Alberto Rocha - Jornalista São 15 horas da tarde. Portão trancado e uma rua deserta. No interior da residência, um silêncio ensurdecedor. O tempo parece não passar. Não é para menos. Lá dentro há uma família em desespero, assustada, refém do medo e da incerteza do que poderá acontecer. Toco a campainha e uma voz desconfiada e meio trêmula pergunta: quem é? Identifico-me e logo o portão se abre. Lá dentro está Silvania Bessa, a mulher que resolveu colocar fim a um suposto esquema de venda de casas populares destinadas às famílias de áreas de risco, em Araguaína. Dos olhos da Silvania salta o desespero. É como se pedisse socorro. Inicio a conversa, mas nem ela, nem familiares querem mais conversar sobre o assunto. Insisto, e Silvania Bessa, a assistente social que denunciou um dos mais estarrecedores e supostos esquemas de corrupção do Município, acaba concordando em dar uma entrevista. Confira.
Alberto Rocha- Quem é Silvania Bessa?
Silvania Bessa-
Uma mulher, uma mãe, filha, uma pessoa que já teve vários erros e acertos na vida, mas que agora busca paz. Alberto Rocha - Como era sua relação com as pessoas por onde a senhora já trabalhou?
SB -
De confiança, amizade e respeito. Quando as pessoas buscam ajuda é porque precisam. Sempre procurei ajudar as pessoas; parte da minha vida foi trabalhar ajudando os outros, sempre foi assim e vou continuar fazendo isso. Alberto Rocha - Por que escolheu a área de Assistência Social?
SB - Desde os meus 14 anos de idade eu já me identificava com essa profissão; sempre tive o sonho de ajudar os menos favorecidos. Alberto Rocha - A senhora tem noção de quantas pessoas já ajudou?
SB - Quando ajudo a alguém não me preocupa contar quantos foram, apenas ajudo. Mas eu já tive a oportunidade de ajudar muita gente por onde passei, mesmo antes de ser assistente social. Alberto Rocha - Quando essas pessoas que a senhora ajudou a encontram, o que elas dizem?
SB - Elas me abraçam e agradecem. Isso me deixa feliz, é a melhor recompensa que posso ter. Alberto Rocha -Por que a senhora resolveu denunciar a venda de casas populares?
SB - Pelo medo, pela angústia que eu estava vivendo, pela falta de paz. Alberto Rocha – Sua consciência estava pesada por participar desse esquema de corrupção?
SB - Pesada e comprometida. Alberto Rocha - É mais fácil entrar ou sair de um esquema desse?
SB - As facilidades são amplas para quem quer fazer coisas erradas. Entrar é fácil, sair é difícil, pois você se acostuma. O erro sempre atrai os honestos. Alberto Rocha - Depois das denúncias, o que mais lhe incomoda?
SB - O medo de morrer, de olhar nos olhos dos meus filhos, medo do que poderá me acontecer. O medo está tão presente que parece me tocar a todo instante. Convivo com o medo a todo instante, não durmo mais, não tenho paz. Alberto Rocha - Qual a extensão desse medo?
SB - Atinge a todos da minha família. Tenho medo de morrer e de que aconteça algo com pessoas ligadas a mim. Alberto Rocha - Então a senhora está acuada?
SB - Acuada, fechada e trancada, isolada, impossibilitada financeira e emocionalmente. Alberto Rocha - A quem a senhora atribuiria uma ação de vingança?
SB - Não quero citar nomes, mas eles estão implícitos nas denúncias que fiz. Houve uma quebra de confiança e de amizade muito forte. Tenho medo de morrer. Alberto Rocha - O que a senhora pretende fazer daqui para frente?
SB -
Eu sei que trabalhar aqui vai ser difícil, mas sinto vontade de ir embora, de sumir daqui, mas está nas mãos de Deus o meu destino. Alberto Rocha - Acha que tudo que a senhora já fez aqui pode ser esquecido?
SB - Infelizmente, as boas ações são pouco lembradas, mas eu sei que o que fiz de bom ninguém vai esquecer. Alberto Rocha - O que se ganha com o arrependimento?
SB - O arrependimento te dá uma segunda chance, de acertar, de continuar a vida de cabeça erguida, de respirar, de viver em paz e de seguir em frente sem tortura. Alberto Rocha - Por que a senhora procurou o advogado Paulo Roberto?
SB - Eu procurei um advogado para me defender, e ele me deu a segurança que eu procurava num profissional de advocacia. Trata-se de uma pessoa séria, competente e de referência nacional sobre o seu trabalho. Alberto Rocha - A senhora procurou o político ou o advogado?
SB - Procurei um profissional que pudesse me defender, tenho direito a isso. O Paulo Roberto foi a única pessoa que me recebeu com educação e profissionalismo, pois todas as portas estavam fechadas e ele me abraçou e ofereceu ajuda e eu aceitei. Ele é o advogado e eu sou a cliente. Agora, se ele é político, isso é uma decisão pessoal dele, e ele tem esse direito, pois trata-se de uma pessoa digna e respeitada na sociedade. Alberto Rocha - O gestor municipal chamou a senhora de estelionatária...
SB - Não me senti atingida com as palavras dele, pois ele sabe que eu não sou estelionatária. Quem quebrou a confiança dele não fui eu; quem tinha poder de decisão sobre as 200 casas não era eu. Acho que estelionatário é quem mente, quem promete e quem não cumpre. Alberto Rocha - A senhora está se referindo a alguém?
SB - Não. Estou apenas dando algumas características de uma pessoa estelionatária. Alberto Rocha - O que a senhora gostaria de dizer à sociedade araguainense?
SB - Eu cometi erros, mas muitas pessoas me conhecem e sabem do meu caráter e do meu profissionalismo. Eu pediria desculpas, de coração, a todas as pessoas que eu decepcionei. Mas estou disposta a recomeçar a minha vida numa outra direção, a da honestidade, como sempre fiz.