Descaso

Com escolas precárias, alunos assistem aula embaixo de pé de manga em comunidade no Tocantins

Comunidade criticou o descaso da Prefeitura de Arraias e do Governo do Estado.

Por Redação 1.257
Comentários (0)

14/03/2023 16h15 - Atualizado há 1 ano
Local onde fica os alunos quando chove.

O povo do Território Quilombola Kalunga do Mimoso, no município de Arraias (TO), denunciou a precariedade das estruturas que sediam as escolas municipal e estadual da comunidade. Os pais relatam uma série de problemas estruturais, que vão desde a falta de banheiro, superlotação da sala de aula e problemas no transporte escolar.  

Conforme relatado pela comunidade, a Escola Municipal Eveny da Paula e Souza, que atende cerca de 30 alunos da 1ª e 2ª fase do ensino fundamental, apresenta graves problemas estruturais e oferece risco à segurança dos membros escolares.

O prédio da escola não tem estrutura para acomodar o número de alunos, e, não tendo outra forma, parte desses alunos assistem às aulas debaixo de um pé de manga. E quando está chovendo, os mesmos assistem às aulas em uma casinha de palha, externa ao prédio da escola, cuja estrutura não é segura e corre risco de desabamento. 

A  referida escola foi criada há 30 anos e sua última reforma aconteceu há aproximadamente 5 anos. Há outra unidade escolar na comunidade, essa de responsabilidade do Governo do Tocantins, que atende alunos do ensino médio, e que se encontra nas mesmas condições de estrutura e precariedade de recursos mínimos para funcionamento.

Outra reclamação é em relação à falta de banheiro nas escolas. Na Escola Eveny há apenas uma estrutura improvisada, com material de lona que também é usada pelos professores para tomar banho, e a conhecida ‘’casinha’’ que está em condições altamente precárias e corre risco de desabamento.

Em relação ao ambiente interno das salas de aula, há baixa iluminação por falta de lâmpadas e paredes cheias de mofo; o teto, sem forro ou laje, apresenta goteiras e calor excessivo nos períodos de maior intensidade solar, além de o telhado estar com desnível. Além disso, faltam materiais básicos como pincéis, livros, canetas, internet e computadores.

Precariedade no Transporte Escolar

Os pais relataram ainda as dificuldades enfrentadas com o transporte escolar. Os veículos estão frequentemente quebrados e os alunos passam vários dias sem frequentar as aulas. Exemplo disso aconteceu nesta semana, segundo a denúncia.

Conforme o relato dos pais, devido ao problema, os alunos da rede estadual que moram na região das cabeceiras do Mimoso ficaram quatro dias, de 07 a 10 de março, sem frequentar a escola.  

O mesmo aconteceu recentemente com os alunos da rede municipal. O transporte ficou praticamente uma semana sem funcionar por falta de manutenção. Outra dificuldade é em relação às estradas, que durante o período chuvoso, os buracos dificultam que esses veículos busquem alunos de algumas regiões do território quilombola. Devido a esse fator, uma aluna de 5 anos não vai à escola há 15 dias. 

Demandas não atendidas 

Em 25 de abril de 2022, a Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) protocolou uma representação na Promotoria de Justiça na Comarca de Arraias em que denunciava a precariedade das escolas municipal e estadual do território quilombola Kalunga do Mimoso. Porém, segundo a denúncia, o Ministério Público não deu nenhum encaminhamento à representação feita há quase um ano. 

Em face desse conjunto de problemas estruturais, uma das principais reivindicações da comunidade à Prefeitura de Arraias e ao Governo do Estado do Tocantins é a conclusão de uma unidade escolar, chamada "Escola Polo", na Região do Núcleo Matas, que teria estrutura para atender todos os alunos da comunidade, porém, a obra, iniciada há mais de 12 anos, ainda não foi finalizada.  

Conforme o presidente da Associação da Comunidade Quilombola Kalunga do Mimoso, Edi Soares de Sousa, a comunidade vem tentando diálogo com o município desde 2019, porém, há resistência em resolver a situação. Ele disse ainda que, após a denúncia, o MPTO realizou uma visita à comunidade, mas a situação ainda continua a mesma.

Eu já estudei naquela escola há muitos anos, e ela continua do mesmo jeito de quando eu estudei lá. O que nós queremos é que a prefeitura reforme a estrutura, pois é um prédio antigo. Também queremos que seja entregue a Escola Polo, que teria capacidade para acomodar todos os alunos, com conforto”, enfatizou Edi Soares. 

Diante da precarização da oferta de educação para crianças e adolescentes no território Quilombola Kalunga do Mimoso, a COEQTO pede intervenção imediata do Ministério Público para responsabilizar a Prefeitura de Arraias e o Governo do Estado. A entidade também criticou a negligência do poder público diante dessa violação ao direito constitucional à educação, o que caracteriza na visão da comunidade uma espécie de "racismo institucional". 

Árvore onde parte dos alunos ficam para assistir as aulas.
Local para banho dos alunos.

Comentários (0)

Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.

(63) 3415-2769
Copyright © 2011 - 2024 AF. Todos os direitos reservados.