Elida Guimarães

Em entrevista, arquiteta revela drama e superação ao descobrir câncer na gravidez: 'choro e tristeza'

Elida Guimarães venceu o câncer e atualmente é servidora do IFTO em Porto Nacional.

Por Redação 1.479
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10/10/2019 09h24 - Atualizado há 4 anos
Elida Guimarães e a filha

A arquiteta e urbanista Elida Guimarães descobriu o câncer de mama aos 38 anos e enquanto estava grávida de seis meses, teve recaídas, quase perdeu a filha, mas buscou forças em Deus para vencer a doença.

Ela é servidora pública do Instituto Federal do Tocantins (IFTO), em Porto Nacional, e atualmente está com 42 anos. A sua filha, Rebeca, está com 3 anos e é só motivo de alegria.

Depois da quimioterapia, a servidora ficou estéril. "Depois que me deram alta, os médicos me confessaram que pensaram até em tirar o bebê, mas optaram por aguardar. Meu caso era único, por causa do estágio da gravidez. Como estava no sexto mês (diagnóstico) e após a recuperação (início do oitavo mês), optaram por aguardar e dar mais chance para o bebê", relembrou. 

Veja a entrevista que ela concedeu à assessoria do IFTO.

Como descobriu o câncer? 

Descobri o nódulo através do toque. Não foi o autoexame. Mas estava preparando a mama para o aleitamento e percebi algo diferente. Em um primeiro momento se confundiu com as várias modificações que nosso corpo sofre na gravidez, mas como estava só aumentando de tamanho, fiquei mais curiosa. E assim, essa curiosidade me levou ao mastologista entre uma consulta e outra do ginecologista. Nunca na minha cabeça passou que poderia ser um câncer.

Quais as suas primeiras reações ao confirmar o diagnóstico? 

Fui sempre muito prática. Perguntei à minha mastologista simples e objetivamente: ‘Doutora, tem cura?’. Quando ela me pôs à par de tudo, desse universo novo, então pensei: ‘vamos fazer o que for possível fazer’. A partir daí, corri atrás dos documentos e exames para cirurgia de mastectomia, afinal, estava grávida, não tinha muito tempo.

Quais as maiores dificuldades enfrentadas no processo de tratamento?

Como desde sempre tive um suporte divino para me ajudar (Deus), Ele me deu muita força desde o início. Quando ‘caiu a ficha’, tive uma noite de choro, tristeza e lamentação. Mas aí, o Espírito Santo de Deus me tocou profundamente e me fez ver as coisas de outra maneira. Foi assim que entreguei minha vida ao Senhor e aprendi a viver na sua dependência. Porque sabia que tudo cooperava para aqueles que o amavam. Tive poucas reações do tratamento em si. A que mais me incomodou foi um problema de pele. Segundo me explicou o médico, minhas defesas estavam baixas por causa da quimioterapia, então, alguns problemas ficariam mais fáceis de acontecer, como proliferação de bactérias em algumas áreas do corpo. Na minha axila ficava cheio de bolhinhas purulentas, que doíam, acabavam e voltavam em ciclos. Mas confesso que o que foi mais difícil foi ter que ficar afastada da minha filha. Só podia pegar a Rebeca de tempos em tempos, depois de alguns dias entre uma quimioterapia e outra, durante cinco meses.

Como foi conviver com a doença e o que te ajudou a enfrentá-la?

Mayana, eu brincava com minhas amigas. Eu lhes dizia que minhas idas aos hospitais entre uma clínica e outra, exames, procedimentos, cirurgias, quimioterapias, radioterapias, preparos, rotinas diversas...dizia que eu estava fazendo um novo city tour (porque eu gosto muito de viajar). Então eu dizia que era um aprendizado, uma coisa nova que estava vendo e aprendendo. Sempre encarei da melhor forma possível. O que me ajudou a enfrentar, primeiro Deus, sem ele, eu não sobreviveria a nada. Segundo, a minha família e amigos. Todos em acolheram de forma tal, que me emocionam até hoje.

Quanto tempo levou desde a descoberta até a cura e o que mudou na sua vida após vencer a doença?

Descobri em janeiro de 2016. Fiz a cirurgia da mama em fevereiro de 2016 (três semanas depois do diagnóstico). Tive a Rebeca em abril do mesmo ano (depois da recuperação da cirurgia da mama). Iniciei a quimioterapia em maio de 2016 e terminei em outubro. Iniciei a radioterapia em novembro daquele mesmo ano e no dia 31 de dezembro fiz a última sessão. Os médicos nos dizem assim: ‘você não teve câncer, você tem’. Infelizmente, clinicamente é assim. Os casos de recidivas e a não descoberta da cura da doença, os fazem pensar dessa forma.

