A reta final da campanha eleitoral ao Governo do Tocantins ganhou um capítulo de preconceito, discriminação e intolerância religiosa, além de um péssimo exemplo de como não se deve fazer política. A vítima é
Lucelina Gomes dos Santos, uma idosa de 88 anos, líder quilombola e devota do Divino Espírito Santo.
Dona Juscelina, como é conhecida, é neta de escrava e lidera uma comunidade com 263 famílias quilombolas em Muricilândia, norte do Estado, reconhecida desde 2007 pelo Governo Federal. A casa dela é uma referência e atrai muitos visitantes. Nessa terça-feira (30),
Dona Juscelina recebeu a visita do candidato a governador
Vicentinho Alves (PR). A líder quilombola conversou, contou um pouco de sua longa história e rezou o Pai Nosso junto com o senador. Em seguida, começaram a circular nas redes sociais fotos com comentários racistas e preconceituosos, inclusive compartilhados por figuras públicas como o vereador de Porto Nacional,
Geylson Gomes. "
Após reuniões em Muricilândia, candidato a governador Vicentinho Alves vai a terreiro de macumba pedir despacho para ganhar as eleições", dizia o post. O comentário gerou revolta e repúdio da comunidade negra no Estado.
Prefeito lamenta O prefeito da cidade,
Alessandro Borges (PP) destacou que
Dona Juscelina é uma referência e grande defensora dos direitos humanos, inclusive já reconhecida com o prêmio
"Boas Práticas em Direitos Humanos do Tocantins".
"É lamentável esse tipo de atitude e preconceito. Dona Juscelina é uma pessoa ilustre da nossa cidade. Intolerância religiosa e de qualquer natureza precisam ser banidas do nosso Tocantins e do Brasil", lamentou o prefeito.
"A política passa. Os mesmos que estão atacando a Dona Juscelina amanhã estarão aqui pedindo a bênção dela. Todos os políticos que vem a Muricilândia passam primeiramente na casa da Dona Juscelina. Não é justo! Aqui é a casa de uma senhora, uma pessoa que cuida de mais de 263 famílias. Pedimos somente respeito a todos os quilombos do Tocantins", desabafou Alessandro Borges. A líder quilombola já recebeu visita até da Ministra de Promoção da Igualdade Racial,
Luiza Helena de Bairros, e de uma comitiva de Roma.
Dona Juscelina também realiza na cidade o Festejo da Abolição e coordena programas sociais em prol da comunidade negra.
Dona Juscelina chora Muito magoada e entristecida,
Dona Juscelina chorou ao comentar o episódio de discriminação.
"Fui parteira durante 25 anos, sou amiga dos evangélicos e de todas as igrejas. Recebo qualquer um na minha casa. Fui quebradeira de coco, não mereço aguentar uma 'defama' desse jeito. Chamar eu de feiticeira, macumbeira... Estou muito sentida e derramando lágrimas. Meu Deus é aquele do Céu, que morreu na cruz por nós todos", desabafou Dona Juscelina.