<span style="font-size:14px;">Desde que o avançar das investigações da Lava Jato expôs ao Brasil o desfecho que, cedo ou tarde, certamente viria, o mega empresário Emilio Odebrecht, patriarca da família que ergueu a maior empreiteira da América Latina, começou a ter acessos de raiva.<br /> <br /> Nesses episódios, segundo pessoas próximas do empresário, a raiva – interpretada como ódio por algumas delas – recaía sobre os dois principais líderes do PT: a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.<br /> <br /> Emilio Odebrecht acredita, sem evidências, que o governo do PT está por trás das investigações lideradas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. <em>“Se prenderem o Marcelo </em>(filho de Emilio e atual presidente da empresa)<em>, terão de arrumar mais três celas”</em>, afirma </span><span style="font-size:14px;">Emilio Odebrecht</span><span style="font-size:14px;">. <em>“Uma para mim, outra para o Lula e outra ainda para a Dilma.”</em><br /> <br /> O filho de </span><span style="font-size:14px;">Emilio Odebrecht foi preso n</span><span style="font-size:14px;">a manhã da última sexta-feira, 19 de junho de 2015, em São Paulo, durante a 14ª fase da Lava Jato.<br /> <br /> Para não assustar tanto, optou-se por batizá-la de "Erga Omnes", expressão em latim, um jargão jurídico usado para expressar que uma regra vale para todos – ou seja, que ninguém, nem mesmo um dos donos da quinta maior empresa do Brasil, está acima da lei.<br /> <br /> Era uma operação contra a Odebrecht e, também, contra a Andrade Gutierrez, a segunda maior empreiteira do país. Eram as empresas, precisamente as maiores e mais poderosas, que ainda faltavam no cartel do petrolão. Um cartel que, segundo a força-tarefa da Lava Jato, fraudou licitações da Petrobras, desviou bilhões da estatal e pagou propina a executivos da empresa e políticos do PT, do PMDB e do PP, durante os mandatos de Lula e Dilma.<br /> <br /> Os comentários de Emilio Odebrecht eram apenas bravata, um desabafo de pai preocupado, fazendo de tudo para proteger o filho e o patrimônio de uma família? Ou eram uma ameaça real a Dilma e a Lula?<br /> <br /> Os interlocutores não sabem dizer. Mas o patriarca tem temperamento forte, volátil e não tolera ser contrariado. Também repetia constantemente que o filho não “tinha condições psicológicas de aguentar uma prisão”. Marcelo Odebrecht parece muito com o pai. Nas últimas semanas teve encontros secretos com petistas e advogados próximos a Dilma e a Lula. Transmitiu o mesmo recado: não cairia sozinho. Ao menos uma dessas mensagens foi repassada diretamente à presidente da República. Que nada fez.<br /> <br /> Quando os policiais amanheceram em sua casa, Marcelo Odebrecht se descontrolou. Por mais que a iminência da prisão dele fosse comentada amiúde em Brasília, o empresário agia como se fosse intocável. Antes de ser levado pela PF, ele fez três ligações. Uma delas para um amigo que tem interlocução com Dilma e Lula – e influência nos tribunais superiores em Brasília. <em>“É para resolver essa lambança”</em>, disse Marcelo ao interlocutor, determinando que o recado chegasse à cúpula de todos os poderes. <em>“Ou não haverá República na segunda-feira.”</em><br /> <br /> <img alt="" src="http://www.afnoticias.com.br/administracao/files/images/odebrecht.png" style="width: 300px; height: 250px; border-width: 0px; border-style: solid; margin-left: 5px; margin-right: 5px; float: right;" />A Odebrecht floresceu esplendorosamente nos governos de Lula e Dilma, tornado-se uma empresa de R$ 100 bilhões. Tem uma relação muito próxima com eles – e com o governador de Minas Gerais, o petista Fernando Pimentel, também investigado por corrupção, embora em outra operação da PF. <br /> <br /> A prisão de Marcelo Odebrecht encerra um ciclo – talvez o maior deles – da Lava Jato. Desde o começo, a investigação que revelou o maior esquema de corrupção já descoberto no Brasil mostrou que, em 2015, é finalmente possível sonhar com um país com menos impunidade.<br /> <br /> Pela primeira vez, suspeitos de ser corruptores foram presos – os executivos das empreiteiras. Antes, apenas corruptos, como políticos e burocratas, eram julgados e condenados. E foi precisamente esse lento acúmulo de prisões, e as delações premiadas associadas a elas, que permitiu a descoberta de evidências de corrupção contra Marcelo Odebrecht, o empreiteiro que melhor representa a era Lula. Foram necessárias seis delações premiadas, dezenas de buscas e apreensão em escritórios de empresas e doleiros e até a colaboração de paraísos fiscais para que o dia 19 de junho fosse, enfim, possível.</span>