Carlos Oliveira

Opinião | Esquerda perdeu o rumo após chegar ao Planalto e precisa se reinventar, por Carlos Oliveira

Depois de mais de uma década no Planalto, a esquerda volta a ser oposição e expôs sua fragilidade: a falta de rumo.

Por Carlos Oliveira 667
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13/07/2019 09h05 - Atualizado há 4 anos
Carlos Oliveira

Dizer que a esquerda perdeu o rumo é ao mesmo tempo afirmar que ela já teve um rumo. E teve sim, porém, em um passado “tão, tão distante” que precisa ser reencontrado, pois há muito tempo ela vaga sem rumo como se não soubesse para onde está indo.

Voltemos, um pouco, ao passado “tão, tão distante”. Década de 80, período de redemocratização, volta da pluralidade partidária e o sindicalismo como protagonista na luta dos trabalhadores. É neste contexto que surge a maioria dos partidos de esquerda com um rumo claro a seguir, sendo o trabalhador o centro de seu discurso.

Como a maioria da população é trabalhadora, muitos a acompanhou nesse rumo apresentado. O PT carregava o trabalhador no próprio nome (partido dos trabalhadores), logo foi o partido que mais cresceu nesse período, mas o PDT que também tinha o trabalhismo no nome e esteve sempre disputando com o PT o compartilhamento desse rumo, assim se consolida como o segundo maior partido de esquerda.

Em 2002 ela – a esquerda - consegue chegar ao seu rumo: o palácio do Planalto. Mas com a chegada ao Planalto, ela precisava ir além dos trabalhadores, afinal eles são a maioria, mas não são eles quem detém os meios de produção, logo não são os donos do dinheiro. Assim era preciso dialogar, também, com os “não trabalhadores”.

Em minha opinião, é aqui que o rumo começa a ser perdido. Com a habilidade de seu líder mor em “dialogar”, o PT consegue permanecer no poder por 14 anos e sai, justamente, porque seu líder mor não está mais no comando. Posso afirmar que o PT entrou no palácio do Planalto com um rumo definido e saiu completamente perdido.

Agora, depois de mais de uma década no Planalto, a esquerda volta a ser oposição, reduzida é claro, mas oposição. E no primeiro teste expôs sua fragilidade: a falta de rumo. Isso foi perceptível nesta quarta (10/07) durante a votação pela reforma da previdência quando os votos contrários à reforma foram, minguados, 131 votos. E para tentar esconder essa fragilidade ela - a esquerda - escolhe logo um culpado por essa “derrota”: Tábata Amaral, deputada federal pelo PDT/SP.

Nesta quinta (11/07) lendo a repercussão sobre a aprovação da reforma da presidência no primeiro turno na Câmara (é necessário mais uma votação antes de seguir para o Senado) me deparei com o ódio da esquerda contra Tábata Amaral, tanto nos comentários das notícias publicadas sobre o assunto quanto nas redes sociais.

Pela narrativa construída, parece que a Deputada é a única culpada pela reforma ter sido aprovada. Assim, todo o ódio da esquerda foi destilado contra ela hoje pelas redes sociais e também nos comentários nos portais de notícias.

Esse fato me trouxe à mente um trecho da música de Raul Seixas em que ele diz “é sempre mais fácil achar que a culpa é do outro”. Esse trecho da música reflete exatamente o que a esquerda tem vivido nos últimos anos, sempre achando que a culpa é do outro. Ela não é culpada por deixar o trabalhador em segundo plano, o outro, sim, que é culpado pelo golpe. Da mesma forma ela repete a máxima dizendo que não é culpada pela aprovação da reforma da Previdência e sim o outro (Tábata Amaral) por ter votado a favor.

Vejam: a reforma foi aprovada com o placar de 379 votos a favor e 131 contrários. Destes 379 votos, 19 foram da esquerda, sendo um voto (apenas 1) da Tábata e mais 7 do PDT, além de 11 do PSB. Fazendo um exercício mental, vamos supor que esses 19 votassem contra, ainda assim a reforma seria aprovada com 360 votos a favor. Neste caso, de quem seria a culpa hoje?

A culpa é da esquerda que se perdeu no caminho. E dela por não acompanhar as mudanças sociais pela qual a sociedade vem passando. É dela por não conseguir mais dialogar com o trabalhador. As tentativas de diálogos são feitas usando as mesmas técnicas de comunicação do século passado. Ela continua pensando em greve, passeata e organização sindical, desta forma o trabalhador tem fechado os ouvidos para a fala da esquerda e mesmo assim ela não tem buscado outras maneiras de se comunicar com esse trabalhador. Ela continua falando para si mesma. O caminho é olhar para si, assumir que perdeu o rumo e procurar acha-lo. E isso.

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Carlos Oliveira é publicitário, especialista em marketing digital e mestrando em comunicação e sociedade pela UFT.

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O texto não reflete, necessariamente, a opinião do AF Notícias.

Carlos Oliveira

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