O ex-superintendente da Polícia Federal do Tocantins, Elzio Vicente da Silva, vai comandar a Diretoria de Combate ao Crime Organizado da PF, segundo cargo mais relevante na hierarquia da polícia. A informação foi confirmada pelo
O Globo e ocorre porque o novo diretor-geral da Polícia Federal, Rogério Galloro, decidiu trocar todos os diretores setoriais indicados para os cargos pelo ex-diretor Fernando Segovia. Elzio Vicente ocupou o cargo na PF do Tocantins de 2011 a 2013 e atualmente é superintendente da Polícia Federal em Brasília, onde é um dos delegados mais experientes e respeitados dentro da instituição. Ex-promotor que fez concurso para delegado por gosto pelo ofício, Elzio fez parte da equipe do ex-diretor Paulo Lacerda, que inaugurou o período das grandes operações de combate à corrupção. Elzio Vicente , aliás, esteve à frente de algumas das mais impactantes ofensivas da polícia contra o crime de colarinho branco, entre elas as operações Anaconda, Furacão e Navalha. Deflagrada em 2003, a Anaconda, quebrou um tabu ao botar na cadeia um dos mais poderosos juízes federais de São Paulo, Rocha Mattos, condenado por corrupção. A Furacão (ou Hurricane) resultou na prisão de quase todos os grandes bicheiros do Rio em 2007 e deixou em delicada situação desembargadores e até um ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), suspeitos de favorecer os criminosos. A Navalha expôs, também em 2007, a vasta extensão das relações espúrias entre donos de empreiteiras, políticos e outros agentes públicos, inclusive policiais. As três operações, que tiveram forte repercussão, serviram de parâmetro para outras grandes ações da polícia. Discreto, Elzio passava ao largo do noticiário da época e ainda hoje, mesmo como superintendente em Brasília, um cargo administrativo, se mantém longe das câmeras. Isso vale também para o período em que foi superintendente no Tocantins e Mato Grosso. Elzio não gosta de ser filmado, fotografado ou mesmo citado. Quando acontece algum caso relevante e que deve ser tratado publicamente, em geral, o superintendente escala um outro delegado para dar entrevista. Mas se fala pouco e quase não aparece em público, o delegado tem fama de trabalhar até de madrugada. Metódico e paciente, ele não costuma desistir de nenhuma investigação, nem das mais espinhosas. Foi ele quem, de longe, coordenou a equipe responsável pela Operação Acrômino. A operação começou com a simples apreensão de pouco mais de R$ 100 mil em poder do lobista Benedito Oliveira no aeroporto de Brasília e quase derrubou o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel. No Grupo de Inquérito Especiais (Ging), responsável pelos inquéritos contra deputados, senadores, ministros e até o presidente da República, Elzio é visto como um ídolo. "E
le vai mesmo ser o diretor? Se for, vai ser muito bom. Ele é excelente", disse um dos delegados do Ginq ao
Globo na quarta-feira ao ser informado de que Elzio estava cotado para chefiar a diretoria de Combate ao Crime Organizado. Em 2008, Elzio foi chamado para depor na CPI das Escutas Clandestinas para falar sobre a Furacão. Durante o interrogatório, a deputada Marina Magessi tentou encurralar o delegado. A parlamentar, não reeleita, quis saber se Elzio tinha usado parte da escuta telefônica não incluída no relatório final da operação. "
Respondendo à pergunta da senhora: não. Não sei se... Provavelmente, não foi utilizado. O que eu quero dizer é o seguinte: não tenho autorização, por parte do presidente da investigação, que à época era o Dr. Cezar Peluzo, Ministro do Supremo Tribunal Federal, para tratar de fatos concretos referentes a essa investigação", ele respondeu. Em seguida acrescentou:
"se o objetivo for realmente tratar das questões, das técnicas utilizadas, daquilo que eventualmente é feito em caso hipotético, eu me sinto com liberdade de esclarecer aqui esses pontos e tudo mais. Em referência a fatos concretos, em razão do segredo de Justiça atribuído ao fato, a toda a investigação, seja pelo Ministro Cezar Peluzo, seja posteriormente pela dra. Ana Paula Vieira de Carvalho, não posso tratar desses assuntos em concreto". A deputada insistiu alegando que as informações sobre a operação já tinham sido divulgas pelos jornais. "
Existe o que foi determinado pelo Ministro, o que foi determinado pelo juízo", respondeu o delegado, reafirmando que não falaria em hipótese alguma sobre o conteúdo da investigação.
“Ele é um cana, que gosta de ser cana. Não adianta vir com conversa mole com ele”, costumava dizer na época um dos chefes do jovem delegado.