Descaso

Alagada há meses, aldeia vive abandono e cacique desabafa: 'só tem promessa e mentira'

Segundo o cacique da aldeia, a última visita da Funai foi há mais de um mês.

Por Karina Custódio 701
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04/03/2022 08h36 - Atualizado há 2 anos
Cheia do rio Formoso provoca alagamentos na aldeia

A cheia do rio Formoso inundou a aldeia Takaywra, localizada próxima ao município de Lagoa da Confusão, região oeste do Tocantins. A comunidade já teve dezenas de casas parcialmente submersas, perdeu plantações, hortas e sofre com a entrada de jacarés e sucuris que vêm comer as galinhas e porcos criados pelo Povo Panhí (Krahô).

O cacique José Valdete Krahô conta que a última visita da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) à comunidade foi há mais de um mês atrás e que a única ajuda recebida vem da prefeitura que destina cestas básicas. Segundo o cacique, mesmo com o constante aumento do nível do rio, a Defesa Civil não faz visitas ao Povo Panhí.

Indignado, o líder da aldeia manifesta sua decepção com as autoridades: “A nossa situação é espantosa, viver um mês, dois meses, dentro d'aguá não é coisa de se acreditar… O que estamos vivendo é esse descaso, não é só do pessoal do município, é o pessoal da Funai, não cuida, só tem promessa, só tem mentira, não faz nada”, protesta o José Krahô. 

O cacique também revela que pelo menos 10 indígenas tiveram que deixar a aldeia por já estarem com a saúde debilitada. A reivindicação dos membros da aldeia é a titulação de uma área definitiva para seu povo, que há mais de 40 anos foi expulso do seu território originário e vive em uma Área de Preservação Permanente (APP).

O espaço pertence ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) localizado numa zona de alagamento do Rio Araguaia. O vice-cacique, Davi Krahô, dá detalhes da história de expulsão da terra. “A terra onde meus avós moravam fica próxima desse local [da APP], a uns 30 quilômetros, acabou que apareceu uns homens, botaram pressão, meus avós, meus tios saíram desse território. A gente perdeu nosso território em 1976, de lá pra cá a gente vem nesse processo de resgatar, de lutar por nossa terra”, desabafa Davi.  

Segundo representantes dos indígenas, o encaminhamento da comunidade para a APP foi um erro da FUNAI, que em 2006 regularizou a área da Reserva Indígena Mata Alagada para o Povo Kharô, expulso numa proporção menor que a necessária para os mais de 220 indígenas.

Assim, os membros da aldeia Takaiwará permaneceram sem território. A APP onde estão acampados desde 2006 passa por alagamentos anualmente e é uma terra onde eles são proibidos de plantar. O espaço deveria ser um local temporário até que a área definitiva fosse titulada. Mas o processo de titulação está parado, uma vez que a FUNAI não deu andamento na aquisição de novas terras.

Em 2016, o Ministério Público do Tocantins entrou com uma Ação Civil Pública contra a União e a FUNAI. O processo segue tramitando no Tribunal Regional Federal e aldeia Takaywrá continua sem perspectiva de reaver seu território originário.

Aldeia está alagada há mais de um mês
Com a cheia do rio, jacarés e sucuris aparecem para comer porcos e galinhas da aldeia

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