Período de isolamento social deixou os idosos mais vulneráveis.
O mês de março de 2020, período de anúncio do distanciamento social devido a pandemia da Covid-19, registrou considerável aumento de violências praticadas contra pessoas idosas no Brasil, segundo dados do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH) do Governo Federal.
Golpistas sempre agiram os contra os grupos mais vulneráveis, mas, durante o período de isolamento social, aproveitam-se da fragilidade emocional para vitimar pessoas idosas.
De acordo com o membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), doutor em Demografia pela Universidade Federal de Minas Gerais, professor e pesquisador na área de envelhecimento e pessoas idosas, Rodrigo Arantes, além dos golpes via telefone e redes sociais, os criminosos por muitas vezes induzem as pessoas idosas a abrirem as portas de casa para falsos agentes de saúde que podem roubá-los, fazerem assinar procurações e até violenta-los.
“Aproveitando-se deste momento de menor contato social das pessoas idosas (por ficarem mais em casa em razão de pertencerem ao grupo de risco), golpistas têm praticado golpes telefonando e exigindo quantias de dinheiro por falso sequestro de um parente, por exemplo. Os idosos são um grupo populacional em que a incidência de depressão já é alta em tempos em que não se é exigido o distanciamento social, imagine nesta época em que menos relações sociais são exigidas pela pandemia. Os idosos podem estar mais tristes por não terem alguém com quem conversar, sem poder sair, e isso pode ser um ‘prato cheio’ para os golpistas”, esclareceu o pesquisador.
Miguel Viana Costa, 70 anos, conta que por várias vezes quase foi vítima de golpes aplicados por telefone. “Eles ligam, identificam-se como sendo atendentes de empresas com as quais não tenho nenhum vínculo, perguntam o nosso nome completo, a idade e depois começam a pedir informações bancárias. Moro com meus filhos e eles me orientam para não cair nesses golpes, mas penso naqueles outros idosos que não têm ajuda para lidar com isso”, disse.
A gerente da Gerência de Diversidade e Inclusão Social, Nayara Brandão, a qual está ligada a pasta do idoso na Secretaria de Estado da Cidadania e Justiça, disse que esse momento de pandemia ampliou alguns problemas, como os golpes e violência contra idosos.
“Nossa Gerência está à disposição para auxiliar nas denúncias e apoiar esse grupo que por muitas vezes fica desassistidos. Devemos cuidar de quem sempre cuidou de nós. Se perceber alguma tentativa de golpe, ligue para o Disque 100 e denuncie”, concluiu.
Dicas e cuidados para não cair em golpes
Quando o malfeitor é alguém da família?
Dados do MMFDH mostram que cerca de 75% de violências praticadas contra pessoas idosas tem por sujeito ativo alguém que faz parte do seio familiar. Desta forma, muitos idosos tendem a acobertar situações de violências sofridas para que aquele parente não seja indiciado.
“Não devemos nos calar como redes de vizinhos, amigos ou familiares próximos a idosos e denunciar sempre a violência praticada contra pessoas idosas. Canais de denúncias: Ministério Público, Conselhos de Direitos (municipais e estadual), delegacias especializadas e CRAS/CREAs dos municípios”, explicou Rodrigo Arantes.
O idoso em tempos de pandemia
Neste período de isolamento é comum que o idoso fique mais vulnerável a sentimentos como tristeza. Para amenizar tais sentimentos, é importante que os familiares estejam mais presentes, seja por vídeo ou ligação telefônica, para confortar, conversar e manter os laços sociais.
O pesquisador Rodrigo Arantes ressaltou ainda que é importante fortalecer a rede de apoio às pessoas idosas neste momento de pandemia e aumentar os cuidados. “Os idosos devem sempre tomar os cuidados amplamente divulgados na mídia ao precisar sair de casa, por exemplo, para ir ao médico ou supermercado, por exemplo: passar álcool gel, evitar aglomerações, usar máscara, distanciamento mínimo. Devem sim se resguardar no período de pandemia, mas podem e devem ser cercados de carinho e atenção”, enfatizou.
A empresária Helena Sponholz Minikovski explicou que os cuidados neste período de pandemia foram redobrados junto a sua mãe, Maria Vilma, de 79 anos. “Toda nossa família está sempre atenta para que ela não seja um alvo fácil de pessoas mal-intencionadas. É triste que esses crimes aconteçam nos dias de hoje, ainda mais contra pessoas que já entregaram tanto a nós e à sociedade. Por isso, é muito importante que todos fiquem atentos e denunciem quando perceber a ação de golpistas, sobretudo em relação aos idosos, que são alvos relativamente fáceis”, ressaltou.