Entrevista

Kátia Abreu: não há clima para impeachment e novo ministro da Saúde está 'meio perdido'

Senadora está em isolamento em sua fazenda no Tocantins.

Por Redação 986
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02/05/2020 11h08 - Atualizado há 3 anos
Senadora Kátia Abreu

Em sua fazenda no município de Aliança do Tocantins, onde está em isolamento por causa da pandemia, a senadora Kátia Abreu (PP-TO) interrompeu a preparação do almoço (frango com açafrão, pequi, arroz e feijão) para conceder uma entrevista ao colunista Chico Alves, do UOL.  

Começa tratando da audiência pública em que o ministro da Saúde, Nelson Teich, tentou explicar aos senadores os seus planos contra o coronavírus. Ela não gostou do que ouviu.

"Não posso deixar de registrar que eu, assim como vários colegas, achamos que ele está um pouco perdido no meio do 'tiroteio'", avalia Kátia. "Cadê o planejamento geral?".

Em relação aos comentários sobre impeachment, apesar de vários pedidos formais encaminhados ao Congresso, Kátia avalia que não há clima entre parlamentares para o impedimento do presidente Jair Bolsonaro. Sugere, no entanto, que ele não se contente em agradar apenas os 30% de brasileiros que, segundo as pesquisas, se mantêm em suas fileiras.

Relembra um termo usado por sua avó para classificar Bolsonaro como "riliento" (uma adaptação do adjetivo "arreliento", que quer dizer "provocador de aborrecimento"), ou seja, brigão. "Vou fazer um pedido ao presidente Bolsonaro: queria que ele fizesse uma quarentena de um dia das redes sociais, em silêncio, para ver se nós conseguimos ter um dia de paz, um dia de esperança, um dia de ânimo e notícias boas".

A seguir, os principais trechos da entrevista da senadora Kátia Abreu:

PERDIDO NO "TIROTEIO"

Registro que o currículo do ministro (Nelson Teich) é excelente, ele tem uma boa credibilidade no meio como profissional na área de Oncologia, é um empresário. Não quero fazer nenhuma crítica pejorativa ou destrutiva em relação ao ministro. Mas não posso deixar de registrar que eu, assim como vários colegas, achamos que ele está um pouco perdido no meio do "tiroteio”.

Sem entrar no mérito se o ministro Mandetta era ótimo, regular ou era péssimo, o presidente tinha o direito de trocar. Mas trocar o general comandante no meio da guerra traz esses atrasos. E a nossa guerra é contra uma doença, pela vida. Já fui ministra e sei que não é fácil tomar pé das coisas com o carro andando, ainda mais no meio de uma pandemia.

Acho que o ministro tem que se apressar para fazer os seus estudos, porque precisamos de medidas urgentíssimas. O sentimento de urgência no serviço público já não existe, nesse caso ele deveria existir em todos os momentos. No caso da pandemia, o sentimento deveria ser de urgência urgentíssima. Não percebi que existe uma estratégia consolidada por parte do ministério.

FALTA PLANEJAMENTO

O ministro novo não tem essa visão geral do Brasil. Não dá para falar: governadores, a peteca está com vocês. Não, porque quem está enxergando o avanço da pandemia é quem tem a visão de cima, o Ministério da Saúde.

Cadê o planejamento geral? Eu perguntei: ministro, usando uma palavra técnica, qual é o protocolo, meu amigo? Qual protocolo o sr. tem para os governadores? O protocolo significa o seguinte: como vamos tratar a pneumonia? Distribui para o hospital do SUS e o secretário do estado vai, então, organizar esse protocolo que já foi testado pela ciência, pela academia e sabe como tratar a pneumonia. No caso da pandemia, qual é o protocolo? Os governadores devem fazer o quê?

Temos um local de crise destemperada, que é Manaus. Nesse caso, qual é o protocolo pós-batalha perdida? Vamos fazer o que com os corpos? Não existe (orientação). O currículo do ministro é muito bom, mas ele ainda está perdido no que diz respeito a essas medidas.

POPULAÇÃO QUER RESULTADOS

A população vive de símbolos, ela precisa ver essa atuação. Discurso é importante, a explicação, mas precisamos de ação. O mais crítico de tudo é que nós estamos observando uma crise política. Quando há uma crise entre presidente e governadores, por exemplo, o que acontece com a população nessa hora? Ela não quer saber disso. Ela paga seu imposto e quer resultado, minha gente. Competência de A, competência de B. Meu Deus, esquece isso. Essa briga política está gerando um resultado social. Metade cumpriu o isolamento, metade não. Isso é consequência da guerra política que o presidente tem travado com os governadores. Ele tinha que se agarrar aos governadores como aliados, esquecer o partido de cada um deles, vamos sair disso.

Porque isso tem reflexo negativo na política eleitoral de Bolsonaro e dos governadores também. Mas os governadores estão se saindo muito melhor, as pesquisas estão aí. Porque estão trabalhando aliados entre eles. Montaram o Fórum dos Governadores. O presidente da República deveria ser o presidente desse fórum.

Essa guerra de "fica em casa" contra o "vai para a rua que é uma gripezinha" colocou a população em risco.

IMPEACHMENT E BOLSONARO 'RILIENTO'

Não falo em nome de ninguém, mas a impressão que eu tenho é que o impeachment não está na cabeça dos deputados e senadores. O último impeachment está muito fresco, as feridas ainda estão abertas, nós tivemos prejuízos enormes. Não vejo essa disposição, não vejo esse ânimo dos parlamentares.

Existe a possibilidade de impeachment? Claro, está na Constituição. Já fizemos dois depois da redemocratização, mas isso traz consequências graves. Eu, Kátia, particularmente até empolo, arrepio, quando fala em impeachment.

O que está acontecendo, por outro lado, é que Bolsonaro não dá trégua. Ele quer brigar com todo mundo. Minha avó dizia no passado, quando a gente brigava muito: "essa menina é rilienta". Riliento é quem gosta de brigar muito. Ele brigou desde o início do governo agredindo o Congresso Nacional, depois o Supremo Tribunal Federal, Polícia Federal, Ministério Público, brigou com o próprio partido... Quem falta pra ele brigar? Só se for brigar com o Papa.

Estou vendo um esforço sobre-humano, que a Dilma não teve dez por cento desse esforço, para que ele fique de pé, para que as coisas aconteçam naturalmente, para que ele governe em paz. Quem dera a Dilma tivesse a oposição que o Bolsonaro tem hoje. Na verdade ele não tem oposição.

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