Tocantins

Casal homoafetivo adota adolescente que estava há mais de 6 anos em abrigo à espera de uma família

Por Redação AF
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06/12/2016 10h29 - Atualizado há 5 anos
Superando toda forma de preconceito, casais homoafetivos estão cada vez mais dispostos à adoção. Outra quebra de tabu é a adoção tardia (adoção após os três anos de idade). Em geral, os casais escolhem adotar somente recém-nascidos, brancos, meninas e sem irmãos. Uma história especial em Gurupi, teve dupla conquista – a adoção por um casal homoafetivo e tardia. O presente de Natal antecipado veio para o adolescente J.R.S., 13 anos, na tarde de sexta-feira (2), que vivia na Casa de Passagem Criança Cidadã. Com orientação do defensor público Kita Maciel, um casal homoafetivo de Maringá (PR) ingressou com Ação de Adoção, onde a guarda provisória foi deferida, com o estágio de convivência por quatro meses. Casado com Christian Sebastian há dois anos, Natalino Ferreira afirma que vive a realização de um sonho, pois o casal sempre teve o sonho de adotar um filho, independentemente da faixa etária, pois desejavam propiciar a alguém, que não tinha amparo de uma família, condições para tornar-se um ser humano feliz e realizado. “Ser pai é um sonho realizado. Quero poder dedicar muito amor ao meu filho, que foi muito desejado”, expressa. Para o adolescente, que agora tem dois pais, a adoção foi um presente de Natal. “Ganhei uma família e me tornei filho de alguém, é tudo que eu mais queria”, relata. Ainda no domingo, 4 de dezembro, a nova família mudou-se para a cidade de Maringá (PR), onde vai passar o estágio de convivência. O adolescente foi recebido na cidade pelos familiares e amigos de Christian e Natalino com festa. A comemoração contou com uma decoração especial com balões, cartazes que expressavam boas vindas ao adolescente e até copos personalizados que traziam o texto “minha família existe”. História Com apenas sete anos de idade, J.R.S foi encontrado perambulando pelo Parque de Exposições Agropecuárias de Gurupi por membros da Polícia Militar, que acionaram o Conselho Tutelar. Na época, o Conselho Tutelar verificou que a mãe estava cumprindo pena privativa de liberdade na Cadeia Feminina de Figueirópolis e expunha o filho à situações de risco e maus tratos. Diante disso, foi instaurada Ação de Destituição do Poder Familiar e J.R.S. foi encaminhado para o abrigo, em 05 de junho de 2010. Desde então, nenhum membro da família, nem mesmo a mãe, se dispôs a reaver a guarda do menor, que ficou aguardando por mais de seis anos no abrigo, pois não houve nenhum interessado no Cadastro Nacional de Adoção para adotá-lo. Christian e Natalino tomaram conhecimento da disponibilidade de J.R.S. para adoção por meio de um grupo de apoiadores de adoção no Whatsapp. A servidora do Tribunal de Justiça do Tocantins, Eliandra Souza produziu um trabalho de conclusão de curso do Mestrado sobre adoção tardia, ficou sabendo da história de J.R.S. e o indicou no grupo do Whatsapp para o casal, além de contribuir com uma campanha de arrecadação para as despesas da viagem da família. Natalino conta que, desde que souberam da situação de J.R.S., ele e o marido já demonstraram interesse em adotá-lo. Imediatamente, o casal procurou a Defensoria Pública de Gurupi e recebeu a devida orientação jurídica do defensor Kita Maciel. “Sentimos na hora em nossos corações que se tratava do filho que sempre sonhamos. Tenho certeza de que Deus fez o nosso filho para nós. Pois, se eu pudesse escolher dez vezes, nas dez eu escolheria ele”, descreve. A coordenadora do abrigo, Licemara Cardoso conta que J.R.S. sofria muito por não ter uma família. “Ele sempre via as outras crianças sendo adotadas e se sentia rejeitado”, lembra. Ela conta que ele não foge à regra da maioria dos adolescentes e enfrentou revoltas internas que refletem no comportamento, chegando a cometer até um ato infracional, aplicada medida socioeducativa de liberdade assistida. Contudo, saber do histórico de J.R.S. não desmotivou o casal, que seguiu firme na adoção. Segundo Licemara, desde que soube do interesse do casal, o jovem mudou totalmente. “Ele ficou mais alegre, aberto ao diálogo, se dedicando aos estudos”, comemora, acrescentando que, desde que se iniciaram os trâmites judiciais, os adotantes mantinham contato telefônico com o adolescente, o que trazia muita felicidade ao cotidiano do jovem. Adoção Atualmente, a maioria dos pretendentes à adoção só aceitam adotar crianças com até dois anos de idade. Enquanto isto, a maioria das crianças disponíveis para adoção tem mais de seis anos de idade. Segundo o Cadastro Nacional de Crianças Abrigadas, existem 27.262 crianças com idade entre sete e 17 anos vivendo em um dos 3.872 abrigos espalhados pelo País. A coordenadora do Nudis – Núcleo da Diversidade Sexual da DPE-TO, a defensora pública Valdete Cordeiro conta que a adoção por casais homoafetivos segue os mesmos parâmetros da adoção por casais heterossexuais. Segundo ela, o primeiro passo é procurar uma Vara da Infância e Juventude para preencher um formulário. Nele, os pretendentes colocam se aceitam qualquer criança ou quais são as exigências. “Os candidatos são convocados para um curso de adoção, com psicólogos e assistentes sociais e também passam por entrevistas com o assistente social para conhecer o futuro lar da criança e saber se ele está habilitado para recebê-la”, ressalta, acrescentando que, diante do relatório, o Ministério Público dá o parecer e a juíza da Vara homologa a decisão. (Cinthia Abreu - DPE)

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