Inocentado

Jovem ganha liberdade após dois anos na prisão por crime que não cometeu no Tocantins

Erros na investigação levaram o jovem à prisão por um homicídio em Paraíso.

Por Redação 3.203
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09/03/2020 20h16 - Atualizado há 4 anos
O jovem apenas se parecia com o autor do crime

Um jovem de 25 anos passou dois anos preso injustamente por um crime que ele não cometeu – homicídio qualificado. O grande pesadelo só chegou ao fim na última sexta-feira (6 de março) quando foi inocentado por unanimidade pelo Tribunal do Júri em Paraíso do Tocantins, a 60 km de Palmas.

O jovem foi preso em 27 de junho de 2018 na própria casa após uma denúncia anônima, acusado de um assassinato ocorrido em novembro de 2017. “A Polícia entrou em casa à força, me pressionando a assumir um crime grave, mas desde o início neguei o fato, na verdade eu nem sabia do que se tratava”, descreveu.

A prisão ocorreu pelo fato de o jovem se parecer fisicamente com o verdadeiro autor do crime, embora tivesse nome diferente. Durante o julgamento, uma testemunha disse que o jovem apenas se parecia com o verdadeiro assassino.

A defensora pública Letícia Amorim, que atuou na defesa, ressaltou que o jovem foi inocentado, mas teve quase dois anos de sua vida perdida e enfrentou um verdadeiro pesadelo na prisão. Apesar da liberdade, ele teme quanto ao futuro.

O CRIME

O homicídio aconteceu em novembro de 2017. Conforme o processo, após uma briga em um bar, um dos envolvidos na discussão (a vítima) saiu de moto e outros dois homens (que também estavam no bar) o seguiram e o garupa deu quatro golpes de faca contra a vítima, que não resistiu e morreu.

O piloto da moto foi encontrado e assumiu que participou do crime, mas disse que não sabia da intenção “do carona” e que ele seria conhecido como “Fernando”.

Durante as investigações, foram mostradas fotos para que o piloto da moto reconhecesse o autor do assassinato. Porém, ele disse que em nenhum momento apontou a foto do jovem como culpado, tendo afirmado apenas que ele se parecia com a pessoa que efetuou os golpes de faca.

“Eu nunca vi esse cara na vida. Hoje, aqui, é a primeira vez que eu vejo esse rapaz”, relatou o piloto da moto. Ele também respondeu ao processo como réu.

O dono do bar também confirmou que o jovem apenas se parecia com o autor do crime.

Durante o julgamento, até mesmo o Promotor de Justiça apontou que houve falha de investigação e que não havia certeza necessária para uma condenação.

VÍDEO

Um vídeo de câmeras próximas ao local do crime ajudou a concluir pela inocência do jovem. As imagens não mostram o rosto dos envolvidos, mas deixa evidente que autor do crime é bem maior que o piloto da moto.

No momento do júri, o jovem e o piloto da moto foram colocados lado a lado – quando se verificou que os dois são da mesma altura. Para a Defensoria Pública, essa simples análise poderia ter evitado a prisão de um inocente.

O conjunto de provas levou os jurados a concluírem que o jovem acusado pelo crime jamais poderia ser o autor do homicídio.

A defensoria Letícia Amorim disse que o sentimento é de alívio, de dever cumprido, de justiça, mesmo que tardia. Sente-se feliz pelo resultado do júri, mas ao mesmo tempo indignada diante da falha de investigação que imputou ao jovem um crime tão grave e hediondo. “Uma investigação falha que acaba por ferir direitos mais básicos do cidadão, como a própria liberdade. Nenhuma indenização que ele receba irá lhe devolver esses anos que passou no cárcere”, complementou.

FERIDAS DO CÁRCERE

O jovem, agora, deseja recuperar a sua dignidade perdida por causa do erro que maculou sua imagem. ‘‘Qualquer busca pelo meu nome na internet vai me taxar como criminoso de uma morte que eu nunca cometi’’, disse. 

No momento em que foi preso, ele já enfrentava dificuldade em conseguir emprego e a pouca renda que tinha era garantida como pintor. “Agora vou ter que começar tudo de novo, retomar a minha vida novamente e que seja feita a vontade de Deus”, disse.

À época da prisão, ele e a esposa tinham um filho recém-nascido. Contudo, já na CPP de Paraíso, ele recebeu a notícia da morte do bebê por afogamento.

“Não pude sequer pegar meu filho no colo”, disse, emocionado. Ele também não foi ao velório, nem ao sepultamento. Atualmente, ele não é mais casado.

Depois de tanto tempo preso, o jovem está reorganizando a vida. Agora, ele segue em busca de um recomeço.

Jovem foi inocentado por unanimidade

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