Operação da PF

'Laranja' revelou possível participação da Família Miranda em triplo homicídio e tortura no Pará

A Polícia Federal estima prejuízos de R$ 300 milhões aos cofres públicos.

Por Arnaldo Filho 20.911
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26/09/2019 09h41 - Atualizado há 4 anos
Ex-governador Marcelo Miranda foi preso em Brasília

A delação premiada de um dos homens apontados como ‘laranja’ da Família Miranda levantou a possível participação do ex-governador do Tocantins, Marcelo Miranda (MDB), do seu pai José Edimar Brito Miranda e do irmão Brito Júnior em um triplo homicídio ocorrido no Estado do Pará.

As revelações constam na decisão do juiz federal João Paulo Massami Lameu Abe, da 4ª Vara Federal de Palmas, que autorizou a operação da Polícia Federal nesta quinta-feira (26).

A PF prendeu Marcelo Miranda em Brasília, Brito em Palmas e Júnior numa fazenda em Santana do Araguaia (PA).  

O agropecuarista Alexandre Fleury Jardim fez acordo de colaboração premiada e também prestou depoimento no Ministério Público Federal (MPF) em 29 de março de 2019.

Segundo ele, os assassinatos ocorreram entre 23 e 24 de junho de 2013 nas imediações e na própria Fazenda Ouro Verde, em São Félix do Xingu (PA), que estava no nome de Fleury, mas pertence, na verdade, ao ex-governador, seu pai e ao irmão.

Naquela ocasião, foram mortos três homens que teriam sido confundidos com funcionários de Fleury: Warlyson Gomes de Sousa, Nerivan Nava Fontineli e Igor Lázaro Alves de Sousa. A execução teria sido feita por policiais militares numa intensa troca de tiros. Nessa época, Fleury já tinha rompido as relações com a Família Miranda.  

Ainda segundo Fleury, nesse mesmo contexto fático, outros dois homens, Francisco Neto Pereira da Silva e Luciano Ferreira Lima, foram mantidos em cárcere privado e torturados com o fim de obter informações, tudo por ordem da família Miranda.

Contudo, "as investigações revelaram que os homens assassinados ou torturados, em verdade, haviam sido contratados por Alexandre Fleury para tomar posse da Fazenda, ocasião em que estiveram na Fazenda Ouro Verde na semana anterior à sua morte, quando foram expulsos do local por policiais militares que haviam chegado em uma aeronave para fazer a guarda do local", afirma a decisão.

TEMOR PELA VIDA

Fleury afirma expressamente que "teme por sua integridade física e até mesmo por sua vida" e até solicitou escolta armada para se deslocar até Palmas, onde deverá prestar depoimento em um momento futuro.

Ele conta ainda que trabalhou para a família durante os anos de 2005 a 2013, inclusive funcionando como 'testa de ferro', porém, teria se tornado alvo dos três acusados no exato momento em que contrariou seus interesses. Teria também recebido ligações suspeitas de pessoas perigosas. 

Conforme o MPF, o possível envolvimento deles no triplo homicídio apenas se tornou evidente após a delação de Alexandre Fleury. O delator disse ainda que chegou a se desentender com os donos de fato da propriedade [Família Miranda] e eles temiam perder a terra.

INTIMIDAÇÃO

Fleury mencionou ter sido procurado por pessoas da região de São Félix do Xingu, ligadas a Brito Júnior e Brito Miranda, com vasto histórico de crimes violentos, dentre eles, a ameaça de morte a autoridades públicas federais e a um Procurador da República.

Ele também afirma que sua propriedade rural, situada em Goiás, e o escritório de sua advogada foram arrombados em fevereiro de 2016. Foram furtados apenas documentos e armas, embora tivessem outros objetos de alto valor.

Para o juiz federal João Paulo Abe, tal episódio confirma a alegação de que os três membros da família “são afeitos ao exercício da força para a consagração de seus interesses, ainda que, para tanto, seja necessária a prática de crimes de sangue, como aparenta ter sido o caso”.

O juiz cita que foram desviados valores na ordem de centenas de milhões de reais dos cofres do Governo do Tocantins. A Polícia Federal estima prejuízos de R$ 300 milhões.

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