Clodomir Barbosa

Sobre extinção de cargos no Tribunal de Justiça, escrivão diz: 'pé na esperança e outro na cova'

"Hoje, assombrosamente, vivemos a escalada do assédio moral", escreve.

Por Clodomir Barbosa Chaves
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24/10/2019 07h55 - Atualizado há 4 anos
Tribunal de Justiça do Tocantins

Ano que marca a ‘decadência’, a ‘extinção’ de alguns servidores do Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins. Já nos corredores dos fóruns fervilham de ‘cedidos e estagiários’.

É de lamentar o que vem ocorrendo nos Fóruns da Justiça do Estado. Servidores humilhados, ignorados, jogados para escanteio, como um bola murcha, depois de, aos pés experientes dos jogadores da vida, terem feitos muitos goasl (gols). Depois de terem trilhado o caminho da labuta, depois de terem se estafado de tanto trabalhar, porque não tinham os ‘cedidos, nem estagiários, tampouco substitutos’, agora se vêm abandonados, expurgados pelos seus companheiros (acabou o companheirismo dos servidores), e pelos seus chefes.

Voltemos aos anos 1990. Naquele tempo, os fóruns eram pobres, desprovidos de tecnologia. Eram abanados por ventiladores, que de longe, podia-se ouvir o seu barulho, tentando refrescar o calor escaldante do antigo norte goiano, hoje Tocantins. Quem queria ser cedido naquele tempo? NIGUÉM. Fóruns decadentes, não tinham ar-condicionado como hoje, não tinha o brilho que os fóruns têm hoje. Só tinha trabalho. Audiência, reuniões, Júri Popular, muitos Livros Cargas a serem preenchidos quando os autos saíam dos Cartórios.

Naquele tempo, servidor tinha valor, era escrivão, escrevente, secretário, era ‘faz tudo’. Até limpar chão, nos fóruns pobres do interior, era o servidor que limpava, pois não tínhamos empresas terceirizadas, que poderiam fazer o serviço. Tudo era difícil, porém, o servidor estava no batente, trabalhando e até comprando material, quando este faltava. Pois o Tribunal ficava looonge!, haja vista as estradas serem de terra, somente alguns trechos eram asfaltados. Para se chegar até Palmas, a capital, era um Deus nos acuda! Era o tempo do fax, das máquinas de datilografia, dos papéis carbonos, dos malotes via Correios. Era tempo de muito trabalho, porém gratificante, tínhamos o valor que nos era atribuído pelos companheiros de jornada, tínhamos o reconhecimento de nossos superiores. Mesmo com a precariedade do tempo passado, as audiências eram realizadas, os mandados judiciais eram cumpridos, as penhoras eram efetivadas, os arrestos arrestados e as prisões efetuadas. O tribunal nunca nos virou as costas, os companheiros de jornada nunca nos menosprezavam. Ganhávamos pouco. Era um pouco que se fazia muito.

Veio a década de 2010. Década da cobiça, da inveja e da perseguição. Década do PCCR. Vitória nossa, inveja para muitos. Hoje continuamos na labuta. Muita coisa mudou e para pior. Nossos líderes são perseguidos, nossa saúde minguou. Nossa esperança desvaneceu. O tribunal faz simpósios, palestras, caravanas sobre a saúde do servidor. Somente membros e servidores do próprio tribunal têm acesso a esse sistema para proteger a saúde do servidor. (Eu mesmo nunca tomei uma injeção sequer, patrocinada pelo T.J. e olha que meu problema de saúde é complexo...) Acho que o tribunal nem me conhece...

Hoje assombrosamente vivemos a escalada do assédio moral. Hoje se censura, se humilha e se isola. FAZ VERGONHA SER CONCURSADO HOJE, é como se fosse uma palavra feia e desonrosa a ser pronunciada.

Faz-se campanha contra o suicídio, contra a dengue e outras doenças. Tem o outubro rosa, o novembro azul. Só falta criar, o agosto ‘roxo’ porque nada se faz e o servidor fica roxo de raiva, roxo de vergonha, roxo de decepção, roxo de ver a mentira estampada no rosto de alguns, roxo da morte lenta ou súbita, associada ao assédio, ao bullying, às doenças, ao descaso e ao faz de conta que está tudo bem.

Por essas e outras muitos atiram, matam, suicidam...(sem apologoia). Enquanto isso o tribunal segue inabalável, seus dirigentes, seguem como se estivessem com véu sobre os olhos. Só se vê o que se quer e o que interessa. Enquanto isso o servidor segue com um pé na esperança e outro pé na cova.

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Clodomir Barbosa Chaves

Escrivão judicial em regime de extinção, só falta o meteoro cair...

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