<div style="text-align: justify;"> <u><strong><span style="font-size:14px;">Raylinn Barros da Silva</span></strong></u><br /> <br /> <span style="font-size:14px;">Nos últimos meses o mundo vem acompanhando pelos noticiários a mudança no comando do catolicismo com a eleição de Francisco, o novo Papa. Ao aparecer na sacada da basílica de São Pedro e se apresentar ao mundo católico, e não católico, o novo Papa esbanjou um sorriso afável, animador e contagiante. Chamado da América Latina, o primeiro papa latino da história surpreendeu de novo pela escolha do nome: Francisco.<br /> <br /> A escolha desse nome para o mundo leigo tem o significado de simplicidade, humildade, popularidade em escala global, visto o nome Francisco ser um dos mais populares do mundo ocidental. Mas para os especialistas em religião em geral e em catolicismo em particular, a escolha desse nome tem muito a dizer à própria igreja e ao mundo exterior. O novo papa é da ordem jesuíta, antiga Companhia de Jesus fundada por Inácio de Loyola responsável pela expansão da igreja na era moderna e no combate às heresias que surgiam a partir da Reforma Protestante no início do século XVI.<br /> <br /> Por esse simples motivo a ligação do nome do novo comandante da igreja com um ideal de expansão do catolicismo, de reconfiguração do mundo católico e de uma atenção especial ao problema da perca gradativa de católicos para as outras igrejas cristãs, sobretudo na América Latina nos ajuda a imaginar um direcionamento que o novo papa dará às ações do líder do catolicismo em escala global.<br /> <br /> Mas sabe-se que o novo papa também é devoto de São Francisco Xavier grande nome da evangelização na seara cristã ao longo dos dois mil anos da igreja católica. Com uma reputação missionária que o coloca talvez em igualdade de importância evangelizadora de personagens do porte do apóstolo Paulo, Xavier contribuiu de forma significativa na configuração de um novo catolicismo mais ligado ao espírito de missão e de renovação.<br /> <br /> O terceiro ponto a ser discutido a partir da escolha do nome do novo papa é a ligação com outro santo, talvez o mais popular, mais corajoso e mais renovador na história da igreja. Trata-se de São Francisco de Assis. São Francisco entrou para a história como aquele que defendeu a todo custo um modelo de igreja que mais do que missionária e evangelizadora, deva ser uma igreja pobre e para os pobres. Esse ideal inclusive na época de Francisco de Assis chegou a incomodar grandemente a hierarquia católica enclausurada dentro dos muros do Vaticano, hierarquia acostumada à ostentação e ao apego aos bens materiais e pouco espirituais.<br /> <br /> Mas para além das especulações acerca do rumo que Papa Francisco deva empreender em seu pontificado que está apenas começando é a postura que o argentino quer dá à igreja diante da mais séria e profunda crise que o catolicismo passa nos últimos tempos. Herdeiro de um problema sem igual na história do cristianismo católico caberá a ele enfrentar com ardor missionário de Inácio de Loyola, com o espírito evangelizador de Francisco Xavier e a humildade renovadora de Francisco de Assis os desafios que estão à frente de seu pontificado.<br /> <br /> Acredito que a saída para essa crise estrutural que é mais moral do que qualquer outra, deva o papa Bergoglio enfrentá-la com a coragem de quem tem a “chave” de São Pedro nas mãos. Como quem detém o poder da chave tem o poder de abrir e fechar, esperemos que o novo papa tenha coragem de abrir a igreja às mudanças tão necessárias nesse momento histórico por qual passa o catolicismo e a determinação de fechar as portas da igreja para realidades que vem ao longo dos séculos afetando a igreja como a obrigatoriedade do celibato e a rigidez desnecessária dos dogmas.<br /> <br /> A história da igreja nos faz acreditar que é como resultado das crises pelas quais a igreja passou que ela foi buscar nos seus erros históricos mecanismos de reflexão para uma renovação. Mas a crise que hoje mergulha a igreja em escândalos de pedofilia, homossexualidade, disputas internas por poder e corrupção financeira nos faz refletir que mais do que uma igreja cristã a igreja católica precisa retomar seus valores cristãos que foram ao longo dos séculos sendo deixados de lado diante dos olhos de todo o mundo.<br /> ______________</span><br /> <span style="font-size:12px;"><em>Raylinn Barros da Silva é Graduado em História e Pós-Graduado em Ensino de História pela UFT (Universidade Federal do Tocantins). Tem experiência na História Regional, atuando principalmente na pesquisa dos temas que envolvem a Igreja Católica e suas missões religiosas no extremo norte de Goiás, hoje Tocantins.</em></span></div>