Nielcem Fernandes // AF Notícias O embrionário Estado do Tocantins, no alto de seus 30 anos, assiste desde os primórdios o fenômeno da
‘familiocracia’ na política, arraigada em todos os rincões do nosso país. Com a aproximação das eleições de outubro, o eleitor tocantinense presencia, mas do que nunca, a tentativa das
‘oligarquias’ se perpetuarem no poder. A exemplo dos Mirandas e Siqueiras, que foram os primeiros a lançar seus sucessores nos palanques políticos, atualmente outros nomes estão se apresentando para a corrida sucessória.
TAL PAI, TAL FILHO! E tal esposa... O patriarca da família Miranda é o ex-deputado por Goiás,
José Edmar Brito Miranda. Dele surgiu
Marcelo Miranda, que já foi deputado estadual, governador por três vezes e cassado por duas. E deste surgiu a deputada federal
Dulce Miranda, candidata à releição. Nos Siqueiras, o patriarca
José Wilson Siqueira Campos ostenta nada menos que quatro mandatos de governador. Elegeu o filho,
Eduardo Siqueira, como o primeiro prefeito de Palmas e depois deu a ele mais dois mandatos de deputado federal, um de senador e agora de deputado estadual, e candidato à reeleição.
OS ABREUS O caso da família
Abreu também chama a atenção. Atual senadora e candidata a vice-presidente da República,
Kátia Abreu (PDT), tenta emplacar o filho no Senado Federal. O deputado federal
Irajá Abreu (PSD) lançou o seu nome em um projeto ousado. Caso seja eleito, será a primeira vez na história que genitor e rebento ocuparão, ao mesmo tempo, o cargo de Senador da República pelo mesmo Estado. O outro filho da Senadora,
Iratã Abreu foi eleito vereador de Palmas em 2012, mas desistiu de disputar a reeleição em para cuidar dos negócios da família.
NEGÓCIO DE PAI E FILHO! Outro caso em particular que merece atenção é a dobradinha feita pelo ex-governador e deputado federal candidato à reeleição
Carlos Gaguim (DEM) e seu filho,
Bruno Otávio Carrijo Silva Tomazini Amorim, ou simplesmente Bruno Gaguim), que também disputará uma vaga na Câmara Federal. O filho do ex-governador já disputou o cargo de deputado estadual pelo PMDB em 2014, mas não foi eleito.
OS BARBOSAS.. PAI, FILHO E IRMÃO... O atual vice-governador e candidato à reeleição
Wanderlei Barbosa (PHS), que deixou a Assembleia Legislativa para ocupar o cargo, vê no seu filho, o vereador
Léo Barbosa (SD), a possibilidade de manter a representação da família no Poder Legislativo estadual.
Léo Barbosa foi eleito vereador em 2016 e, em menos de dois anos, já tenta emplacar o seu nome entre os 24 parlamentares da Casa de Leis tocantinense. Além do filho,
Wanderlei Barbosa tem o irmão,
Marilon Barbosa (PSB), também no cargo de vereador da Capital.
OS VICENTINHOS... O senador
Vicentinho Alves (PR), e seu filho, o deputado federal
Vicentinho Júnior (PR), estão no páreo da reeleição nos respectivos cargos, a fim de manter acessa a chama da família na política. Outro filho, Neto Aires, já foi vereador em Porto Nacional, berço político da família.
OS DIMAS.... Outro político que tenta emplacar o filho na política é o prefeito de Araguaína
Ronaldo Dimas, que já foi também deputado federal. Dimas não encontrou segurança jurídica para disputar a eleição suplementar e, por consequência, as eleições de outubro, porém lançou o seu filho
Tiago Dimas (SD) como candidato a deputado federal. Sem nunca antes ter disputado um cargo eletivo, Tiago é a esperança de manter o nome dos Dimas em voga no cenário político tocantinense, principalmente após o fim do mandato do pai como prefeito da segunda maior cidade.
OS RIBEIROS... A presidente da Assembleia Legislativa, deputada estadual
Luana Ribeiro (PSDB), está em busca do quatro mandato consecutivo. Ela sempre faz questão de ressaltar o orgulho que sente ao carregar o legado do pai, o senador
João Ribeiro (
in memoriam).
