Preocupante

Água de 87% dos municípios do Tocantins está contaminada por agrotóxicos, diz estudo

Muitos dos agrotóxicos estão associados a doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos.

Por Redação 12.308
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18/04/2019 15h32 - Atualizado há 5 anos
Agrotóxico em lavoura

Um estudo divulgado nesta semana pela Agência Pública mostrou que foi detectado agrotóxico na água de 121 dos 139 municípios do Tocantins, ou seja, quase 87% do total. Os dados alarmantes incluem Palmas, Araguaína e Gurupi, os três mais populosos do Estado.

A presença do 'coquetel' com a mistura de 27 pesticidas, muitos associados a doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos, colocou o Tocantins em 4º lugar no Brasil, atrás apenas de São Paulo, Paraná e Santa Catarina.

Os dados são referentes a 2014 e 2017. Nesse período, o coquetel foi encontrado na água de 1 em cada 4 cidades do Brasil.  Entre os locais com contaminação múltipla estão as capitais São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus, Curitiba, Porto Alegre, Campo Grande, Cuiabá, Florianópolis e Palmas.

Os dados são do Ministério da Saúde e foram obtidos e tratados em investigação conjunta da Repórter Brasil, da Agência Pública e da organização suíça Public Eye.

As informações são parte do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), que reúne os resultados de testes feitos pelas empresas de abastecimento.

Os números revelam que a contaminação da água está aumentando a passos largos e constantes. Em 2014, 75% dos testes detectaram agrotóxicos. Subiu para 84% em 2015 e foi para 88% em 2016, chegando a 92% em 2017. Nesse ritmo, em alguns anos, pode ficar difícil encontrar água sem agrotóxico nas torneiras do país.

Embora se trate de informação pública, os testes não são divulgados de forma compreensível para a população, deixando os brasileiros no escuro sobre os riscos que correm ao beber um copo d’água.

Entre os agrotóxicos encontrados em mais de 80% dos testes, há cinco classificados como “prováveis cancerígenos” pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos e seis apontados pela União Europeia como causadores de disfunções endócrinas, o que gera diversos problemas à saúde, como a puberdade precoce.

Do total de 27 pesticidas na água dos brasileiros, 21 estão proibidos na União Europeia devido aos riscos que oferecem à saúde e ao meio ambiente.

A falta de monitoramento também é um problema grave. Dos 5.570 municípios brasileiros, 2.931 não realizaram testes na sua água entre 2014 e 2017.

No Tocantins, apenas 18 municípios não foram pesquisados e, portanto, estão fora da lista de água contaminada. Em todos os outros 121 municípios do Estado o teste da água deu positivo. 

MUNICÍPIOS SEM DADOS

Araguatins

Axixá

Sítio Novo

Itaguatins

São Bento

Sampaio

Ananás

Cachoeirinha

Maurilândia

Angico

Darcinópolis

Santa Fé do Araguaia

Itacajá

Pedro Afonso

Chapada de Areia

Talismã

Lavandeira

Bom Jesus

O RISCO DAS PEQUENAS QUANTIDADES

Mesmo quando se olha a contaminação de cada agrotóxico isoladamente, o quadro preocupa. Dos 27 agrotóxicos monitorados, 20 são listados como altamente perigosos pela Pesticide Action Network, grupo que reúne centenas de organizações não governamentais que trabalham para monitorar os efeitos dos agrotóxicos.

Mas, aos olhos da lei brasileira, o problema é pequeno. Apenas 0,3% de todos os casos detectados de 2014 a 2017 ultrapassaram o nível considerado seguro para cada substância. Mesmo considerando os casos em que se monitora dez agrotóxicos proibidos no Brasil, são poucas as situações em que a presença deles na água soa o alarme.

E esse é o segundo alerta feito por parte dos pesquisadores: os limites individuais seriam permissivos. “Essa legislação está há mais de 10 anos sem revisão, é muito atraso do ponto de vista científico”, afirma a química Montagner. “É como usar uma TV antiga, pequena e preto e branco, quando você pode ter acesso a uma HD de alta definição”.

Ela se refere a pesquisas mais recentes sobre os riscos do consumo frequente e em quantidades menores, um tipo de contaminação que não gera reações imediatas. “Talvez certo agrotóxico na água não leve 15% da cidade para o hospital no mesmo dia. Mas o consumo contínuo gera efeitos crônicos ainda mais graves, como câncer, problemas na tireoide, hormonal ou neurológico”, alerta Montagner. “Já temos evidências científicas, mas a água contaminada continua sendo considerada como potável porque não se olha as quantidades menores”, afirma.

DE QUEM É A RESPONSABILIDADE?

Depois de contaminada, são poucos os tratamentos disponíveis para tirar o agrotóxico da água. “Alguns filtros são capazes de tirar alguns tipos de agrotóxicos, mas não há um que dê conta de todos esses”, afirma Melgarejo. “A água mineral vem de outras fontes, mas que são alimentadas pela água que corre na superfície, então eventualmente também serão contaminadas”.

O trabalho preventivo, ou seja, evitar que os agrotóxicos cheguem aos mananciais, deveria ser primordial, afirma Rubia Kuno, gerente da divisão de toxicologia humana e saúde ambiental da Cetesb. “O esforço deve ser na prevenção porque o sistema de tratamento convencional não é capaz de remover os agrotóxicos da água”, afirma.

É grande o debate sobre a complexidade em se enfrentar o problema, mas é difícil encontrar quem está assumindo a responsabilidade.

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