<span style="font-size:14px;">O cinema vem passando ao longo das últimas décadas por várias mudanças, seja no modo de produzir um filme, seja nos elementos técnicos (e tecnológicos), e seja no estabelecimento e desenvolvimento de roteiros e narrativas. Uma destas mudanças diz respeito ao cada vez mais inexistente uso daquela ideia maniqueísta de separar claramente o bem do mal. Víamos muito isso em filmes infantis, sobretudo os da Disney, onde detectávamos bem rapidamente quem seria o vilão e quem seria a mocinha da história. Algumas produções mais recentes buscaram então humanizar os vilões, ou então tornar mais reais os mocinhos, diminuindo aquele tom idealizado que eles sempre carregavam.<br /> <br /> Muitos achavam que Malévola – mais recente produção da Disney – e dirigido pelo estreante Robert Stromberg, iria elevar ao máximo esta perspectiva, principalmente pelos trailers que foram sendo jogados ao público durante todo este tempo de produção do projeto. Porém, quando terminamos de assistir ao filme, o que vimos é algo ainda mais surpreendente: o que a Disney fez foi simplesmente subverter totalmente esta ideia enraizada de que a personagem principal deste filme seria uma vilã má (com seus motivos, mas ainda assim, uma vilã) e tornou a Malévola de 2014 a grande heroína da história, o grande exemplo a ser seguido.<br /> <br /> Vamos entender melhor tudo isso: o filme é baseado no conto da Bela Adormecida e narra a história de Malévola, a linda Angelina Jolie, uma mulher que, movida pelo sentimento de vingança, coloca um feitiço em Aurora (a também linda Elle Fanning), a filha do rei; esse, um ex-amigo de infância de Malévola. No feitiço fica dito que Aurora, ao completar seus dezesseis anos, entrará em sono profundo e somente acordará se receber um beijo movido pelo amor verdadeiro. É esta basicamente a premissa de tudo o que vemos no filme.<br /> <br /> Acontece que esse dito sentimento de vingança que leva Malévola a colocar o feitiço em Aurora é bastante compreensível e decorrente da traição sofrida por ela pelo seu então melhor amigo, que viria a ser o Rei. Ainda assim, esse sentimento é anulado com o passar do tempo e com a convivência das duas, a ‘vilã’ e a ‘mocinha’. Elas passam a desenvolver uma relação muito mais amorosa que a desenvolvida entre Aurora e seu pai, ou entre Aurora e suas três tias fadas. E ainda, em todos os momentos da história – do início até o seu final, Malévola somente reage, nunca age por livre e espontânea vontade de fazer o mal.<br /> Sim, Angelina Jolie reina quase que exclusivamente no filme. Nota-se que desde o início, essa era a intenção, pois a quantidade de closes em seus lindos olhos é bastante significativa. Angelina ao menos faz a ida ao cinema valer a pena. Já o pouco que sobra fica para a bela Elle Fanning, uma das mais promissoras atrizes de sua geração e que transborda de beleza (e não me refiro à beleza física).<br /> <br /> Assim, entre defeitos e virtudes, Malévola se mostra como uma interessante experiência para a garotada, pois foge um pouco das tradicionais histórias infantis. Com uma bela fotografia e um trabalho visual chamativo, o filme acaba agradando aos olhos. No campo narrativo, bem, é sempre um prazer ver Angelina Jolie e Elle Fanning atuando, ainda mais juntas num mesmo filme. Isso e motivo suficiente para não se desesperar ao fim da história.</span>