As fraudes virtuais se consolidaram como um mecanismo preocupante de perda de dinheiro no Brasil, de acordo com o Mapa da Fraude do primeiro semestre de 2024. Esse estudo, que foi elaborado pela empresa de inteligência de dados ClearSale, indica uma perda total de R$ 1,2 bilhão com crimes de fraude no comércio eletrônico, em pedidos pagos com cartão de crédito. Para chegar ao resultado, a empresa analisou quase 68 milhões de pedidos online realizados no primeiro semestre do ano.

Embora a quantidade de tentativas de fraude tenha decaído 7,8% em comparação com o mesmo período do ano passado, o valor médio das perdas teve uma redução menor, de 3,5% ante 2023.

Mesmo excluindo ramos que são atingidos de maneira relevante por uma grande quantidade de crimes, como os golpes bancários, esse levantamento mostra um cenário alarmante. Se a melhora no estudo da ClearSale inspira alguma visão positiva, ainda que modesta, o Anuário de Segurança Pública 2024 revela uma tendência contrária ao analisar os dados do ano passado.

Mudança de dinâmica

Analisando a criminalidade de maneira mais abrangente no país, essa publicação anual do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela um aumento significativo nos crimes virtuais, a ponto de tomar espaço dos crimes de rua.

Roubos a estabelecimentos comerciais, residências, pedestres, cargas e veículos apresentaram uma queda sensível, enquanto os estelionatos cresceram 8,2% no ano, resultando em um aumento de 360% entre 2018 e 2023. Os furtos de celular também aumentaram, diferentemente de outros crimes de rua: a violação dos aparelhos por criminosos está intimamente ligada aos crimes virtuais, como meio para extração de dados sensíveis e roubos de credenciais.

Essas tendências sugerem um aumento da lucratividade para os criminosos sem a correspondência de um risco crescente em suas ações. Diante da histórica dificuldade de combate à criminalidade no Brasil e da ausência de adaptações legislativas adequadas às demandas sociais, esse problema pode se mostrar duradouro.

Incidência das fraudes

O relatório de fraudes em comércio eletrônico da ClearSale detalha os grupos mais vitimados por golpes. Apesar de diversos grupos demográficos serem atingidos, indivíduos do sexo masculino e pertencentes à geração millenial, também chamada de geração Y, (entre 28 e 43 anos) concentraram o maior número de vítimas. A geração Z (12 a 27 anos) vem em segundo lugar.

De modo geral, a tendência está em concentrar esforços em uma menor quantidade de operações, porém com valores mais altos. Essa estratégia criminosa diverge, por exemplo, dos golpes de phishing que aliciam vítimas “aos montes” e podem almejar a valores de diferentes portes.

Entretanto, as ocorrências e valores visados por cibercriminosos variam conforme as regiões brasileiras:

• Região Norte: a região mais afetada pelas fraudes, reúne golpes com valor médio de R$ 1.408 e que são concentrados principalmente em dispositivos eletrônicos e aparelhos de ar-condicionado.

• Região Centro-Oeste: Média de R$1.402.

• Região Sul: foi a região menos visada por criminosos, apesar de apresentar um valor médio de R$1.319.

• Região Nordeste: Média de R$1.303.

• Região Sudeste: Média de R$1.129.

Além dos dispositivos eletrônicos, roupas e acessórios de moda também se destacaram entre os itens que movimentam golpes de comércio eletrônico no período mencionado.

Evitando fraudes

Os crimes de fraude relacionados ao comércio eletrônico no país são realizados por meio do roubo de senhas, conta e de dados. A seguir, veja algumas formas de evitar esses golpes.

Ferramentas de cibersegurança

Se você digitar no Google “qual é meu IP”, entenderá o motivo de essa ser uma das principais preocupações quando o assunto é cibersegurança e prevenção contra golpes. O endereço IP que é uma identificação atribuída a todo dispositivo virtual que acessa a internet, pode ser facilmente consultado online. E ele pode revelar informações muito importantes e sensíveis, como a geolocalização de um usuário da rede. Quando cruzado com outras informações pessoais, ele permite deduzir hábitos relevantes da rotina online de vítimas em potencial.

A melhor maneira de ocultar o IP é por meio de uma VPN. Esse tipo de programa estabelece uma conexão do cliente com servidores espalhados pelo mundo de maneira privada, por meio de um “túnel” virtual criptografado. Assim, a VPN garante maior cibersegurança e privacidade online, aspectos que são indispensáveis para evitar o assédio de criminosos no mundo digital.

Além da VPN, outras ferramentas digitais podem ajudar a diminuir a quantidade de dados de navegação deixados para trás, a chamada “pegada digital”, e tornar mais robusta a proteção de um dispositivo eletrônico. Respectivamente, programas que bloqueiam rastreadores online podem ser instalados como extensão de navegador e aplicativos antivírus permitem a checagem por infecções da máquina com malwares.

Cartão de crédito virtual e recursos bancários

Os cartões de crédito virtuais são um recurso que muitos bancos oferecem e que ajudam a ter um maior controle sobre incidentes de segurança digitais. Trata-se de um cartão completamente virtual, sem existência física, que é mantido somente na carteira virtual ou no aplicativo bancário do cliente.

O cartão pode ser acessado a cada compra virtual e, a dependendo do banco, cartão é possível gerar um cartão virtual para cada ocasião. Dessa forma, evita-se a clonagem e o uso indiscriminado das credenciais no caso de vazamento de dados.

Procedimentos de segurança reforçados

Memorizar senhas longas pode ser inconveniente no dia a dia, mas sofrer prejuízos por conta delas é ainda mais. Por isso, procure criar senhas longas, alternando caracteres de diferentes tipos, ao menos para:

• E-mail
• Redes sociais

Jamais repita senhas de cadastro em sites ou serviços diferentes e procure trocá-las regularmente. Para fazer isso de maneira prática e sem precisar contar com a memória, você pode recorrer a um gerenciador de senhas de confiança.

Além disso, sempre que possível, configure a autenticação de dois fatores para serviços digitais. Ela requer a confirmação por duas vias (podendo ser SMS, app, token, entre outros recursos) em momentos importantes, que podem ser determinantes para que você não perca dados ou dinheiro em situações como o roubo de credenciais ou mesmo de aparelho celular.

Cuidados básicos

Por fim, o óbvio precisa ser dito: nunca compartilhe informações de seu cartão de crédito com estranhos. Jamais informe o CVV (código de 3 dígitos na parte posterior do cartão). Tenha sempre em mente que autoridades bancárias ou governamentais jamais entrarão em contato por telefone ou mensagem de celular para pedir esse código ou suas senhas bancárias.

Zele pelos dados de seu cartão também fora do mundo virtual, em ambientes públicos. Jamais o perca de vista e evite revelar os dados contidos nele ou a sua senha durante o manuseio em compras.

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