Família que sofreu violência durante a Guerrilha do Araguaia ganha anistia e receberá pensão

Por Redação AF
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22/04/2015 08h25 - Atualizado há 5 anos
<span style="font-size:14px;">Aos 89 anos, Eduardo Rodrigues carrega na mente as marcas da repress&atilde;o violenta que sofreu na &eacute;poca da Guerrilha do Araguaia. Ele diz ter sido o primeiro homem preso pelos militares, em abril de 1972. O crime de Rodrigues, que n&atilde;o tinha nada a ver com a guerrilha, foi ser vizinho de alguns jovens que buscavam derrotar a ditadura por meio das armas. O agricultor foi uma das v&iacute;timas que tiveram o processo julgado pela Comiss&atilde;o da Anistia, na &uacute;ltima sexta-feira (17), em Palmas. Um parecer recomendando a repara&ccedil;&atilde;o de Rodrigues foi encaminhado para o Minist&eacute;rio da Justi&ccedil;a. Depois de homologado, Rodrigues receber&aacute; uma pens&atilde;o de dois sal&aacute;rios m&iacute;nimos.<br /> <br /> <u><strong>Lembran&ccedil;a do sofrimento</strong></u><br /> <br /> Rodrigues vive no sul do Par&aacute; e veio para o Tocantins acompanhar o julgamento, j&aacute; que a Caravana que passou por Palmas tratou especialmente da Guerrilha do Araguaia. Apesar do tempo, ele relata com lucidez mem&oacute;rias do tempo que passou durante a ditadura. <em>&quot;S&oacute; de uma vez eu passei 29 dias preso. Esquecer eu nunca esque&ccedil;o n&atilde;o. A gente perder tudo o que tinha, sofrer, ficar na rua. [Me falaram] &#39;Pode sair da sua casa, que n&oacute;s vamos tacar fogo em tudo&#39;&quot;</em>. O agricultor contou que quando os militares fizeram a primeira incurs&atilde;o para identificar o foco guerrilheiro na regi&atilde;o sul do Par&aacute; e ent&atilde;o norte goiano, foi na casa dele que inicialmente chegaram.<br /> <br /> <u><strong>Mutilado</strong></u><br /> <br /> <img alt="" src="http://www.afnoticias.com.br/administracao/files/images/anistiados.jpg" style="width: 300px; height: 343px; border-width: 0px; border-style: solid; margin-left: 5px; margin-right: 5px; float: right;" />Ele n&atilde;o foi o &uacute;nico da fam&iacute;lia a receber a repara&ccedil;&atilde;o. Os dois filhos dele tamb&eacute;m devem receber a pens&atilde;o de dois sal&aacute;rios m&iacute;nimos. Um deles, &eacute; Lauro Rodrigues, de 59 anos. Na d&eacute;cada de 70, com 15 anos de idade, ele encontrou uma granada deixada pelo ex&eacute;rcito perto da casa dele, em uma localidade chamada Faveira, no sul do Par&aacute;. N&atilde;o sabendo o que era puxou o pino de seguran&ccedil;a e o artefato explodiu na m&atilde;o dele. Lauro perdeu um bra&ccedil;o e ficou com sinais pelo corpo todo. O irm&atilde;o adotivo que estava junto morreu no local.<br /> <br /> Lauro diz ter sido o primeiro mutilado pelos militares. <em>&quot;N&oacute;s est&aacute;vamos no trabalho, na ro&ccedil;a do meu pai. A guerrilha j&aacute; tinha come&ccedil;ado, meu pai j&aacute; sido preso e liberado. Ele [o irm&atilde;o] achou a granada e levou para mim. Eu estava meio distante, a cerca de 300 metros. N&atilde;o sabia, quando eu peguei a granada, tirei o pino de seguran&ccedil;a e o Sabino morreu na hora. E eu fiquei todo quebrado&quot;.</em><br /> <br /> <u><strong>Anistia</strong></u><br /> <br /> A Comiss&atilde;o da Anistia foi criada em 2002 com o objetivo, dentre tantos outros, de quebrar o sil&ecirc;ncio e reparar os danos sofridos por quem foi v&iacute;tima de um dos per&iacute;odos mais sangrentos no Brasil. A conselheira da Comiss&atilde;o da Anistia, Aline Sales, disse que a repara&ccedil;&atilde;o &eacute; fixa e n&atilde;o adota como crit&eacute;rios o sofrimento das v&iacute;timas, mas o preju&iacute;zo que tiveram em rela&ccedil;&atilde;o ao trabalho. <em>&quot;Essa fam&iacute;lia &eacute; composta por trabalhadores rurais e eles tiveram uma perda laboral ocasionada pela perda da terra&quot;.</em><br /> <br /> Cerca de cinquenta processos foram julgados no Tocantins, mas nem todos que diziam ser v&iacute;timas foram anistiados. Dentre eles, est&atilde;o processos de &quot;militares que foram combater a guerrilha, camponeses que atuaram como guias e receberam por isso, ou em dinheiro ou em terras&quot;, explicou Aline.<br /> <br /> <u><strong>Processos a serem julgados</strong></u><br /> <br /> Percorrendo o Brasil, as caravanas da anistia n&atilde;o t&ecirc;m data certa para acabar, ainda est&atilde;o na pauta de julgamento quatorze mil processos. De acordo com o presidente Paulo Abra&atilde;o, at&eacute; que o &uacute;ltimo perseguido pol&iacute;tico seja reparado ainda haver&aacute; trabalho. Ele ressalta que nunca ser&aacute; tarde para reconhecer&nbsp; os crimes do estado brasileiro contra as v&iacute;timas da ditadura. &quot;Os danos que foram cometidos contra os direitos humanos das pessoas durante a ditadura s&atilde;o imprescrit&iacute;veis, o que significa &eacute; que eles podem ser cobrados a qualquer tempo&quot;.</span>
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