Denúncia de médicos

Paciente morre por falta de medicamento que custa menos de R$ 1 no Tocantins

Pelo menos três pacientes morreram no HGP por falta de insumos, segundo relatos de médicos feitos à Defensoria.

Por Redação 3.809
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13/02/2019 08h59 - Atualizado há 5 anos
Interior do HGP

Médicos denunciaram à Defensoria Pública do Tocantins que ao menos três pacientes morreram nos últimos 30 dias por falta de medicamentos no maior hospital da rede pública do Estado, o Geral de Palmas (HGP). A Polícia Civil e o Ministério Público Estadual (MPE) devem investigar os casos. 

Conforme a denúncia, um paciente cardiopata com insuficiência respiratória morreu por falta de dobutamina, um medicamento estimulante do coração, e o segundo em razão da falta de furosemida, indicado para tratar hipertensão arterial e que custa, em média, R$ 0,90 (noventa centavos) cada.

Já o terceiro paciente teria falecido por complicações relacionadas à falta de um filtro do respirador, que é usado para aquecer e umidificar o fluxo de ar, cujo custo médio é de R$ 20 (vinte reais), conforme informações no hospital.

Os relatos foram feitos à Defensoria durante vistoria realizada na tarde da segunda-feira (11) e manhã dessa terça-feira (12). Além do desabastecimento de insumos e medicamentos, também foram apontadas falta de equipe técnica e de médicos

Insumos e medicamentos

Segundo a DPE, cerca de 50 pacientes estavam internados em estado de grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na segunda-feira (12) necessitando de medicamentos que estão em falta.

Além disso, conforme relatório cedido pela própria equipe de Farmácia do Hospital Geral de Palmas, 177 medicamentos estão em falta atualmente como, por exemplo, Cefazolina 1g Injetável, Cetoprofeno, Eparina e Fenitoína.

Foi constatada ainda a falta de diversos insumos, como algodão, seringas e luvas, dentre outros. Em alguns casos, pacientes têm que arcar com a compra do próprio medicamento ou equipamento para serem atendidos, conforme relatos de acompanhantes de pessoas em tratamento.

A superlotação de leitos, salas e apartamentos também reforçam a situação de desassistência. No momento da vistoria, havia oito pacientes entubadosna Sala Vermelha. “E não para de chegar paciente a todo momento. Não temos mais nem sequer espaço, pior ainda profissional médico para atender”, disse um médico.

Segundo a equipe técnica, um paciente deve ficar na Sala Vermelha de no máximo 48 horas, mas em razão da falta de equipe, insumos e medicamentos, a média tem sido de até dez dias.

Falta de equipe

Na Unidade de Tomada de Decisão (UTD), onde é feita a triagem dos pacientes, cerca de 90 pessoas estão internadas, sendo 30 na sala da UTD e mais de 60 nos corredores.

Porém, no momento da vistoria não havia nenhum plantonista, apenas a equipe de Enfermagem.

A falta de equipe médica e técnica é atribuída às exonerações causadas pelo ato declaratório do governo do Estado, que exonerou mais de 600 profissionais em janeiro deste ano.

Apesar de parte deles já terem retornado à função pela 'declaração de extinção', a quantidade de profissionais ainda é insuficiente. A média no início do ano era de três profissionais por plantão. Contudo, no momento da vistoria, havia apenas um médico, que atendia ao mesmo tempo a Sala Vermelha e o centro cirúrgico.

Situação improvisada

A vistoria realizada na segunda-feira (11) também encontrou pacientes sentados em cadeiras espalhadas pelos corredores, aguardando por cirurgias e filas se formando no aguardo da retomada de novos procedimentos cirúrgicos, suspensos por falta de leitos pós-operatórios.

Segundo consta no relatório de vistoria, cinco pacientes aguardavam por cirurgia instalados em cadeiras no Centro Cirúrgico do HGP, inclusive uma criança de colo.

Estas pessoas, de acordo com o relato de servidores da unidade hospitalar, se encontravam em jejum e prontas para serem submetidas a cirurgias, porém, não havia previsão dos procedimentos cirúrgicos aconteceram pela falta de leitos pós-operatórios disponíveis.

Devido à escassez de leitos pós-operatórios, foi registrado que 12 pacientes de pós-cirúrgico estavam alocados em uma sala improvisada, dentro do Centro Cirúrgico, em macas de ambulância, cadeiras odontológicas e até na própria mesa cirúrgica, sem receber a devida assistência médica.

A equipe também foi informada sobre alguns pacientes que se encontravam nesta situação há dois dias, sem sequer tomar banho.

O QUE DIZ O GOVERNO? 

"A Secretaria de Estado da Saúde (SES/TO) esclarece que está trabalhando para manter as unidades hospitalares abastecidas, para tanto realizou mais de 400 processos licitatórios em 2018 para compra de materiais, medicamentos, órtese, próteses e materiais especiais, executando mais de R$ 70.856.927,16, valor superior a 2017 que foram gastos R$ 63.476.890,10. 

A Secretaria informa ainda que 2018 foi um ano atípico com grande instabilidade político administrativa, diversas licitações deram desertas, obrigando a Secretaria a republicar os processos de compra causando um tempo maior de espera para as aquisições. 

A finalização de alguns processos licitatórios só ocorreu em janeiro/2019 e os fornecedores estão dentro do prazo legal para entrega dos produtos.

A Secretaria ressalta que nenhum óbito foi confirmado por falta de algum medicamento, todas as denúncias serão investigadas."

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