Consumo de cigarro reduziu no Brasil, mas pandemia aumentou dose diária.
Embora o consumo de cigarros esteja em queda desde o fim da década de 1990 no Brasil, o número de pessoas que mantém o hábito nada saudável ainda preocupa especialistas da linha de frente do combate ao coronavírus. Isso porque além de estarem mais expostas a contaminação, por causa do ato de levar o cigarro à boca, o tabaco e o efeito degenerativo de suas substâncias potencializam as chances de agravamento da covid-19.
Dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), divulgados em abril, mostraram que a proporção de adultos fumantes reduziu de 15,7% em 2006 para 9,8% em 2019, uma diminuição do hábito de fumar de 37,6%. No ano de 2019, a prevalência de fumantes também declinou nas faixas extremas de idade: entre adultos com 18 a 24 anos (7,9%) e adultos com 65 anos e acima (7,8%).
“O tabaco causa diferentes tipos de inflamações e prejudica os mecanismos de defesa do organismo. Por esses motivos, os fumantes têm maior risco de infecções por vírus, bactérias e fungos. Eles também têm maior incidência de infecções como sinusites, traqueobronquites, pneumonias e tuberculose”, pontua a médica pneumologista Fernanda Miranda, que atende no Centro Clínico do Órion Complex.
Ela ressalta também que fumantes podem já ter doença pulmonar ou capacidade pulmonar reduzida, o que aumentaria muito o risco de doença grave.
Além disso, o consumo do tabaco é a principal causa de câncer de pulmão e importante fator de risco para Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), entre outras doenças. Por isso, é indiscutível dizer que o tabagismo é fator de risco para a Covid-19.
Fernanda adverte também para o perigo do uso de outros produtos para fumar, como narguille e cigarros eletrônicos, que geralmente envolvem o compartilhamento e facilitam a transmissão da Covid-19 em ambientes comunitários e sociais.
A Turquia, onde o hábito é comum, foi o país do Oriente Médio mais afetado pela pandemia do novo coronavírus, alertando a sociedade mundial para o controle no consumo. “Já os dispositivos eletrônicos para usar a nicotina causam os mesmos ou até maiores danos à saúde que o cigarro convencional”, alerta.
Embora a redução do consumo de cigarro seja um ponto positivo, Fernanda conta que a pandemia e seus estressores mostrou que o fumante aumentou a dose diária e mesmo ex-fumantes podem estar em maior risco diante da covid-19. “É comum que eles tenham alguma doença crônica relacionada ao tabagismo, mas quanto mais tempo sem fumar, melhor”, frisa.