TJTO 35 anos

De servente de pedreiro a juiz: a história do menino que chegou à presidência do Judiciário do Tocantins

Ele trabalhou como servente na construção do prédio do Itamaraty, em Brasília.

Por Redação 12.063
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26/02/2024 10h11 - Atualizado há 2 meses
Desembargador aposentado Daniel Negry, ex-presidente do Tribunal de Justiça

Notícias do Tocantins - “Minha passagem foi servindo ao jurisdicionado. Não fui dono da cadeira, fui um agregado da cadeira. Me puseram aqui a serviço da comunidade. E foi assim que eu sempre quis fazer e quis ser”, diz o desembargador aposentado Daniel Negry, que contabiliza 36, dos seus 79 anos, de vida dedicados à magistratura, tendo chegado, inclusive, à Presidência do Tribunal de Justiça do Tocantins (TJTO).   

"Passei por aqui (TJTO), e graças a Deus fiz boas amizades. Gosto sempre de brincar, de conversar com todos. Pra mim, não existe superior ou inferior. Não existe empregado ou empregador”, comenta o magistrado, destacando que seu gabinete não fechava a porta pra ninguém. “Nunca fechou. Fosse ele rico, pobre, branco, preto, qualquer um, atendia a todos!"

“Um querido”, “melhor chefinho”, “figura fantástica”. A amizade e carisma se confirmam em alguns dos comentários ouvidos durante sua passagem pelos corredores do Tribunal de Justiça para a realização desta entrevista, ao ser parado por cada servidor que o via e vinha lhe cumprimentar.  

A vida simples do campo reflete o homem cortês e acessível que é. Filho do interior do Estado, do município de Brejinho de Nazaré, cresceu junto com esta terra e deixou sua marca na história e nos corações da “Casa da Justiça”.

Negry fez jus ao apelido de sua cidade natal: Cidade Inteligente, e tudo que se propôs a fazer, obteve aprovação!

A história do desembargador Daniel Negry abre a série especial com homenagens a pessoas que contribuíram nestes 35 Anos de TJTO, celebrados neste ano, e consta no calendário institucional 2024 que, juntamente, com a agenda, faz parte do kit comemorativo. 

Um sonho

Nascido em Brejinho de Nazaré, município com aproximadamente 5 mil habitantes, segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Daniel Negry é um dos seis filhos da dona Serafina Francisca Negry. O pai, seu José de Oliveira, faleceu quando ele tinha menos de dois anos de idade. “Sem perspectiva nenhuma de vida”, mas sempre estudioso, ele tinha um sonho: a Medicina. 

“Aos sete anos, minha mãe me matriculou no grupo escolar e com 11 anos fui levado para Porto Nacional por um padrinho de crisma onde fiz o primário e o ginásio”, conta, lembrando que, ao concluir a quarta série, serviu o Tiro de Guerra e diz que não tinha perspectiva nenhuma. “Ir pra onde? Sem dinheiro, sem nada, né?! Mas Deus sempre põe algo na estrada da gente. Tinha um irmão oficial da polícia de Goiás que eu sequer conhecia, morava lá na cidade de Goiás”, conta. “Eu sabia da existência dele, mas não sabia se ele tinha conhecimento da minha existência. Não sei quem soprou pra ele que tinha esse irmão que estava sem saída na vida. Aí ele me passou um telegrama dizendo que já havia me matriculado lá no Liceu de Goiás, no curso de Contabilidade”, cita, acrescentando que seu sonho era a Medicina.

“Mas, o meu curso de Contabilidade, não tinha nada a ver com qualquer matéria de Medicina. Aí fui pra lá. Fiquei conhecendo meu irmão, morando lá com ele”, recorda-se, dizendo que foi exatamente na época da Revolução de 64.

