Pequenos afetos na opressão de viver

Por Redação AF
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13/11/2014 09h35 - Atualizado há 5 anos
<span style="font-size:14px;"><u>Ricardo Gondim</u><br /> <br /> Criei coragem de encarar a realidade e vi como a opress&atilde;o se alastra pelo mundo. A tirania est&aacute; por todos os lados; &eacute; c&acirc;ncer que destr&oacute;i e esmaga indiscriminadamente. As l&aacute;grimas de milh&otilde;es empo&ccedil;am valas e inundam alamedas enquanto outros milh&otilde;es desenvolvem mecanismos que os distraem. Eles n&atilde;o ligam para a banalidade do sofrimento humano. E mesmo que se importassem, qualquer esfor&ccedil;o de aliviar a dor do oprimido n&atilde;o faria muita diferen&ccedil;a. O opressor disp&otilde;e de mecanismos pol&iacute;ticos, econ&ocirc;micos, midi&aacute;ticos e religiosos. Quem esmaga se v&ecirc; inocente e consegue convencer os demais de sua pureza. Ele det&eacute;m o poder.<br /> <br /> Melhor morrer do que viver a pen&uacute;ria do exclu&iacute;do. Melhor deixar de existir a padecer sob o jugo da mis&eacute;ria e no horizonte curto. Melhor desaparecer a aturar o desd&eacute;m humano. Contudo, melhor mesmo &eacute; nunca ter nascido. Um aborto pode considerar-se mais bem-aventurado do que o menino e a menina, condenados a amargar a exist&ecirc;ncia na masmorra da falta de perspectiva; numa indig&ecirc;ncia absoluta.<br /> <br /> A vida n&atilde;o passa de competi&ccedil;&atilde;o, de batalha, de constante disputa. Para cada sucesso, in&uacute;meros outros provam a dor do fracasso. Nada somos sen&atilde;o bichos numa corrida pela sobreviv&ecirc;ncia do mais forte. Os que desistem da lida cruzam os bra&ccedil;os, contudo, apressam a decad&ecirc;ncia que trazem a si mesmos. A vida &eacute; um absurdo. Somos tr&aacute;gicos &ndash; tudo o que consideramos vit&oacute;ria se resume a correr atr&aacute;s do vento.<br /> <br /> Conheci um solteir&atilde;o, sem herdeiros e sem sequer um irm&atilde;o. Esse homem mergulhou no trabalho dia e noite. Sempre desejoso de ganhar mais, acreditou que a riqueza supriria a sua sede de afetos. Esqueceu-se de se divertir. E nunca se perguntou: Para quem estou trabalhando tanto? A estupidez dele se evidenciou ao notar que o dinheiro &eacute; ingrato; jamais retribui sentimento com sentimento.<br /> <br /> Dinheiro produz v&aacute;rios bens, menos amigos. Triste, o rico se faz solit&aacute;rio. Mas o pobre se rodeia de camaradas. E os dois percebem que na hora do tombo, a sombra de um companheiro vale mais que os tesouros do rei. A m&atilde;o que levanta o ca&iacute;do, que estimula o desanimado e que alenta o culpado &eacute; sagrada. Maldito aquele que, apesar de toda a fortuna, n&atilde;o conta com ningu&eacute;m. At&eacute; no frio a presen&ccedil;a do amigo aquece &ndash; bendito calor. Na solid&atilde;o, qualquer inimigo parece mais amea&ccedil;ador do que na verdade &eacute;. Ao darmos as m&atilde;os, tornamo-nos um barbante de tr&ecirc;s dobras, dif&iacute;cil de rebentar.<br /> <br /> O jovem que n&atilde;o teme mudan&ccedil;as aponta para um futuro alvissareiro. O velho, mesmo que seja rei, mas que n&atilde;o aceita se corrigir, encarna o obscurantismo &ndash; ele &eacute; respons&aacute;vel pelo atraso e pela renit&ecirc;ncia da estupidez. N&atilde;o importa se o jovem vem da marginalidade ou da linhagem nobre, vale sua coragem de apontar um futuro novo.<br /> O povo, ansioso por mudan&ccedil;a, atirou-se nas propostas que o jovem gritava na rua. Amargou, por&eacute;m, o retrocesso ao ver a gera&ccedil;&atilde;o seguinte insatisfeita com as mudan&ccedil;as que aconteceram. Anos depois recrudesceu o conservadorismo. O p&ecirc;ndulo foi e voltou com a mesma rapidez. Viveremos sempre nesse limiar, inquietos, considerando a vida uma tolice, um correr atr&aacute;s do vento.<br /> ----------------------------------------------------------------------------------------------------<br /> <strong><u>Ricardo Gondim</u></strong> &eacute; escritor e te&oacute;logo, presidente da Conven&ccedil;&atilde;o Betesda Brasil. E-mail: ricardogondin2@gmail.com</span>
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