Críticas envolvem mal funcionamento de ar-condicionado de aviões, atrasos e cancelamentos.
Notícias do Tocantins - Após o acidente com o voo 2283 da Voepass, que deixou 62 mortos na última sexta-feira (9/8) em Vinhedo (SP), passageiros compartilharam nas redes sociais relatos de experiências ruins que tiveram com a companhia aérea, que até 2019 se chamava Passaredo.
Os posts da escritora Daniela Arbex, do cantor MC Hariel e do comediante Jonathan Nemer repercutiram e vídeos que mostram as condições de voo voltaram a viralizar.
Com sede em Ribeirão Preto (SP) e fundada em 1995, a Voepass enfrentou dificuldades financeiras e passou por recuperação judicial entre 2012 e 2017 para renegociar dívidas. Durante o processo de reestruturação, demitiu 200 funcionários e deixou de fazer algumas rotas.
Atualmente, segundo informações da própria empresa, a Voepass conta com uma frota de 15 aeronaves nos modelos ATR-42 e ATR-72 (o modelo que caiu), opera rotas para 26 destinos em todas as regiões país e tem cerca de 1 mil colaboradores. Em 2023, a companhia transportou cerca de 500 mil passageiros.
No Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP), tramitam pelo menos 150 processos contra a companhia aérea desde 2021. A maioria pede indenização por danos morais.
No site Reclame Aqui, plataforma que auxilia conflitos entre empresas e consumidores, foram registradas quase 500 chamadas nos últimos seis meses. A Voepass respondeu apenas 9,2% e tem reputação classificada como "não recomendada".
As críticas de usuários vão desde as condições das aeronaves até problemas com atendimento, voos cancelados e não reembolsados e compra de bagagem despachada.
Procurada pelo g1, a Voepass informou que trabalha arduamente para atender as expectativas de seus clientes. “A empresa é solidária a eventuais queixas, que são consideradas para aprimorar a prestação de nossos serviços, e concentra o atendimento a elas em seus canais oficiais", respondeu em nota.
As principais concorrentes nacionais da companhia aérea são melhor avaliadas por usuários no Reclame Aqui. A Latam Airlines tem "boa" reputação entre consumidores e nos últimos seis meses, 99,9% das reclamações foram respondidas. A nota média dada pelos clientes foi de 6.65.
A GOL também tem atendimento avaliado como "bom" por passageiros. Das 12.708 reclamações, 96,5% foram respondidas, sendo que a empresa resolveu 79,6% das demandas.
A Azul tem o melhor resultado entre as quatro companhias, com desempenho "ótimo" entre os consumidores. Das 17.243 queixas registradas o site, 79,1% foram resolvidas pela empresa e 78,3% dos clientes voltariam a fazer negócio com a companhia.
No sábado (10), o Ministério Público do Trabalho (MPT) informou que investigará a responsabilidade da Voepass no acidente aéreo que matou os quatro tripulantes e mais 58 passageiros.
Em nota, a empresa informou que não tem conhecimento da citação, mas está à disposição das autoridades para esclarecimentos.
O avião modelo PS-VPB, ATR-72, saiu de Cascavel (PR) com destino a Guarulhos (SP) e se aproximava do pouso, quando perdeu a sustentação e caiu em espiral em um bairro residencial de Vinhedo, matando todos a bordo.
Calor e experiências ruins
Na quinta-feira (8), um dia antes da queda da aeronave, a escritora Daniela Arbex viajou no mesmo avião e registrou as condições do voo em vídeos publicados nas redes sociais.
"Quando fiz o voo de Ribeirão para Guarulhos, já estava sem ar-condicionado, já estava muito ruim. E o trecho de Guarulhos para o aeroporto regional da zona da Mata foi o pior trecho em que, de novo, não funcionou o ar-condicionado e eu comecei a filmar pra denunciar mesmo as condições de voo", explicou.
Segundo ela, não foi a primeira vez que o problema aconteceu e a tripulação não explicou o caso. "A gente não tinha uma resposta para esse problema. Cada vez que eu perguntava, eles informavam uma coisa. Não é a primeira vez, foi angustiante, foi insuportável, porque, em alguns momentos, a gente não conseguia respirar mesmo. Estava muito difícil a gente preso e sem ventilação", afirmou.
Ao site g1, um engenheiro que vive em Ribeirão Preto disse que já fez voos para São Paulo e Rio de Janeiro (RJ) com a companhia e a experiência nunca foi agradável.
"A experiência a bordo não é boa, não é confortável. O ar-condicionado não refrigera o bastante, é quente dentro da aeronave, elas não têm capacidade de refrigeração interna, você passa calor dentro do voo. Já peguei mais vezes a trabalho e a experiência foi a mesma", declarou.
Segundo ele, uma das vezes que precisou dos serviços da Voepass, o avião atrasou uma hora e meia e o compartimento de bagagem de mão não é compatível. "Você tem de despachar a bagagem, porque não cabe. A bagagem de mão não é compatível com o porta-bagagem interno", afirmou.
O comediante Jonathan Nemer também chegou a fazer uma publicação sobre as condições do avião em um voo da Voepass de Rio Verde (GO) para São Paulo há um mês. Por conta do acidente, ele republicou o vídeo na sexta-feira e o conteúdo viralizou.
"Não costumo reclamar, mas avião muito velho, atraso de mais de uma hora, ar-condicionado não funciona, assentos que não reclinam, serviço de bordo ofereceu apenas água em um voo de duas horas".
Ao repostar o vídeo, Nemer lamentou o acidente e as mortes dos passageiros e da tripulação. “Que Deus conforte as famílias… em Nome de Jesus. E fico com o coração apertado por cada vítima, sabendo que eu podia estar nesse avião”, escreveu no Instagram.
(Com informações do G1)