CÉSAR SIMONI, O NOVO COM A PRÁTICA ANTIGA... Mesmo em sua primeira disputa política, o ex-secretário de Estado da Segurança Pública,
César Simoni (PSL) candidato a governador, não perdeu tempo e lançou seu filho,
Augusto Simoni (PSL), como candidato a deputado federal. Afinal de contas, quase todos os políticos fazem o mesmo, não há nada anormal... Simoni é promotor de justiça aposentado e está na disputa com o apoio de Jair Bolsonaro, entoando um ferrenho discurso de combate à corrupção.
LAÇOS MATRIMONIAIS A
‘Familiocracia’ também está presente não só nos laços de sangue, mas também nos votos matrimoniais. Confira os casais que têm força na política tocantinense.
MIRANDAS O ex-governador cassado
Marcelo Miranda (MDB), elegeu sua esposa, a atual deputada federal
Dulce Miranda (MDB), com a maior votação da história do Tocantins. A deputada é candidatada à reeleição e conta com o apoio do marido, que apesar de inapto à candidatura, tem forte inflência no eleitorado tocantinense.
LELIS O ex-deputado estadual
Marcelo Lelis (PV), atualmente inelegível, é marido da ex-vice-governadora cassada
Cláudia Lelis (PV), que tenta uma cadeira na Assembleia Legislativa.
SEABRAS A ex-secretária de Estado da Educação e atual deputada federal
Dorinha Seabra (DEM), candidata à reeleição é esposa do ex-vereador da capital
Fernando Rezende. Ele perdeu a última eleição.
BOTELHO'S O deputado federal
Lázaro Botelho (PP), candidato à reeleição, é casado com a deputada estadual
Valderez Castelo Branco (PP), também candidata a reeleição. Contudo, foi Valderez que 'presenteou' Lázaro com um mandato de deputado federal. Ela foi prefeita de Araguaína por duas vezes e conseguiu a musculatura política necessária para a vitória do marido, que já tenta o 4º mandato consecutivo na Câmara Federal.
ENTRE IRMÃOS... O deputado estadual
Toinho Andrade (PHS), candidato à reeleição, é irmão do ex-prefeito de Porto Nacional
Otoniel Andrade.
ENTRE IRMÃOS 2 O também deputado estadual
José Bonifácio (PR) desistiu de disputar a reeleição, mas colocou outro membro da família na disputa, ex-prefeito de Tocantinópolis
Fabion Gomes. Aliás, esse revezamento entre irmãos já é normal. Ora Fabion está na Assembleia e Bonifácio na Prefeitura, e vice-versa. Dessa vez o prefeito da cidade é o filho de Bonifácio, Paulinho Gomes. Tudo em família...
ENTRE IRMÃOS 3 Os laços sanguíneos são quase infindáveis na política tocantinense. A deputada estadual do PT,
Amália Santana, candidata à reeleição, é irmã do ex-prefeito de Colinas do Tocantins
José Santana Neto (PT), por dois mandatos.
ENTRE IRMÃOS 4 O também deputado estadual e candidato a federal,
Eli Borges (Solidariedade) é irmão do ex-vereador em Palmas
Joel Borges (PMN).
A FAMILIOCRACIA Inaugurada em Mato Grosso na década de 1930 pelo ex-senador
Filinto Muller, a
‘familiocracia’ tem ampliado seus espaços nos Estados mais acentuadamente a partir dos anos 80. São centenas de políticos que estenderam o poder para seus parentes. Irmãos, filhos e esposas são os mais estimulados a ingressar na política. O cientista político, professor-doutor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT),
Manuel Motta, afirma que a ‘Familiocracia’ é uma característica das elites brasileiras mais tradicionais. "
Talvez, o primeiro estágio da oligarquia". Segundo o cientista, o fato é comum e não chega a ser uma oligarquia, como ocorre no Nordeste e no Estado de Minas. O professor aponta que na região nordestina, por exemplo, em Pernambuco, tem oligarquia que atua desde o século 19, consecutivamente.
“A ‘Familiocracia’ não é boa para a democracia, sobretudo pelo ponto de vista popular. É um esforço das elites brasileiras”, define Motta. A ‘
Familiocracia’ implica na ampliação do poder entre membros de uma mesma família sem que necessariamente isso seja passado de geração para geração, quer dizer, dos mais velhos para os mais novos. Já
‘Oligarquia’ tem o propósito claro de fincar raízes.
Confira aqui a lista de outros nomes ligados a políticos já tradicionais.