<span style="font-size:14px;"><u>Ataides Oliveira</u><br /> <br /> “Pode-se enganar a todos por algum tempo ou enganar alguns por todo o tempo, mas não se pode enganar a todos todo o tempo.” A frase famosa do estadista Abraham Lincoln cai como uma luva no governo Dilma. Se a popularidade da presidente despencou ladeira abaixo nos últimos meses, é porque não dava mais para sustentar as falsas promessas de campanha e o estelionato eleitoral contra o povo brasileiro. A realidade agora se impõe nua e crua: corrupção, aparelhamento partidário, inflação em alta e economia em baixa, arrocho fiscal e corte de benefícios trabalhistas e sociais.<br /> <br /> Agora é o mito do pleno emprego, tão alardeado pelo PT, que cai por terra. Em dezembro passado, o governo comemorou uma taxa oficial de desocupação de 4,3%. Seria a prova de que a economia brasileira está no rumo certo. Quem ainda acredita nesse discurso?<br /> <br /> O índice oficial, usado como trunfo político pelo governo Dilma, está longe de espelhar a realidade nacional. Os dados utilizados fazem parte da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), realizada em apenas seis regiões metropolitanas do país (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de janeiro, São Paulo e Porto Alegre). A amostragem é pequena demais para um país de dimensões continentais, com significativas diferenças sociais, naturais e econômicas. Tanto é assim que quando o governo apresenta dados do desemprego por meio da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD contínua), que engloba 3.500 municípios, a taxa aumenta cerca de 60%.<br /> <br /> Mais que isso: a metodologia usada na PME foi feita sob para medida para subestimar o número de pessoas desocupadas e inflar o de pessoas empregadas.<br /> <br /> Pelos critérios distorcidos do governo, só quem está ocupado ou procurou emprego nos últimos 30 dias faz parte da população economicamente ativa (PEA). Quem desistiu de procurar uma nova ocupação – por falta de qualificação ou por não acreditar mais que vá conseguir uma vaga no mercado formal – não entra na estatística, mesmo que esteja recebendo seguro-desemprego. Essa pessoa não é qualificada como “desocupada”, mas como “desalentada”. O governo deveria mudar essa nomenclatura para “desesperançada”…<br /> <br /> Mais: a maquiagem oficial dos números de desempregados também exclui dessa conta parte dos beneficiários do Bolsa-Família, mesmo que eles vivam única e exclusivamente do benefício!<br /> <br /> E o que dizer dos 10 milhões de jovens “nem nem”, que nem estudam nem trabalham? Esses milhões de jovens ociosos, expostos às drogas e ao mundo do crime por falta de capacitação e treinamento profissional e de políticas que não favorecem o primeiro emprego, são outros que ficam fora das contas do governo.<br /> <br /> Para inflar o número de brasileiros empregados, as estatísticas oficiais incluem todos os que tiveram algum trabalho eventual ou temporário, o chamado “bico” – mesmo que não tenham recebido qualquer remuneração monetária por esse trabalho.<br /> <br /> Já desmascarei, da tribuna do Senado, essa estatística completamente questionável, moldada segundo os interesses do governo. Além de alertar para a discrepância entre os números oficiais e as taxas do Dieese – 151% maior que a do PME – e da Organização Internacional do Trabalho – 58% maior –, mostrei que o discurso do pleno emprego é derrubado por dados do próprio IBGE.<br /> <br /> Como alguém, em sã consciência, consegue admitir que a taxa de desemprego oficial tenha recuado se, mesmo num universo extremamente restrito como a PME, o número de pessoas ocupadas caiu, em números absolutos, de 23,383 mil para 23,224 mil entre novembro e dezembro do ano passado?<br /> <br /> O fato – já admitido pelo IBGE – é que a queda da taxa de desemprego ocorreu não pela criação de novos empregos, mas pela retração da procura por trabalho (11,8% no mês de dezembro em relação a novembro). De acordo com a PME, o número das pessoas que jogaram a toalha e desistiram de tentar nova ocupação formal aumentou de 18,887 mil para 19,310 mil, nos dois últimos meses de 2014.<br /> <br /> Outro dado relevante: os gastos totais de seguro-desemprego aumentaram 383%, ou seja, quase quadruplicaram entre 2003 e 2013.<br /> <br /> A verdade é que o governo calcula as taxas de desemprego com base não em critérios técnicos, mas em critérios políticos, de forma a alcançar os resultados que lhe são convenientes. Pior que termos indicadores ruins é não poder confiar nas estatísticas do governo. A distorção de dados impede a adoção de políticas públicas eficazes e coloca em risco, de forma irresponsável, o planejamento socioeconômico do país.<br /> <br /> <em>* É senador pelo PSDB de Tocantins.</em></span>