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Vírus, confinamento e uma reflexão sobre a 'solidão criadora' de Rousseau - por Emílio Lopes

Emílio Lopes é escritor e historiador tocantinense.

Por Redação 665
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01/05/2020 11h44 - Atualizado há 4 anos
Emílio Lopes - escritor e historiador

Estamos prestes a comemorar 308 anos de um dos mais brilhantes filósofos da humanidade, Jean-Jacques Rousseau ( 1712 - 1778 ) , o filósofo que era atacado por muitos intelectuais que o acusavam de aversão aos homens e à sociedade sem que estes, respeitassem o mínimo de suas subjetividades.

Os motivos de tais acusações simplesmente seriam por esse pensador optar e priorizar sempre a solidão e a liberdade, que no seu entender, traria muitos benefícios para a verve criativa de cada ser engajado com sua elevação espiritual, criativa e intelectual, quem sabe.

Em tempos de Covid-19, parte da humanidade está totalmente confinada em suas casas com muita cautela sobre cuidados com a saúde. Na educação, alunos seguem a mesma toada atendendo medidas cautelares aplicadas pelas autoridades mandatárias. A educação terá um forte impacto, e muitos alunos não terão conhecimentos melhorados.

Nesse sentido, o confinamento se tornou notícia seguida das outras tantas informações sobre o avanço do vírus e suas consequências para a humanidade, sobretudo no aspecto do contágio e os óbitos surgidos de tal contaminação. O padrão a ser seguido é usar máscara, ficar distante e lançar mão do confinamento. Educação mesmo, somente em casa ou em lives na internet para quem tem acesso ao aparato tecnológico.

Diante de tal contexto, ganha espaço a necessidade da reflexão, da mudança de conceito, do autoconhecimento, da espiritualidade e do repensar os atuais modos de vida que as pessoas estão seguindo. E é aqui que o filósofo se encaixa e delimita seu espaço, já que se trata de momento apropriado para refletir e mudar conceitos de forma criadora, pragmática.

Nada mais justo do que relembrar o filósofo que tanto produziu sem abrir mão da necessidade da solidão criadora. Além de criticar outros filósofos, a necessidade de o homem lançar mão de recuperar suas características sociais sempre foi uma obstinação em Rousseau.

Expoente do movimento iluminista europeu, sempre foi um esforçado para preservar a liberdade natural do homem e ao mesmo tempo garantir a segurança e o bem-estar da vida em sociedade. Segundo Rousseau, isso seria possível, através de um contrato social, por meio do qual prevaleceria a soberania da sociedade, a soberania política da vontade coletiva.

Ou seja, todos cooperando com todos por uma vontade coletiva. E desde agora, em tempos de pandemia brutal e assustadora para muitos, o que demanda para a educação de muitos é a, digamos, clausura pedagógica onde pais, professores e alunos desafiados a aprender conviverem mais e contribuirem para uma aprendizagem coletiva.

Rousseau ao defender a solidão criadora, não apenas trata de questão natural onde o homem deve ter dedicação, interesse e criatividade para produzir, vai além quando se isola nos estudos e busca entender os homens, a humanidade a partir de seus escritos carregados de sentimentalismo, paixões e projetos educativos que compunham o arcabouço intelectual desse sentimental autor.

 Podemos concluir em meio a análise apresentada, que o confinamento tem sido desafiador para pais, alunos, professores que estão atuando e para autoridades que se esforçam em reduzir os impactos dessa pandemia. A educação já está comprometida e o calendário pedagógico de 2020 não será fechado conforme o previsto. Que lição ficará desse confinamento no aspecto subjetivo? Produtivo? Transformador?

Se para muitas escolas a tecnologia será uma aliada, não se pode afirmar o mesmo para as classes menos favorecidas e excluídas da internet que não terão acessos a propostas dos professores que vem trabalhando com aulas virtuais ou em lives. O certo é que a desigualdade social se mostra ampliada.

Segundo a Pesquisa TIC Domicílio citada pelo professor e especialista em Gestão, Renato Casagrande, realizada em 2018, mais de 30% das casas não têm nem sequer acesso à internet, em geral as mais pobres. “Essa questão vai acentuar a diferença de classes. A rede privada vai encontrar algumas soluções que demandam recursos financeiros, o que, para a escola pública, é muito mais difícil. Assim, os alunos do sistema público devem sentir mais os impactos”, conclui o professor.

Quando o filósofo definiu a desigualdade de dois tipos sendo que a primeira se deve às características particulares de cada sujeito, a segunda é causada por circunstâncias sociais, o que evidencia diante do atual contexto, as disparidades e distanciamento tecnológico inclusivo entre as camadas locais do estado e desse município. 

Alunos, pais, cidadãos e demais envolvidos produzirão algo digno de remediar os males causados pelo vírus? A solidão criadora proposta pelo filósofo, tá sendo produtiva? O país terá um pensamento humanístico em meio a toda essa pandemia? Homens evoluíram suas atitudes?

Se as respostas para tais questionamentos não forem possíveis em breve, uma coisa pode-se concluir: a educação perdeu na qualidade, mas a sociedade com a humanidade degenerada buscará o pensar e o agir como virtude, mesmo que para isso tenham essa ou outras pandemias para que o tal isolamento social favoreça quem sabe, a“solidão criadora” defendida pelo filósofo.

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Emílio Lopes é escritor, historiador e poeta.

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