Educação

Formação de professores em Araguaína se destaca no país ao valorizar realidade das escolas do campo

Projeto de formação continuada começou com visitas às unidades.

Por Redação
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06/03/2023 16h07 - Atualizado há 1 ano
Estratégia que ganhou destaque ao mapear contexto do campo no processo de alinhamento curricular

Conhecer a realidade do ensino rural para solucionar desafios de aprendizagem para alunos e professores é essencial na adaptação de currículos escolares à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). É com esse objetivo que Araguaína, a segunda maior cidade do Tocantins, com 183 mil habitantes, desenvolve encontros formativos de destaque no cenário educacional do país.

O trabalho, que teve início em 2021 e está em andamento, é capitaneado pela supervisora municipal de Educação Infantil e orientadora educacional Lucileda Sobrinho. Ela faz parte de um grupo técnico de especialistas chamado de Embaixadores da BNCC e é parceira do Movimento Pela Base, rede não governamental e apartidária de pessoas e instituições que apoiam a construção e implementação de qualidade da BNCC e do Novo Ensino Médio.

“Como nossa equipe não conhecia, de fato, a realidade do campo, detectamos a necessidade de nos aproximarmos desses alunos e professores, que muitas vezes não têm representatividade quando leis e planos de ação são pensados”, afirma. De um total de 48 escolas públicas municipais de Araguaína, 13 estão localizadas na zona rural - estas unidades têm 36 professores, que atendem 490 alunos: 109 da pré-escola (de 4 a 5 anos), 311 do 1º ao 5º ano e 70 do 6º ao 9º ano.

O projeto de formação continuada começou com visitas às unidades, contatos presenciais e telefônicos/virtuais com professores e diretores que atuam na zona rural. “Neste primeiro momento, já percebemos o quanto precisávamos nos aproximar da realidade do campo: houve um estranhamento por parte dos educadores, uma vez que, geralmente, são eles que vão para a cidade”, lembra Lucileda.

A segunda fase do projeto formativo envolveu um questionário para educadores. O trabalho também realiza escuta da comunidade que mora na zona rural, ou seja, pais, tutores de alunos e demais envolvidos na educação. “Nós nos sentamos com eles, ouvimos o que tinham para falar sobre a realidade que vivem, que é muito diferente da cidade”, afirma a educadora.

As diferenças começam na geografia do campo, explica Lucileda. “Seus alunos são crianças que costumam morar em pequenas propriedades, muitas vezes a grandes distâncias entre suas residências e a unidade de ensino. Há, por exemplo, dificuldade para os deslocamentos, tanto para os professores quanto para os estudantes que vão para a escola, devido a estradas de terra, especialmente nos períodos de chuvas.”

Mas os desafios não param por aí: eles também são pedagógicos, como as classes multisseriadas e a falta de práticas pedagógicas contextualizadas para as necessidades do campo, que atendam às reais questões dos estudantes que vivem nesse ambiente. “Analisamos a necessidade de adequação dos conteúdos às diversas realidades das áreas rurais. Concluímos que era necessária a realização de adequações ao currículo considerando essas distinções. Os alunos das áreas rurais vêm de origens muito diferentes e enfrentam situações cotidianas diversas”, explica.

Uma nova realidade

“Foi a partir desse diálogo que nós construímos uma formação específica para os professores, planejamos e trabalhamos essa realidade. Fizemos dois grupos de professores que tiveram aulas em março e abril deste ano e foi tão interessante que escrevemos um caderno de memórias do campo com a experiência desses profissionais”, lembra.

Mas não bastou conhecer as necessidades das escolas do campo. Lucileda explica que os debates levaram a outro desafio: a necessidade de mudança do referencial curricular existente em Araguaína, que pouco contemplava a área rural. O referencial é um documento que define o que deve ser ensinado pelas escolas, garantindo as aprendizagens essenciais, que são direito de crianças e jovens.

Por isso, em parceria com a Diretoria das Escolas do Campo, da Secretaria de Educação do Município, ela iniciou “um grande diálogo” para definir as demandas e incluí-las no referencial curricular. “Elaboramos o novo documento e apresentamos para o Conselho Municipal de Educação para aprovação”, afirma a educadora. “Com isso, deixamos mais evidente a BNCC dentro do nosso currículo”.

Na construção e adaptação do currículo, o projeto também permitiu a previsão de uma importante proposta. "Nossa sugestão foi a de retirar propostas engessadas direcionadas ou para a zona urbana e ou para a zona rural, porque essa decisão vai depender, na verdade, da ação do professor, da sua metodologia, com base nas particularidades de onde estão atuando."

Embaixadores da BNCC

Os Embaixadores da BNCC são um grupo diverso formado por técnicos municipais e estaduais de todas as regiões do Brasil, mobilizados pela mesma causa: a implementação da BNCC como caminho para garantir uma educação de qualidade e com mais equidade para todos os estudantes do Brasil.

Além da experiência com a implementação da BNCC, os Embaixadores trazem na bagagem diferentes realidades -- vivências em redes de grande porte e em redes menores; em escolas ribeirinhas e quilombolas; em grandes centros urbanos e em zonas rurais. A ideia é estabelecer um fórum para trocas de boas práticas de implementação, mostrando caminhos possíveis para seus colegas se inspirarem e, ao mesmo tempo, passar por formações e apoio técnico para aprimorar ainda mais seu trabalho.

Sobre o Movimento Pela Base

O Movimento Pela Base é uma rede não governamental e apartidária de pessoas e instituições que desde 2013 se dedica a apoiar a construção e implementação de qualidade da BNCC e do Novo Ensino Médio. Sua missão é trabalhar em parceria para garantir os direitos de aprendizagem e desenvolvimento de todas as crianças e jovens brasileiros.

Formação continuada de Araguaína valoriza realidade de professores e alunos da zona rural

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