“Eu fui chamado pra Goiânia. Aí ficou naquela instabilidade. Foi quando resolvi passar as férias com minha irmã que morava em Brasília (DF) e não voltei mais pra Goiânia. Fiquei lá um ano sem estudar e comecei a trabalhar”, continuou. “Trabalhei na construção daquela obra, o Itamaraty, como servente pedreiro, era aquele belo prédio. Eu estive lá como braçal, trabalhei lá três anos, com a Construtora Pederneiras, e ao mesmo tempo eu concluía o segundo grau”, enfatiza, ressaltando que já não conseguia mais fazer o curso de Contabilidade e já foi para o técnico de secretariado.

De servente de obra ao Direito

Um professor do Centro de Ensino Médio (CEM) Elefante Branco, em Brasília, despertou em Negry o interesse pelo curso de Direito. “Lá no Elefante Branco, uma matéria chamada Direito Usual, do professor Serral, me identifiquei muito com ele, o que me chamou a atenção para o curso de Direito. Quando concluí, fiz o vestibular e passei”, destaca, citando que fez concurso para escriturário da Faculdade de Brasília, ao mesmo tempo em que cursava Direito.

Depois, veio para o Tocantins, na época Goiás. O desembargador aposentado conta que se inscreveu na OAB e lembra-se que, na época, havia poucos juízes no Norte do Goiás. “Eram apenas seis juízes em todo o Estado do Tocantins, em Dianópolis, Gurupi, Porto Nacional, Natividade e dois na região do Bico do Papagaio”.

Ele se recorda que estava sediado em Gurupi quando se mudou para Porto Nacional, onde advogava ainda para o município de Natividade. Lá chegando, o juiz da comarca entrou de licença prêmio, o que o motivou a prestar concurso para a área em 1977. “Falei, mulher (sua esposa), sabe de uma coisa, o dia que abrir concurso para juiz eu vou fazer”, diz, lembrando que a sua inscrição foi a de número 1. “Fomos convocados e, graças a Deus, consegui êxito”, frisa. “Se não me falha a memória, ingressei dia 13 de março de 78 na magistratura goiana”.

Legado de um pioneiro do Judiciário que se tornou presidente do TJTO

Ao tomar posse como juiz, Daniel Negry escolheu a Comarca de Cristalândia para iniciar sua carreira no Judiciário. “Juntou a fome com a vontade de comer”, lembra. A Comarca de Cristalândia era, estrategicamente, o local ideal para ele, por ficar perto de Brejinho, onde a mãe morava, e perto de Porto Nacional, onde os sogros viviam. Este foi o pontapé da carreira do desembargador Daniel Negry, um menino peralta de Brejinho de Nazaré, com o sonho da Medicina e que trilhou pelos caminhos da vida e do Judiciário sempre no prumo, garantindo-lhe bons pousos, um deles a Presidência do TJTO.

“Fiquei cinco anos em Cristalândia e fui promovido para Miracema, e depois removido por merecimento para Porto Nacional. De lá, me trouxeram para o Tribunal de Justiça e aqui fui empossado dia 18 de novembro de 1998”, relata, informando que ficou até agosto de 2014 no TJTO, onde passei por quase todos os postos. “Eu gostaria de ter contribuído mais, mas nem tudo que a gente pretende, a gente consegue, né?!”, ressalta. “Sonhava com um Tocantins diferente, com uma estrutura diferente. Nós herdamos aquela estrutura do Estado de Goiás. Depois é que nós conseguimos fazer algumas mudanças”, recorda-se, informando que, inclusive, o esboço do primeiro Código de Organização do Judiciário do Tocantins foi redação sua.

Pai de cinco filhos, o desembargador Daniel Negry é só orgulho ao ver que deixou “herdeiros” no Judiciário tocantinense. “Dois dos meus cinco filhos trabalham no TJ e são concursados, são servidores efetivos”.

Atualmente, o desembargador vive ao lado de sua esposa, a senhora Maria das Dores Lima Negry, em uma fazenda, a cerca de 40 Km do município de Brejinho de Nazaré, a pouco mais de 100 km da Capital. Esse foi o lugar escolhido por ele para morar após pendurar a toga, há nove anos.

(Texto: Isis Coutinho)

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