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Será que os artistas vão desaparecer do planeta? Escritor e professor Francisco Neto faz reflexão

Autor é psicanalista, escritor, professor e Doutor em Letras

Por Colaboração do leitor
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27/08/2024 09h03 - Atualizado há 5 dias
Francisco Neto Pereira Pinto é psicanalista, escritor e professor

Francisco Neto Pereira Pinto | Artigo

Minha opinião, você já deve imaginar. Mas e você, o que acha? Há quem acredita que a inteligência artificial ainda vai tomar o lugar do artista, porque, como já está acontecendo com outros ofícios e profissões, ela será capaz de fazer arte com mais perfeição e velocidade que qualquer humano.

Na verdade, para ficar somente na área da literatura, há mais de 100 anos já se profetizava que os livros literários deixariam de existir, exatamente em função do avanço da tecnologia e do surgimento, por exemplo, da vitrola, depois do cinema, da televisão, dos games, da internet etc.

Agora, porém, não são apenas os meios que estão ameaçados em sua existência, mas sim o próprio artista. O ChatGPT em segundos pode elaborar um poema com rimas que daria inveja a Olavo Bilac, se ainda fosse vivo. No entanto, Immanuel Kant, filósofo alemão, em sua Crítica da Faculdade do Juízo, de 1790, já dizia que a beleza não depende de perfeição nem de medidas ou conceitos preestabelecidos. Para ele, apenas a subjetividade de uma pessoa pode dizer se uma obra de arte, como um conto, um romance ou um poema, é bela ou não. É por isso que uma música, um filme, um livro agrada a uma pessoa e a outra não, a um grupo de pessoas e a outro não. Ou seja, ninguém tem um padrão seguro para medir ou julgar a beleza de uma obra de arte porque, em última instância, os gostos variam de pessoa para pessoa e ninguém é igual cem por cento a ninguém.

O ChatGTP e qualquer outra inteligência artificial disponível no momento funciona a partir de parâmetros definidos por humanos, ou seja, elas não têm a capacidade de pensar a si e por si mesmas, ter consciência de sua própria existência. Elas não amam, não odeiam, não sofrem, não têm esperança, não têm ansiedade, não têm medo da morte. Será que sem os sentimentos, as emoções, as crenças e os dilemas da existência que são próprios dos humanos, uma obra de arte é capaz de tocar, mexer e inspirar o coração e a mente de uma pessoa?

Sigmund Freud, em texto de 1908, estabeleceu uma comparação entre a criança, uma pessoa adulta e o artista. Para o pai da Psicanálise, a criança gosta e precisa de brincar, ao passo que a pessoa quando cresce e fica adulta, e não pode mais brincar como uma criança, substitui o brincar pelo fantasiar – criar castelos de areia no ar, ou sonhar acordado, como muitos gostam de dizer. Já o artista, se aproveitando de tudo isso, dá um passo a mais – ele cria sua obra de arte. Para Freud, então, o artista retira seu material de sua própria fantasia, do que lhe é mais singular em sua existência. Ele elabora esse conteúdo por meio de sua técnica artística, como que dando um banho de beleza, transformando-o em uma obra de arte, que depois as outras pessoas vão fruir, admirar e se encantar.

Será que uma inteligência artificial hoje é capaz de fazer isso que o artista faz? Deixo em aberto para você dar sua própria resposta.

Sobre o autor

Francisco Neto Pereira Pinto é Psicanalista, Escritor e Professor. Doutor em Letras. Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Linguística e Literatura da UFNT. É autor de vários livros de literatura, dentre estes os infantis 'O gato Dom' e 'Você vai ganhar um irmãozinho', que estão disponíveis na Amazon. Siga o autor no Instagram.

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