Andrade Gutierrez

Delator diz ter pago propina de R$ 500 mil a Vicentinho; senador nega: 'acusação falsa'

Por Redação AF
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29/05/2018 11h03 - Atualizado há 5 anos

O ex-diretor de operações da empreiteira Andrade Gutierrez, Clóvis Renato Numa Peixoto Primo, afirmou ter pago propina em espécie ao senador tocantinense Vicentino Alves (PR) para ajudar em sua campanha eleitoral de 2010, quando o parlamentar disputava o atual cargo. A quantia teria sido de meio milhão de reais.

O senador afirma que o delator mentiu e não conseguiu provar as acusações.  As informações constam na delação premiada do ex-diretor Clóvis Primo no bojo de um inquérito da Polícia Federal (nº 4314) que corre em sigilo no Supremo Tribunal Federal, desde novembro de 2016, sob a relatoria do ministro Edson Fachin, o mesmo da Operação Lava jato.

A última movimentação no inquérito ocorreu recentemente, em 17 de maio, para novas diligências autorizadas pelo STF.

O AF Notícias obteve acesso com exclusividade às 328 páginas da investigação que releva o alcance do suposto esquema de pagamento de propina ao Partido da República (PR) e seus dirigentes.

Segundo a delação, o dinheiro da propina foi desviado de obras como a Ferrovia Norte-Sul no Tocantins, sob a responsabilidade da Valec, e repassado ao partido através de simulações de doação oficial de campanha.

Na época, o presidente da Valec era José Francisco das Neves, o Juquinha, acusado de coordenar o recebimento e distribuição de propina. Ainda na época, jornal O Globo revelou que Vicentinho teria articulado para manter Juquinha na diretoria da Valec. O senador nega.

Ainda na delação, o ex-diretor da empreiteira Andrade Gutierrez afirma que "houve ao menos duas doações a título de pagamento de propina", sendo uma delas para a campanha de Vicentinho Alves.

Quem levou o dinheiro à casa de Vicentinho foi Rodrigo Leite, engenheiro da empreiteira, e o entregou à esposa do então candidato, a pedido de Valdemar da Costa Neto, diz o trecho da delação.

Conforme a investigação, a entrega de dinheiro a Vicentinho teria ocorrido em duas oportunidades. Primeiro, R$ 200 mil foram deixados pelo engenheiro Rodrigo Leite na casa de Vicentinho, em Porto Nacional.

O senador, então deputado federal, não estava na residência e, conforme os depoimentos, o montante foi entregue à sua esposa Adailde Alves de Oliveira. Segundo Rodrigo Leite, Adailde ligou para Vicentinho e falou da 'encomenda' que tinha chegado.

Segundo os depoimentos, os outros R$ 300 mil foram entregues a Vicentinho na base do canteiro de obras da Ferrovia Norte-Sul, em Gurupi, através de um emissário. No dia 29 de março deste ano, Vicentinho, Adailde, o ex-ministro Alfredo Nascimento e Valdemar Costa Neto prestaram depoimento à Polícia Federal sobre o caso.

Vicentinho e Adailde negaram ter recebido dinheiro. Já Valdemar Costa Neto usou o seu direito constitucional de permanecer em silêncio, e não fez qualquer esclarecimento.

DOAÇÕES ELEITORAIS

A Polícia Federal concluiu que em 2010, ano das eleições,a empreiteira fez doação de R$ 2 milhões ao Diretório Nacional do PR e foi identificado repasses para o Comitê Financeiro do candidato Vicentinho Alves.

A PF cita um total de 151 operações que resultaram no montante de R$ 1.179.884,77 para a campanha do senador.

DEPOIMENTO DE VICENTINHO

Em março de 2017, o senador Vicentinho prestou declarações à Polícia Federal e disse que nunca tratou com nenhuma empresa sobre doação eleitoral. Disse também não saber como se deu a captação de recursos da empreiteira Andrade Gutierrez para o Diretório Nacional do PR.

O senador afirmou que não conhece o ex-diretor Clóvis Primo (delator). Ressaltou que sua esposa não participava da coordenação da campanha e nem o acompanhava em eventos políticos. Quanto a Valdemar Costa Neto, Vicentinho disse possuir “relação de amizade” e chegou a pedir a ele apoio do partido para sua candidatura ao Senado.

Vicentinho acrescentou que a ajuda do Diretório Nacional do PR para sua campanha se deu através de tratativas feitas pelo senador João Ribeiro (já falecido). O senador disse ainda que conhece Juquinha, em razão das obras da Ferrovia Norte-Sul, mas nunca solicitou qualquer contribuição de campanha, tampouco lhe foi oferecida.

EMPRESA CONFIRMA PAGAMENTO DE PROPINA AO PR

Em petição ao STF, a própria Andrade Gutierrez explica como funcionava parte do esquema para geração de recursos para abastecer o bolo da propina do PR, que começou em 5% dos contratos e, depois de uma negociação com o comando do PR, passou para 2,5% para não inviabilizar os trabalhos na ferrovia.

Algumas empresas eram subcontratadas para executar as obras e passavam a ser utilizadas “para gerar um ‘caixa 2’ único com o qual faziam os pagamentos de todos os compromissos de propina”.

Havia efetiva prestação de serviços por tais empresas, mas incluindo-se um valor a maior nas medições para a geração dos recursos da propina.

"Feitos tais esclarecimentos, seguem os nomes das empresas subcontratadas para este fim: a) Wander Nogueira Serviços de Terraplanagem LTDA; b) Evolução Engenharia e Tecnologia LTDA; c) Engefort Construtora Ltda; d) Brasfond Fundações Especiais S/A", frisa a petição da empreiteira Andrade Gutierrez.

NOTA DO SENADOR VICENTINHO

Em nota, o senador Vicentinho Alves afirmou que os fatos não correspondem à realidade, são falsos e caluniosos. "Todos os esclarecimentos foram prestados, razão pela qual não houve sequer indiciamento, conforme certidão expedida pelo STF", finaliza a nota. 

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