Em Palmeirante

Juiz manda despejar cerca de 20 famílias a pedido de fazendeiro em Palmeirante

Por Agnaldo Araujo
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17/04/2018 08h26 - Atualizado há 5 anos
Cerca de 20 famílias camponesas que ocupam há mais de dez anos a área da gleba Gabriel Filho, em Palmeirante, serão alvos de uma reintegração de posse nesta terça-feira (17), conforme decisão judicial expedida em 16 de fevereiro deste ano, que confirma uma decisão proferida em 11 de maio de 2007. O juízo de Filadélfia, onde tramita a ação judicial, manteve a data agendada pelo Comando da Polícia Militar do Tocantins, indeferindo pedido da Defensoria Pública do Estado (DPE) de prazo de 30 dias para a reintegração. A DPE classificou a decisão como 'arbitrária', mas informou que acompanhará a ação da justiça e da PM, para que sejam evitados qualquer ato de violação de direitos humanos, em conformidade com o Manual da Ouvidoria Agrária Nacional e Diretrizes da Polícia Militar. A Defensoria também quer a garantia de uma estrutura mínima para inventariar e remover os bens que os ocupantes possuem, como móveis, eletros, gados e plantações, pois não possuem recursos financeiros para tanto. Segundo a Defensoria, tratativas com a Polícia Militar garantiram a correta delimitação da extensão objetiva e subjetiva da decisão, uma vez que há ocupantes de áreas circunvizinhas que seriam atingidos pela ordem judicial. Assim, seis famílias com posse e domínio sobre a Fazenda Bonito foram excluídas do levantamento da PM. A equipe da DPE que acompanhará a ação conta com servidores e os defensores públicos Guilherme Vilela Ivo Dias e Sandro Ferreira Dias, integrantes dos seguintes Núcleos Especializados da DPE-TO: Núcleo da Defensoria Agrária (DPAgra), Núcleo Aplicado das Minorias e Ação Coletivas (NUAmac) de Araguaína e Palmas, Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (NDDH), Núcleo de Defesa da Criança e do Adolescente (Nudeca) e Núcleo da Saúde (Nusa). AÇÕES JUDICIAIS  A luta da DPE-TO em defesa das famílias da gleba Gabriel Filho é feita juntamente com a CPT. Os pedidos da defesa têm como único objetivo garantir a dignidade dos que moram no local e, sobretudo, a cidadania e segurança dessas famílias. Além do direito à terra, os camponeses buscam justiça no caso de homicídio do camponês Gabriel Filho, morto na comunidade ainda em 2010. Conforme informações da CPT, a vítima foi alvejada com cinco disparos de arma de fogo no dia 16 de outubro de 2010, supostamente desferidos pelo proprietário da área em conflito e mais dois pistoleiros. A DPE destacou que o processo que trata do homicídio encontrava-se sem movimentação desde julho de 2017, tendo sido movimentado apenas quatro vezes ao longo de um ano, enquanto o processo para despejar os moradores foi movimentado 109 vezes no mesmo período. No entanto, no último dia 21 de março, o juiz da comarca intimou as partes para audiência de acareação, que será realizada no dia 9 de maio. O despacho foi após o ajuizamento de um Habeas Corpus Coletivo Preventivo, em janeiro deste ano, em que a defesa relatou todas as gravidades do caso, inclusive sobre uma determinação judicial que preocupou a defesa por determinar que "em caso de desobediência à ordem judicial, os desobedientes deveriam ser presos em flagrante e encaminhados à polícia de Filadélfia". No entanto, o juízo de primeiro grau proferiu novo despacho, em 20 de fevereiro, se retratando do despacho anterior, esclarecendo tratar-se de advertência genérica e abstrata. COMUNIDADE Os principais argumentos na defesa dos camponeses são: a existência de manifestação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em adquirir a área mediante desapropriação consensual e direcionamento para o Programa Nacional de Reforma Agrária; o abandono da área pelo autor da ação judicial, que não reside mais no Brasil, portanto sem condições de exercer a posse da área; a consolidação da comunidade no local, que reside no local há mais de dez anos com estrutura de moradia consolidada, pequenas plantações e criação de animais, sendo atendida com água e energia elétrica e contando, inclusive, com uma Capela no local. As famílias reivindicam a criação de um assentamento na Fazenda Freitas, na Gleba Palmeirante, loteamento Limoeiro. A ocupação recebeu o nome 'Gabriel Filho', em homenagem póstuma ao ex-morador assassinado. Hoje a área está dividida entre a Fazenda Freitas, cujo proprietário é contrário à demanda apresentada pelos trabalhadores rurais e a Fazenda Recreio II, de responsabilidade do antigo dono de toda a extensão, Pedro Bringel, que já concordou em vender a terra pela modalidade de compra e venda, prevista no Decreto Nº433/1992, para que seja formado o projeto de assentamento com o objetivo de atender os acampados.

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