<span style="font-size:14px;">O procurador argentino Natalio Alberto Nisman, que denunciou a presidente Cristina Kirchner na investigação do caso contra o atentado à Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), foi encontrado morto nesta madrugada em seu apartamento em Buenos Aires. Nisman, de 51 anos, apresentaria na manhã desta segunda-feira (19) a conclusão de sua denúncia contra a presidente. Segundo ele, Cristina teria encoberto o envolvimento de terroristas iranianos no ataque contra a Amia, num crime que permanece impune depois de 20 anos.<br /> <br /> As primeiras informações davam conta de que o corpo de Nisman foi encontrado com perfuração na cabeça, compatível com uma arma de pequeno calibre, em sua casa no bairro de Puerto Madero. Por volta das 5h10m, o Ministério da Segurança emitiu um comunicado confirmando a morte.<br /> <br /> Fontes judiciais revelaram ao jornal “La Nación” que no domingo à tarde a família tentou entrar em contato com Nisman, mas não conseguiu. Sua mãe foi até seu apartamento e bateu na porta. Não obtendo resposta, decidiu chamar um chaveiro. O corpo do procurador foi encontrado no banheiro, com uma pistola ao lado, que seria de sua propriedade.<br /> <br /> Pelo Twitter, líderes da oposição expressaram consternação. Quatro horas após a confirmação da morte, nenhum membro do governo havia se manifestado.<br /> <br /> A investigação ficou sob responsabilidade dos procuradores Manuel Arturo De Campos e de Viviana Fein. Falando a repórteres no local, Viviana disse que, no momento, não irá levantar hipótese.<br /> <br /> — Não posso dizer se foi suicídio ou não. Peço-lhes prudência — afirmou.<br /> <br /> O secretário-geral da presidência, Aníbal Fernández, disse lamentar a morte de Nisman, e afirmou que todo o trabalho feito por ele deve ser investigado.<br /> <br /> — É possível acostumar-se com qualquer coisa, mas não a morte. A notícia me deu deu um estrépito enorme.<br /> <br /> Nisman tinha duas filhas.<br /> <br /> <strong><u>ACUSAÇÕES</u></strong><br /> <br /> Na quinta-feira, o governo argentino pôs sob suspeita o promotor, um dia após ele denunciar a presidente. Em 1994, uma explosão contra a Amia deixou 85 mortos e provocou danos estruturais em outros nove edifícios no bairro Once.<br /> <br /> O chanceler Héctor Timerman, que também foi denunciado por Nisman, acusara o promotor de “investigar clandestinamente a presidente” em vez de se concentrar em investigar os suspeitos pelo atentado e de agir contrariado pelo afastamento de aliados seus da Secretaria de Inteligência argentina.<br /> <br /> Timerman não foi o único do governo a voltar a artilharia verbal contra Nisman. O ministro do Interior, Florencio Randazzo, disse que “só um pervertido” pode imaginar que a presidente tenha fechado um “pacto de impunidade” para ocultar a responsabilidade do Irã. O chefe de Gabinete de Cristina, Jorge Capitanich, disse que o promotor faz parte de uma conspiração de “membros do Poder Judiciário, grupos de mídia, corporações econômicas, setores de Inteligência nacionais e internacionais que buscam desestabilizar o governo permanentemente com sua atitude golpista”.<br /> <br /> Além de Cristina e Timerman, o promotor Nisman denunciou também o deputado Andrés Larroque, o líder sindical Luis D’Elia e o ativista Fernando Esteche. Eles teriam negociado com o Irã o fim das investigações em troca da venda de petróleo para diminuir o déficit energético argentino.<br /> <br /> Em maio de 2008, Nisman pediu a detenção do ex-presidente Carlos Menem e do ex-juiz Juan José Galeano. À época, ele mantinha uma relação considerada bastante amistosa com Cristina e seu marido, o então presidente Néstor Kirchner.</span><br />