Terminei aquele tratamento, mas tenho que tomar medição (comprimidos) por dez anos. Esses remédios dão muitos efeitos colaterais, como dor no corpo e muitos outros. Posso dizer que me sinto uns dez anos mais velha depois do tratamento. Me sinto cansada o tempo todo, sem muita energia, sem muito ânimo. É vivendo um dia de cada vez. Às vezes tenho dias muito bons, outras vezes, nem tanto assim. Com tudo que aconteceu, tive menopausa precoce. E dizem que quando é induzida (química) é ainda um pouco pior (risos). Em novembro de 2018 fiz outra cirurgia, desta vez, retirada de trompas e ovários, para diminuir os riscos de recidivas. Isso mudou meu quadro clínico, tiveram que mudar o tal do remédio que tenho que tomar por dez anos. Novamente meu corpo tem que se acostumar com uma nova medicação. É um dia por vez. Minha nutricionista me passou um remédio para me dar energia. Às vezes, venho trabalhar só pela misericórdia do Senhor, então esse remédio me ajuda a levar a rotina adiante. Há dias...e dias...

O que você pode dizer para quem enfrenta esse tipo de doença? 

Acho que o que posso dizer a qualquer um, que passa por isso, ou por outro tipo de dificuldade na vida, é o seguinte: confiança em Deus! Acreditar de verdade! Entregar sua vida aos pés do Senhor. Foi só isso que me deu respaldo, força interior para conseguir passar por tudo e, hoje, fazer disso, apenas uma lembrança. Mas assim...tem muita gente que diz que acredita em Deus e que tem fé, e na hora que vem uma tempestade, logo entrega os pontos. Fácil não é, nunca foi e nunca será. Mas Jesus afirmou: ‘No mundo, tereis aflições. Mas tende bom ânimo, pois, Eu venci o mundo’. Então, se temos Jesus conosco, temos o que precisamos para sairmos de qualquer situação. Às vezes não saímos como gostaríamos, porque nossa vaidade, nossas vontades, nossos olhos carnais, vislumbram outras coisas, que não necessariamente são as coisas que Deus tem para nós.

E que conselho deixaria para a importância da prevenção? 

Digo apenas que é essencial! Já pensou se não fosse curiosa e cuidadosa com meu corpo? Já pensou se fosse daquelas pessoas que dizem assim: ‘Ah! Depois vejo o que é isso...’ O câncer que tive se alimentava de hormônios, então, como estava grávida, era uma explosão de hormônios pelo corpo. Ou seja, crescia assustadoramente. Se eu não tivesse sido rápida, talvez não estaria aqui para compartilhar essa história.

Algo mais que queira destacar...

Sim. (E isso também serve para mim, pois trata-se de uma rotina que deveríamos ter, mas nem sempre conseguimos) Prevenção não é apenas ir ao médico ou fazer o autoexame. Não é apenas fazer os exames de rotina. Temos que nos amar. Tomar conta do nosso corpo, tentar ter uma alimentação equilibrada (Ôôôô trem difícil), tentar trazer atividade física para nossa rotina diária (Ôôôô trem difícil também). Também é importante termos momentos de lazer, de diversão, de desestresse. Enfim, ter paz. Na nossa rotina, nessa correria do dia a dia, não conseguimos nos desligar das preocupações e nos ligar no que realmente importa. Dar atenção ao que realmente importa para cada um de nós é um desafio! 

Gravidade da doença

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de mama é segundo tipo que mais acomete brasileiras, representando em torno de 25% de todos os cânceres que afetam o sexo feminino. Para o Brasil, foram estimados 59.700 casos novos de câncer de mama em 2019, com risco estimado de 56 casos a cada 100 mil mulheres. 

Os principais sinais e sintomas da doença são: caroço (nódulo), geralmente endurecido, fixo e indolor; pele da mama avermelhada ou parecida com casca de laranja, alterações no bico do peito (mamilo) e saída espontânea de líquido de um dos mamilos. Também podem aparecer pequenos nódulos no pescoço ou na região embaixo dos braços (axilas).

Mãe e filha
Arquiteta grávida
Elida Guimarães durante tratamento contra o câncer

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