'Odiava meu nome'

Mulher que sofria chacotas desde criança por se chamar Raimunda ganha novo nome na Justiça

Os pais colocaram o nome como forma de homenagear uma irmã da mãe dela, a pedido da avó.

Por Redação 2.650
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31/07/2019 15h58 - Atualizado há 4 anos
Carteira de Identidade

O nome Raimunda não é incomum no Brasil. Porém, para alguns é motivo de piadas e chacotas. Essa era a vida de uma vendedora que conquistou na Justiça o direito de trocar de nome no Tocantins.

A ação foi proposta pela Defensoria Pública Estadual. A mulher agora vai se chamar Sabrina. “Agora sim eu tenho um nome que me traz felicidade e não constrangimento”, afirma a vendedora.

Ela também conta que desde criança sofre chacotas e é excluída de grupos por ter sido batizada como Raimunda. “Eu não gostava que citavam meu nome em sala de aula. Eu odiava meu nome. Eu via meus colegas de aula com umas brincadeirinhas ridículas só comigo e eu detestava”, declarou.

O pai e mãe de Sabrina são de família humilde, conheceram-se numa fazenda na zona rural e o antigo nome da filha foi uma forma de homenagear uma irmã da mãe dela, a pedido da avó.

Aí eu ficava questionando, por que logo eu? E era para eu me chamar pior ainda, de Raimundinha”, lembra. Ela complementa que até mesmo apelidos a deixava envergonhada e, por isso, não aceitava nem mesmo “Raimundinha”, “Rai”, “Chica”, “Chiquinha” ou “Mundica”, como escolhia a família para um “apelido carinhoso”.

Eu acho esse apelido horroroso. Quando eu conhecia amigos em jogos online eu sempre encontrava outro apelido e quando eu namorava me apresentava com outro nome”, acrescenta.

Defensoria Pública

A assistência jurídica de Sabrina foi feita pela defensora pública Franciana Di Fátima. Segundo ela, a mudança do nome de um cidadão brasileiro tem sua fundamentação no Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana, e a troca do nome encontra respaldo no Princípio da busca da felicidade.

O mais importante é o nome não expor o portador do nome a situações vexatórias, que lhe causem constrangimento”, explica. 

Segundo a defensora pública, o nome deve representar um fator de identificação do indivíduo e de seu reconhecimento social e não uma forma de constrangimento, independentemente de homenagens familiares.

A sentença foi proferida no dia 25 de maio, deferindo a retificação de registro civil com o reconhecimento judicial do direito a mudança do prenome Raimunda para Sabrina por “constrangimento público a sua honra subjetiva e reconhecimento público de bulling ao nome”.

Mudança

Fazer mudanças no nome de registro não é uma tarefa das mais simples. Segundo Franciana Di Fátima, para começar, é preciso entrar com uma ação na Justiça e provar que o nome ou o sobrenome causam algum tipo de constrangimento ou situação vexatória. Os motivos podem variar de homônimos, erros de digitação do escrivão, constrangimentos ou até mesmo nomes excêntricos.

Outro ponto é recorrer à justiça para fazer uma ação de retificação de registro civil ou uma ação para modificação de prenome. “Em qualquer hipótese, é preciso provar que a mudança no nome não será usada para evitar compromissos jurídicos, financeiros, entre outros. Essa certeza pode ser provada por meio de certidões negativas da Justiça Federal, Justiça estadual, juizados especiais, cartório e distribuidor de protestos”, explica a defensora pública.

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