<span style="font-size:14px;"><u>Ronaldo Dias</u></span><br /> <span style="font-size:14px;"><em>Contador</em><br /> <br /> Quando iniciei na área contábil, há mais de 22 anos, já ouvia uma corrente de pensamento quanto à alta carga tributária do Brasil, que, segundo essa teoria, faria com que as empresas não se sustentassem e muitas delas fechassem suas portas rapidamente ao tentar enfrentar esse "Golias".<br /> <br /> É notório que a carga tributária no Brasil é muito alta. E além dela vem junto o custo Brasil, formado pela burocracia e avalanche das chamadas obrigações acessórias, que são as informações, declarações e procedimentos solicitados pelos governos municipais, estaduais e federal sobre os impostos recolhidos. O Brasil é campeão mundial neste quesito com mais de 2.600 horas gastas por ano para lidar com a apuração e informações sobre os impostos. Isso é dezenas de vezes mais que nossos vizinhos latinos, por exemplo.<br /> <br /> Mas será que, de fato, são os impostos e a vontade de trabalhar corretamente no país do jeitinho e da corrupção que fazem com que uma empresa não se sustente? A carga tributária seria o único vilão desta história? Será que a quebra de uma empresa não se daria pelo dono não ficar sentado no caixa tomando conta do dinheiro, ou por falta de funcionários de confiança, ou ainda por não se preocupar em comprar e vender bem?<br /> <br /> Vamos analisar mais um pouco o que acontece no Brasil em relação aos impostos e à gestão, para responder essas questões.<br /> <br /> Em outros países, o dinheiro que não é pago em impostos (sonegado) vai para o bolso do empresário. Porém, no Brasil, acontece um fato interessante. O que não é pago ao governo é muitas vezes oferecido aos "pobres consumidores", uma espécie de ação de um Robin Hood tupiniquim. Explico: o imposto não pago é dado como desconto no preço ao consumidor, não aumentando o lucro do empresário. Isto cria uma concorrência desleal com aquele que cumpre a lei, prejudicando muitos mercados ou reduzindo ainda mais margens de lucro.<br /> <br /> Nossa, Ronaldo, então como consegue seguir adiante com um empreendimento que trabalha corretamente, principalmente na crise, já que não conseguimos impedir quem trabalha na ilegalidade? Para responder essa pergunta, vejamos o que dizem atualmente alguns especialistas.<br /> <br /> Em novembro de 2014, o consultor da presidência da CNC (Confederação Nacional do Comércio), Roberto Nogueira, já previa dificuldades para 2015, vislumbrando aumento no fechamento de empresas. "Quem vai sobreviver daqui para a frente serão os empreendedores cada vez mais profissionais. Quem for apenas curioso, vai sair do mercado", ressaltava também o professor José Eduardo Amato Balian, da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).<br /> <br /> Outro professor, da Fundação Instituto de Administração (FIA), Célio Placer, concordando com a análise de Amaro Balian, afirmara que, atualmente, as pessoas estão tendo maior acesso à informação de como iniciar seus negócios. Ele traçou na ocasião um diagnóstico, que lança luz sobre o nosso questionamento inicial, quando acrescenta que "as causas de mortalidade de empresas são, muitas vezes, falta de preparo para gerenciar. No entanto, as pessoas estão buscando mais conhecimento nesse sentido", disse o renomado professor.<br /> <br /> Isso pode explicar o porquê de, apesar dos altos impostos, muitos empreendedores estarem firmes, fortes e melhor preparados para assumir os riscos do negócio, pois seus modelos já preveem todos os impostos embutidos no seu custo.<br /> <br /> “Assumir riscos ou correr riscos não são a mesma coisa?”, perguntaria um leitor mais intrigado.<br /> <br /> Respondo: Há uma diferença sutil entre uma coisa e outra. Corre risco aquele que, por não conhecer todos os riscos, fatos, processos e complexidades de se ter uma empresas no Brasil, lança-se rumo ao desconhecido. <br /> <br /> Já aquele que assume riscos, é diferente. Ele busca conhecimento, traça planos, conhece mais profundamente as informações mínimas para se ter um negócio, vislumbrando previamente a maioria dos futuros problemas e perigos e enfrentando-os de maneira proativa e não reativa. Ele enxerga os gargalos de antemão. Não se lança numa viagem no escuro, sem saber qual caminho seguir, como faz aquele que apenas correria riscos.<br /> <br /> Ok, mas isso vale também para as médias empresas? Como elas estão neste cenário?<br /> <br /> Aqui, eu vejo um ambiente mais complexo, pois essas empresas não conseguem ter os benefícios tributários das pequenas, muito menos conseguiriam funcionar sem uma estrutura importante e especializada de pessoal, com vários departamentos, segregação de funções. Neste caso, elas estão mais sujeitas à burocracia eletrônica e fiscalização. Requerem, por isso, ainda mais gestão, estruturas tecnológicas e uma legislação de incentivo ao crescimento. Faltam ainda políticas públicas para este segmento.<br /> <br /> Então, para responder definitivamente a pergunta inicial, posso dizer seguramente que os impostos de fato impactam as empresas, mas não são decisivos em determinar a mortalidade das mesmas quando elas optam por andar na linha. Eu conheço vários exemplos de empresários de todos os portes que pagam todos os impostos ao qual estão sujeitos, e mesmo assim continuam ilesos a esta tenebrosa teoria, crescendo e se desenvolvendo.<br /> <br /> Isso é fácil? Seguramente que não. Mas, afinal, alguma coisa é fácil, quando se pensa nos desafios que um empreendedor precisa enfrentar para ir em busca do seu sonho? Só não adianta é correr risco. Vale a pena, sim, assumir riscos, e buscar toda a informação e conhecimento necessários para se lançar na vida de empresário. Um planejamento tributário é imprescindível; também é importante contar com uma equipe capacitada e cercar-se de bons profissionais e até mesmo consultorias especializadas no ramo. Fazendo esse dever de casa, nem mesmo o peso e avidez do seu maior sócio (o governo) serão capazes de vencê-lo na sua jornada empreendedora.<br /> <br /> <u>Ronaldo Dias Oliveira</u> é empresário contábil, diretor da Brasil Price Gestão Contábil em Araguaína (TO)</span>