'Palavras de um sabiá'

Em poesia, universitárias de Araguaína retratam drama de um sabiá para viver em meio ao fogo

Elas cursam Letras na UFT em Araguaína e apresentaram a poesia como atividade da disciplina de educação ambiental.

Por Redação 2.623
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26/08/2019 10h42 - Atualizado há 4 anos
Autoras da poesia

As acadêmicas Ana Karolliny Araújo Freitas e Elisama Castro de Oliveira expressaram revolta com as constantes queimadas registradas nessa época do ano no Tocantins e em outras partes do Brasil através de uma poesia de cordel.

As jovem cursam Letras na Universidade Federal do Tocantins (UFT), em Araguaína, e apresentaram a poesia como atividade da disciplina de educação ambiental, que é ministrada pela professora Danielle Mastelari.

Na poesia, um sabiá relata sua luta e de outros animais para sobreviverem ao fogo. A narrativa é carregada de sentimentos e leva o leitor a refletir sobre o impacto que as queimadas causam na vida dos animais e ao meio ambiente.

POESIA COMPLETA

 

Palavras de um sabiá

Um certo dia escutei

No falar de um sabiá

As imagens que ele vira

Quando estava a voar

 

Fiquei emocionada

Ao ouvir a sua história

Ele era tão preciso

Tinha vida em suas memórias

 

Era mês de agosto

Quando tudo aconteceu

O pé de cega-machado

Pela primeira vez floresceu

 

Um lindo pé de ipê

Estava tão amarelo

Só tinha algumas folhas

O que o tornava ainda mais belo

 

A flora do cerrado

Estava muito colorida

Flor de todas as cores

Davam beleza a vista

 

Um tom alaranjado

Tomou conta da floresta

Movimentou a bicharada

Só que não estavam em festa

 

Se moviam pra todo lado

Estavam todos correndo

Era grande o desespero

Por vê tudo em chamas ardendo

 

A dor não era só física

Porque viam seu lar queimando

Viam toda sua história

E fauna e flora se acabando

 

O pé de cega-machado

O machado não cegou

Foram tantas as chamas

Que sua força vital consumou

 

Naquela tarde as chamas

Tudo quis devorar

O pé de ipê amarelo

Nuca mais florescerá

 

O colorido das flores

Pela as chamas foi consumido

Toda a paleta de cores

Em cinzas foi reduzido

 

O vermelho e amarelo

Trabalhavam em dueto

Reduziam tudo a nada

Pintando tudo em tom de preto

 

Nessa hora eu percebi

Que ele estava a chorar

Lembrando de todas as árvores

Que um dia pôde pousar

 

Uma família de capivaras

Que morava logo ali

Vendo tudo se queimando

Precisaram pra água fugir

 

O fogo engolia tudo

Nada pensava em poupar

Estava mais que faminto

Queria tudo devorar

 

O sabiá contou mais

Sobre o acontecido

Estava em desespero

Por vê seu tudo perdido

 

Estava tão infeliz

Pelo que tinha se passado

Seu coração estava partido

Por pouco tinha escapado

 

Só restam agora lembranças

Do que outrora existiu

A morte da inocência

Pela ganância sucumbiu

 

O sol perdeu o brilho

O céu escureceu

A lua mudou de cor

A natureza se enfureceu

 

As consequências desses atos

Aos montes tem aparecido

E todos irão sofrer

Com a ira dos ofendidos

 

O chão começou tremer

O sol mais quente que o normal

A natureza desregulada

Será este o final?

 

O gelo derretendo

Nada está como era antes

A água também sente

Com a poluição constante

 

A terra que tinha palmeiras

Hoje já não tem mais

As aves que gorgeavam

Agora clamam por paz

 

O sabiá soluçava

Era triste de se vê

Seu mundo estava caindo

Tudo estava a perecer

 

Naquela situação

Tudo tinha importância

Se tivesse uma folha verde

Poderia ter esperança

 

O pássaro estava cansado

Sem forças até pra voar

Seu ninho tinha queimado

Onde ele iria morar?

 

Peguei o pássaro no colo

E senti seu coração

Refleti naquele momento

Com tamanha emoção

 

Vendo aquele pequeno

Totalmente indefeso

Meu coração pulsou de dor

Tive um grande desejo

 

Queria mudar tudo

Para isso não mais acontecer

Trazer a floresta de volta

Nenhum animal vê morrer

 

A mensagem do sabiá

Jamais será esquecida

Lembrarei de suas palavras

E do seu canto de vida

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