de qu&ecirc;.<br /> <br /> <u><strong>Pedro Cardoso da Costa</strong></u> &ndash; Interlagos/SP<br /> &nbsp;&nbsp;&nbsp; Bacharel em direito</span></div>
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