Banco Central

Indicação de Gabriel Galípolo à presidência do Banco Central: o que pensam os ex-dirigentes?

A questão da credibilidade de Gabriel Galípolo é um dos principais desafios.

Por Nicole Almeida
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29/08/2024 10h57 - Atualizado há 17 horas

A indicação de Gabriel Galípolo à presidência do Banco Central (BC), oficializada na quarta-feira (28), já era aguardada pelo mercado financeiro, principalmente devido aos recentes movimentos do governo. Atualmente, Galípolo ocupa o cargo de diretor de Política Monetária do BC, o que trouxe previsibilidade à sua escolha para o comando da instituição.

Expectativas dos ex-presidentes do Banco Central

Para Armínio Fraga, que foi presidente do BC de 1999 a 2002, a nomeação de Galípolo era esperada, mas ele ressalta que o mercado será extremamente vigilante quanto a possíveis mudanças na política monetária. Fraga destaca que o "desenho institucional" do Banco Central exige rigor e responsabilidade. "Minha expectativa e torcida são para que o presidente do BC cumpra seu papel, mas minha principal preocupação é com a falta de responsabilidade fiscal", afirmou.

Já Luiz Fernando Figueiredo, que ocupou a direção de Política Monetária do BC entre 1999 e 2003, vê a indicação de Galípolo com bons olhos, embora acredite que o novo presidente terá que trabalhar arduamente para ganhar credibilidade. Segundo Figueiredo, os discursos de Galípolo têm sido "duros e firmes", o que pode gerar uma reação positiva no mercado. No entanto, ele adverte que será necessário tomar decisões técnicas consistentes nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

Desafios e incertezas na liderança do Banco Central

A continuidade das reformas e da agenda de competitividade do sistema financeiro é outro ponto de atenção. Figueiredo menciona que essa foi uma pauta forte sob a liderança de Roberto Campos Neto, o atual presidente do BC, e expressa preocupação sobre a manutenção dessa agenda. "A dúvida que eu tenho é se essa agenda continuará firme. Ela é tão relevante que colocou o Brasil na vanguarda", acrescentou.

Tony Volpon, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, também comentou a nomeação de Galípolo, destacando que, apesar de não ser uma surpresa, a escolha não é óbvia devido à experiência acadêmica, profissional e à idade do indicado. Volpon sublinha que o fato de Galípolo ter passado um ano na diretoria de política monetária do BC é positivo, pois isso lhe conferiu experiência prática. No entanto, ele também aponta para um "déficit de credibilidade" devido à sua identificação com o atual governo, que criticou decisões recentes do BC.

A questão da credibilidade e a influência do governo

A questão da credibilidade de Gabriel Galípolo é um dos principais desafios que ele enfrentará como presidente do Banco Central. Segundo Volpon, será crucial que Galípolo demonstre independência e compromisso com o sistema de metas, mesmo sendo visto como uma figura próxima ao governo. "Galípolo vai ter que comprovar, independentemente de ser o ‘menino de ouro’ do governo, que vai atuar de forma técnica", afirmou Volpon.

Alexandre Schwartsman, outro ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, enfatiza a importância de liderança e autonomia no cargo. Ele reconhece que Galípolo terá o apoio de um staff competente, mas alerta que depender exclusivamente da equipe para tomar decisões pode ser problemático. "Um cara que depende do staff para tomar decisão, vai ter problema. Tem que ter condições de liderar, de conduzir o board", observou Schwartsman.

O futuro do Banco Central sob nova liderança

A antecipação da indicação de Galípolo em quatro meses, antes do término do mandato de Roberto Campos Neto, também gera discussões sobre a dinâmica interna do Banco Central. Como será a convivência entre os dois até a transição oficial? E como Galípolo pretende lidar com as expectativas desancoradas, a pressão cambial e a situação fiscal do país? A resposta a essas perguntas será crucial para o futuro da política monetária no Brasil.

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