Retaliação

Sindepol cita 'clara perseguição política' e lembra tempo dos 'coronéis' no Tocantins

O delegado liderava as investigações que miram aliados do governador Carlesse.

Por Agnaldo Araujo 3.266
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17/11/2018 09h04 - Atualizado há 5 anos
Governador Mauro Carlesse

Mais de 20 delegados e o sindicato da categoria, o Sindepol, repudiaram a dispensa de Bruno Boaventura da função comissionada de Delegado Regional de Araguaína, nesta sexta-feira (16). Ele comandava as investigações do escândalo do lixo hospitalar, que mira aliados do governador Mauro Carlesse (PHS).

Os delegados da 1ª Delegacia Regional de Polícia afirmaram que a dispensa foi sem fundamento e deixou clara a "perseguição política empregada pelo governo na tentativa de politização da Polícia Civil".

"A exoneração representa o retorno a tempos sombrios da história do Tocantins, quando 'coronéis' mandavam e desmandavam através de ações políticas arbitrárias", disseram.

Já o presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Estado do Tocantins (Sindepol/TO), Mozart Félix, afirmou que a dispensa do delegado "causa profundo espanto e preocupação com o futuro do Tocantins".

O sindicato citou que o Governo não apresentou motivo claro para a dispensa, lembrou as investigações desenvolvidos pelo delegado e concluiu: "Só nos resta deduzir que se trata de um ato de perseguição política face às investigações que vem sendo desencadeadas e isso não iremos permitir".

VEJA AS NOTAS

SINDEPOL

"O presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Estado do Tocantins (Sindepol/TO), Mozart Felix, no desempenho de suas atribuições estatutárias, vem a público repudiar a exoneração do Delegado Bruno Boaventura do cargo de Delegado Regional de Araguaína (TO), informado na tarde de hoje que, por vontade do governo do Tocantins, não continuará a exercer suas funções.

Desde junho de 2017, Bruno Boaventura exerceu o cargo de Delegado Regional, tendo prestado um excelente serviço à população de Araguaína e demais cidades que compõe a regional. A chegada de Bruno Boaventura e de outros 12 delegados em meados de 2017, somando forças aos que lá já estavam, revolucionou a segurança pública da região.

A população de Araguaína reconhece o trabalho desenvolvido pelo regional, pois antes a cidade era considerada uma das mais violentas do Tocantins e com o trabalho intensivo da Polícia Civil esses índices diminuíram. O combate à violência teve avanços com a realização de inúmeras prisões de traficantes, homicidas, ladrões de banco, entre outros. Vale ressaltar também que a Polícia Civil passou a atuar de forma mais incisiva no combate à corrupção.

É de conhecimento público o fato de que o irmão do deputado Olyntho Neto (PSBD) foi detido transportando uma mala com R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) no dia 01 de outubro de 2018, em Araguaína. Para tanto, Luiz Olinto Rotoli Garcia de Oliveira (irmão do deputado) utilizava uma caminhonete da Assembleia Legislativa do Tocantins e era escoltado por Policiais Militares que prestam serviços àquela Casa de Leis. Da mesma forma, todos sabem que, no dia 12 de novembro de 2018, uma equipe chefiada pelo Delegado Bruno Boaventura cumpriu mandado de busca e apreensão em imóveis que pertencem ao advogado e ex-juiz eleitoral, João Olinto Garcia de Oliveira (pai do deputado Olyntho Neto). Há ainda um mandado de prisão preventiva expedido em desfavor desse advogado.

No dia 14 de novembro deste ano, a Polícia Civil, por meio de sua Delegacia Especializada no Combate aos Crimes contra a Administração Pública (DRACMA), instaurou inquérito policial em desfavor a esse mesmo deputado estadual e líder de governo para investigar a utilização do carro e de servidores da Assembleia Legislativa no episódio da apreensão da mala com R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais).
Por fim, deixamos claro que a exoneração do Delegado Bruno Boaventura é algo que nos causa profundo espanto e preocupação com o futuro do Tocantins. Apesar de não estarem publicadas as razões do ato, sabemos que certamente não teriam ligação com os excelentes serviços prestados no cargo ou com o alto grau de satisfação da população de Araguaína com os resultados obtidos.

Assim, só nos resta deduzir que se trata de um ato de perseguição política face às investigações que vem sendo desencadeadas e isso não iremos permitir.

O Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Tocantins não admitirá tentativas de impedir o regular cumprimento do dever legal de seus filiados. Não é a primeira vez que verificamos a ocorrência de perseguição política por parte do Governo do Estado. Em agosto de 2018 protocolamos representação contra o Secretário Chefe da Casa Civil, Rolf Costa Vidal, por ato de improbidade administrativa, em razão dele não ter publicado no Diário Oficial ato do Delegado Geral de Polícia Civil que designava o Delegado Bruno Azevedo para desempenhar suas funções na Delegacia Especializada no Combate aos Crimes contra a Administração Pública (DRACMA).

A publicação do ato privativo do Delegado Geral da Polícia Civil foi retardada em mais de 2 meses e só ocorreu após o recebimento da representação por improbidade administrativa pela 9ª Promotoria de Justiça de Palmas, o que foi amplamente divulgado pela imprensa. Hoje o fato é objeto de apuração em procedimento do Ministério Público do Tocantins.

Novamente nos parece claro o desvio de finalidade do ato administrativo, que deveria sempre ser motivado pelo interesse público e, na realidade, tem a clara intenção de perseguir politicamente um delegado de polícia. Assim, REPUDIAMOS com veemência a exoneração do delegado Bruno Boaventura e tomaremos todas as medidas cabíveis contra este ato arbitrário e ilegal.

A Polícia Civil é uma Polícia de Estado, não do governo. O compromisso dos Delegados de Polícia Civil do Tocantins é com o cumprimento das leis, com a manutenção do Estado Democrático de Direito e as investigações serão sempre pautadas pelo combate aos crimes, não importando quem sejam seus autores. Em todo o país a sociedade clama por uma mudança profunda de paradigmas, por um rigoroso combate à corrupção que historicamente prejudica nosso povo em seus direitos mais básicos. A população do Tocantins pode contar com o trabalho de seus Delegados de Polícia Civil no cumprimento desta missão".

Palmas – TO, 16 de novembro de 2018.

Mozart M Macedo Felix

Presidente do SINDEPOL-TO

DELEGADOS

"Os Delegados de Polícia da 1ª Delegacia-Regional de Polícia vêm, através desta nota, REPUDIAR o ato do Governo do Estado do Tocantins de exonerar o Dr. Bruno Boaventura Mota do cargo de Delegado-Regional de Araguaína.

Apesar da ausência de fundamentação do ato de exoneração, camuflado numa dispensa coletiva e sorrateira que deixou todas as regionais de polícia sem responsáveis, resta clara a perseguição política empregada por este governo na tentativa de politização da Polícia Civil.

O fato de a exoneração do Chefe da Regional de Araguaína ter ocorrido logo após as recentes investigações envolvendo a família do deputado estadual Olyntho Neto (PSDB), líder do Governo na Assembleia Legislativa, relacionada ao armazenamento irregular de lixo hospitalar num galpão na cidade de Araguaína, demonstra a inequívoca ingerência política nas ações da Polícia Civil. Aliás, não custa lembrar recente evento ocorrido na última campanha eleitoral, quando a Polícia Civil realizou operação que resultou na apreensão de meio milhão de reais de origem suspeita em poder do irmão deputado estadual Olyntho Neto.

A exoneração do Dr. Bruno representa o retorno a tempos sombrios da história do Tocantins, quando “coronéis” mandavam e desmandavam através de ações políticas arbitrárias, sendo que admitir tais práticas seria ir à contramão do país, que vive um momento ímpar em sua história, vide o intenso combate à corrupção, com operações importantes como a Lava-Jato e outras.

Não podemos admitir isso! O Tocantins é nossa terra e a Polícia Civil continuará atuando incessantemente no combate à corrupção e a todas as formas de criminalidade.

Em apoio ao excelente trabalho de Dr. Bruno Boaventura, os delegados abaixo fazem o público compromisso de NÃO assumirem o cargo delegado-regional arbitrariamente retirado do honroso colega".

Araguaína, 17 de novembro de 2018.

Adriano de Aguiar Carvalho

Alexander Pereira da Costa

Amaury S. Marinho Júnior

Ana Maria Barros Varjal

Breno Eduardo Campos Alves

Charles Marcelo de Arruda

Cithia Miura Nakayama

Fellipe C. Ayres Pereira

Fernando Rizério Jayme

Guilherme Coutinho Torres

Gustavo Toledo Vaz de Mello

José Anchieta de M. Filho

José Rérisson Macedo Gomes

Luís Eduardo Amaral Freitas

Luís Gonzaga da Silva Neto

Maria Dinesitânia Rocha Cunha

Pedro Nunes Vieira Júnior

Romeu F. de Carvalho Filho

Sarah Lilian de Souza Rezende

Thiago Xavier de Faria Alves

Tobias Luiz Nunes de Souza

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