Devido ao uso de drogas e o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, José Leandro da Conceição, de 39 anos, experimentou por mais de 20 anos o lado sombrio da dependência química. O morador do Setor Lago Azul conta que, durante todos esses anos, o vício fez com que ele perdesse amigos, emprego e bem materiais, mas o que permaneceu firme e forte foi o amor da companheira, Vânia Maria Mangueira.

“Quero agradecer a Deus, em primeiro lugar, e a todos que estão me ajudando no tratamento. Também quero dizer algo muito importante para a minha mulher, Vânia. Você é muito especial para mim e por isso eu quero te pedir perdão por tudo que eu fiz. Se hoje estou aqui me recuperando foi porque você que nunca me abandonou", disse o interno, José Leandro.

Ainda ao lado da mulher e de mãos dadas, o paciente também aproveitou a oportunidade para fazer um pedido de casamento. De joelhos e de frente para a companheira, ele fez a promessa de se casar com a amada daqui três meses, período que finaliza o tratamento, e ela, com alegria, aceitou.

“Vânia sempre esteve ao meu lado e com paciência me ajudou a procurar ajuda. Ela sempre quis casar na igreja e, quando eu sair daqui, vou realizar o sonho dela que agora é meu também”, expressou.

Histórias de superação

O emocionante pedido de casamento foi feito no último dia 23, durante a primeira formatura de 2023 da Unidade de Acolhimento Adulto (UAA), que entregou a 12 internos o Certificado de Conclusão de Tratamento contra a dependência química.

Localizada em uma chácara, no Setor Tocantins, próximo ao perímetro urbano da cidade, a UAA atende, desde 2017, homens com 18 anos ou mais. O tratamento é gratuito e mantido pela Secretaria Municipal da Saúde de Araguaína. O espaço de acolhida conta com dormitórios, banheiros, cozinha, e sala para atividades e consultas, onde o paciente é acompanhado por médico psiquiátrico, psicólogos, terapeutas, assistentes sociais, entre outros profissionais.

Para ser atendido no local, o paciente deve primeiro passar pelo Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPS AD III), que é porta de entrada para o tratamento. De acordo com a coordenadora Kelita Oliveira, o atendimento é elaborado pela equipe multidisciplinar e só pode ser iniciado por meio da internação voluntária, ou seja, quando o dependente aceita se recuperar.

“É um processo demorado e precisa ter o consentimento e o desejo não só por parte da família, mas também do paciente. Só assim, por livre e espontânea vontade, o paciente é atendido no CAPS, onde iniciamos com a desintoxicação do organismo, que pode durar até 15 dias, e logo depois encaminhamos o paciente para o acolhimento”, explica.

Apoio da família

O diretor da unidade de acolhimento, Wagner Enoque, destaca que a entrega do certificado de conclusão de tratamento, que é realizada a cada semestre, é muito importante, pois atesta que aquele paciente mostrou muita força e coragem para vencer a dependência química.

“Entregar o certificado é um dos momentos mais esperados e, quando a família está por perto, a emoção é ainda maior. É muito importante que eles ouçam das pessoas mais próximas o tanto que são importantes e fortes para superar essa fase ruim", ressaltou.

Nunca é tarde para recomeçar

Seu Filogônio Chaves dos Reis, de 78 anos, sabe o tanto que a família foi importante durante os seis meses de internação. Ele foi um dos ex-dependentes a concluir o tratamento e receber, junto dos filhos, o certificado.

“É uma emoção muito grande ver meu pai recuperado, pois só a gente sabe o tanto que ele sofreu com esse vício. É hora de voltar para casa e recomeçar”, disse a filha Sueli Alves dos Reis.

Sobre a dependência química

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a dependência química é multifatorial e não está restrita a qualquer grupo social, racial ou etário. A dependência química também envolve as consequências físicas e mentais trazidas pelo abuso de substâncias nocivas ao organismo, como o álcool e a nicotina, e substâncias ilícitas como a maconha, cocaína e o crack.

Como tratar a dependência

Os interessados em tratar a dependência química em Araguaína podem procurar o CAPD AD III, na Rua 12 de Outubro, nº 435, no Centro, das 7 às 19 horas. A unidade também atende pacientes por meio das Unidades Básicas de Saúde. O CAPS, juntamente à Unidade de Acolhimento Adulto, oferece atendimento psicológico e psiquiátrico, atividades terapêuticas, amparo pedagógico e de assistência social.

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Pacientes e ex-dependentes químicos se emocionaram com as homenagens realizadas durante a entrega de certificados / Foto: Marcos Filho Sandes

Seu Filó ao lado das filhas Sueli e Terezinha e do filho Nilton / Foto: Marcos Filho Sandes